Lisboa, 20 abril 1650 — 27 novembro 1715
Palavras-chave: astronomia, corografia, logaritmos, carta de latitudes crescidas.
DOI: https://doi.org/10.58277/FWSG6203
Nasceu em Lisboa e aí foi baptizado no dia 3 de Maio de 1650, sendo os seus progenitores António Carvalho e Ana da Costa. Diogo Barbosa Machado descreveu-o como portador de deficiências físicas ao mesmo tempo que louvou o seu espírito talentoso e dedicado ao estudo das ciências matemáticas desde a “primeira idade”. Nenhum dos seus biógrafos deu indicações mais detalhadas sobre os seus anos de formação escolar mas, a partir de uma dedicatória no seu primeiro livro, pode concluir-se que aprendeu as primeiras letras com o padre António Fernandes de Barros em Lisboa. Foi presbítero do hábito de São Pedro (clero secular).
No que diz respeito à produção bibliográfica, a sua primeira obra foi Via astronomica em dois volumes, publicados respectivamente em 1676 e 1677. Este foi primeiro impresso sobre o tema escrito em português, o que aliás é notado no prólogo. O propósito do autor foi o de oferecer um manual condensado de introdução ao estudo da astronomia (que inclusivamente apelida de “rainha das matemáticas”). Ao longo do texto são notórias influências da prática astronómica de uso de globos (celeste e terrestre) em voga em Inglaterra.
A Via astronómica não foi a sua obra mais profunda mas mostrou algumas das principais linhas orientadoras do seu trabalho, nomeadamente o uso frequente de ferramentas matemáticas contemporâneas. No primeiro volume, Carvalho da Costa começou por explicar conceitos astronómicos básicos para seguidamente resolver alguns problemas comuns, tais como a determinação da latitude do lugar, amplitudes ortiva e occídua, ascensão solar, hora do nascimento e ocaso estelares, duração do dia e noite, determinação da hora, etc. Numa segunda fase, fez um breve resumo de trigonometria plana e esférica e abordou a resolução de problemas de navegação astronómica. Digno de nota é o seu uso de logaritmos pois, tanto quanto é possível saber, esta foi a primeira vez que tal se registou num texto científico impresso em Portugal. Outra novidade (em textos impressos em Portugal) surgiu no capítulo sobre os “(…) principais Problemas de Navegação, e de como se achará a distância dos lugares” onde abordou o cálculo de tabelas de partes meridionais, base da construção da carta de Mercator. Fazendo uso de logaritmos e partes meridionais, seguiam-se problemas de determinação de latitude, rumo ou longitude sabendo outras duas quantidades, determinação de longitude por eclipses lunares e relógio de areia, além de combinações do tipo “determinação de relação entre dois lugares no globo”.
Em 1678, saiu dos prelos o seu Tratado compendioso da fabrica, e uzo dos relogios do sol, pequeno tratado que compôs enquanto ainda escrevia a Astronomia methodica. Como está patente no título, o autor resumiu a geometria e trigonometria necessárias à elaboração de relógios de sol. Depois abordou a construção prática e uso de alguns destes instrumentos.
Em 1683, publicou o livro Astronomia methodica. Segundo o autor, o “pequeno tratado” viria na sequência natural dos dois títulos anteriores. Este é um compêndio de astronomia posicional que se insere na tradição de teórica de planetas, actualizado com os métodos e procedimentos mais avançados da altura. Encontra-se dividido em três partes principais relativas às teorias do Sol, da Lua e dos outros planetas. Sem entrar na discussão sobre sistemas do mundo, Carvalho da Costa aborda a determinação dos mais importantes parâmetros astronómicos por métodos geométricos e aritméticos.
O Compendio geográfico, publicado em 1686, é uma publicação eminentemente prática sobre questões de geografia, hidrografia e cartografia. No prólogo, Carvalho da Costa mencionou a divisão do livro em três tratados “(…) o primeiro, da projecçam das Espheras em plano, fabrica dos Mappas, e construcçam das Cartas Hydrographicas: o segundo, Hydrographia dos mares com muitas questoens acerca desta materia necessarias para a Nautica: o terceiro, da Geographia, ou descripção das terras, com varias proposiçoens pertencentes a esta doutrina (…)”. Abundam os exemplos resolvidos com recurso ao globo e também o uso de logaritmos. Da mesma forma, continuou a revelar influências da obra de autores ingleses como Edward Wright ou Robert Hues e nacionais como Pedro Nunes. Como exemplo, no que diz respeito a projecções cartográficas voltou a referir o uso de partes meridionais e sua aplicação à projecção cartográfica de Mercator.
