Vila Nova de Milfontes, 18 maio 1921 — Caparica, 3 janeiro 2010
Palavras-chave: Professor de Farmácia e Investigador, Actividade na Indústria Farmacêutica e no Laboratório da Polícia Científica, Ensino Superior e Educação, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Político.
DOI: https://doi.org/10.58277/COJT2034
Alberto José Nunes Ralha nasceu em Vila Nova de Milfontes, a 18 de Maio de 1921, sendo filho de Alberto Rodrigues Correia Ralha e Ana Assis Nunes Faísca Lamy Correia. Desde novo teve contacto com o mundo farmacêutico, pois o seu pai era dono de uma farmácia em Lisboa.
Em 1943, terminou a licenciatura em Farmácia na Universidade de Lisboa, com as mais altas classificações, tendo no ano seguinte sido contratado como segundo assistente da mesma Faculdade. Interrompeu esta actividade para aprofundar os seus conhecimentos nas ciências farmacêuticas, nas Universidades de Madrid (1944 a 1946), de Zurique (1946 a 1947) e de Basileia (1947 a 1949), como bolseiro do Instituto de Alta Cultura. Frequentou, igualmente, o Massachussets Institute of Technology (MIT) (1953). Em 1952, desempenhou as funções de primeiro assistente, tendo posteriormente regido a cadeira de química orgânica farmacêutica desta Faculdade.
Entretanto, Alberto Ralha casou-se com Isaura Xavier Ralha, de quem teve dois filhos: José Manuel Ralha e Maria Helena Ralha Simões.
Alberto Ralha exerceu a sua profissão de farmacêutico, tanto na área académica, como na área da indústria. Na área académica, enquanto investigador no campo da química orgânica farmacêutica, publicou diversos trabalhos científicos, sendo de destacar aqueles que desenvolveu no âmbito do “doseamento de hormonas esteróides, sobre o método calorimétrico para a dosagem da quelina” (quando em presença da visnagina ou do quelolglucósido) e, ainda, sobre as “sínteses acetilénicas”. No trabalho sobre os esteróides abordou as questões da estereoquímica e da nomenclatura, enquanto nos trabalhos sobre as sínteses acetilénicas, o investigador descreveu a “preparação do etinil-fenil-carbinol e do vinil-fenil-carbinol por hidrogenação catalítica parcial do primeiro”. É de destacar, igualmente, os trabalhos científicos que permitiram a “identificação da quelina” (furanocromona existente na planta Ammi visnaga L. (Lam.), a qual apresenta grande actividade farmacológica e terapêutica), e que serviu de base à sua candidatura ao título de professor agregado da Escola de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Em 1958, depois de ter pedido a dispensa do seu lugar na Universidade de Lisboa, deu uma série de lições para os alunos do Centro de Estudos Farmacológicos do Instituto de Alta Cultura.
Na área da indústria farmacêutica, Alberto Ralha desenvolveu um trabalho significativo no Laboratório Normal (posteriormente integrado na multinacional Ciba-Geigy), entre 1949 e 1970. Teve, igualmente, um papel relevante na direcção do Laboratório da Polícia Científica (LPC) da Polícia Judiciária, nomeadamente, como responsável pela criação e organização desse estabelecimento, entre 1957 e 1970. Durante este tempo, participou em diversas reuniões internacionais da União Internacional de Química Pura e Aplicada (como a XV realizada em Lisboa, em 1956), da Federação Internacional Farmacêutica, da Associação Internacional de Ciências Forenses e da Interpol, entre outras.
Refira-se que durante o desempenho destas actividades, na área farmacêutica, manteve um interesse profundo pelos assuntos relacionados com o ensino superior e a educação em Portugal. Assim, exerceu várias funções dentro deste âmbito, nomeadamente como membro do Conselho Consultivo de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian (1963 a 1974), e como colaborador da equipa piloto ligada ao Ministério da Educação (1965 a 1968). A este propósito, esteve no Reino Unido, onde estudou o modelo de organização das Universidades Britânicas, com a finalidade de o enquadrar na estrutura de ensino do nosso país. Foi também coordenador do Grupo Nacional de Inquérito ao Ensino Superior, em 1968. Posteriormente, Alberto Ralha dirigiu o secretariado da reforma educativa, tendo sido colaborador do Ministro da Educação Nacional, professor Veiga Simão. Em 1973, foi membro convidado do Conselho da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, tendo sido co-autor do Relatório sobre a Investigação Científica do Ensino Superior em Portugal. No período de 1973 a 1974, foi director-geral do Ensino Superior. Entre Março de 1984 e Dezembro de 1986, assume o cargo de presidente do Instituto Nacional de Investigação Científica, terminando a sua carreira no domínio da administração pública como presidente da Comissão Nacional do Programa para o Desenvolvimento Educativo, entre 1990 e 1994