A obra que lhe granjeou mais reconhecimento público, ao mesmo tempo que lhe consumiu bastantes recursos financeiros e saúde, foi a Corografia Portugueza. Ao contrário dos seus trabalhos anteriores, trata-se de uma obra de descrição topográfica, histórica e genealógica publicada em três volumes entre 1706 e 1712. Tanto Barbosa Machado como Inocêncio Francisco da Silva apontaram que a Corografia Portugueza era deficitária em muitos aspectos, nomeadamente porque o autor confiou em dados falsos que lhe foram sendo facultados. Não obstante, a leitura da Dedicatória e Prólogo deixa antever que Carvalho da Costa teria perfeita noção das limitações da sua obra mas que tal não o impediu de querer dotar a nação de uma obra actualizada e de referência que pudesse estabelecer o ponto de partida para o futuro deste tipo de estudos. Teve segunda edição em 1868-1869 (na Typographia de Domingos Gonçalves Gouvea, em Braga).
Diogo Barbosa Machado também informou que Carvalho da Costa terá publicado uma série de Prognosticos(astrológicos) entre os anos de 1684 e 1701 adoptando um outro nome. Em relação a isto Inocêncio Francisco da Silva escreveu: “D’elles não vi algum até agora, nem sei mais que esta notícia”. O mesmo Barbosa Machado atribuiu-lhe a composição do manuscrito Tratado da reduçaõ Geometrica, e Esfera com outros tratados Mathematicos e o manuscrito Corografia Insulana, ou noticia Topographica de todas as Ilhas sogeitas a Portugal. Sobre estes dois títulos não se obtiveram mais notícias. De registar ainda a existência de um outro manuscrito anónimo intitulado Rellaçam das freguezias de todas as provincias, e comarcas do Reyno de Portugal e do Algarve conforme a Corografia Portugueza do Padre Antonio de Carvalho. Este último pertenceu a Sebastião José de Carvalho e Melo.
António Carvalho da Costa encontra-se sepultado no claustro do Convento do Carmo em Lisboa.
Obras
Via Astronómica. Primeira parte dividida em dous tratados. O Primeiro contèm a fabrica do Globo, e seus principais uzos: o Segundo a Trigonometria Plana, e Espherica: varios Problemas da Astronomia pertencentes á doutrina do primeiro Movel, e â Navegaçam. Lisboa: Francisco Villela, 1676.
Via Astronómica. Segunda parte distribuida em quatro tratados. O primeiro da Navegaçaõ, o segundo das Estrelas, o terceiro dos Eclypses da Lua, o quarto dos Eclypses do Sol. Lisboa: António Crasbeeck de Mello, 1677.
Tratado compendioso da fabrica, e uzo dos relogios do sol dividido em quatro secçoẽs: A primeira trata de algũs Problemas da Geometria practica necessários para a intelligencia, e construção dos Relogios: a segunda dos Relogios do Sol por regra e compasso, e por Trigonometria: a terceira de varios Relogios universais: a quarta dos Relogios do Sol delineados pelo Globo. Lisboa: Antonio Craesbeeck de Mello, 1678.
Astronomia methodica distribuida em tres Tratados. O primeiro da Theorica do Sol, o segundo da Theorica da Lua, o terceiro da Theorica dos Planetas menores. Lisboa: Francisco Vilella, 1683.
Compendio geographico distribuido em tres tratados, o primeiro, da projecçam das Espheras em plano, construcçam dos Mappas universaes, e particulares, e fabrica das Cartas Hydrographicas: o segundo da Hydrographia dos Mares: o terceiro da descripçam Geographica das terras, com varias proposiçoens pertencentes a esta matéria. Lisboa: João Galrão, 1686.
Corografia Portugueza, e discripçam Topografica do famoso Reyno de Portugal, com as noticias das fundações das Cidades, Villas, e Lugares, que contèm, Varões illustres, Genealogias das Familias Nobres, fundações de Conventos, Catalogos dos Bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edificios, e outras curiosas observações. Tomo I, Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1706; Tomo II, Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1708; Tomo III Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1712.
Tratado da reduçaõ Geometrica, e Esfera com outros tratados Mathematicos, (MS).
Corografia Insulana, ou noticia Topographica de todas as Ilhas sogeitas a Portugal, (MS)
Rellaçam das freguezias de todas as provincias, e comarcas do Reyno de Portugal e do Algarve conforme a Corografia Portugueza do Padre Antonio de Carvalho [Manuscrito] PBA 136.
Bibliografia sobre o biografado
Barbosa Machado, Diogo. Bibliotheca Lusitana. Tomo I. Coimbra: Atlântida Editora, 1965.
Francisco da Silva, Inocêncio. Diccionario Bibliographico Portuguez, Tomo I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1863.
Garção-Stockler, Francisco de Borja. Ensaio Histórico sobre a origem e progressos das Mathematicas em Portugal. Paris: P.N. Rougeron, 1819.
Almeida, Bruno. “A influência da obra de Pedro Nunes na náutica dos séculos XVI e XVII: um estudo de transmissão de conhecimento.” Dissertação de doutoramento, Universidade de Lisboa, 2011.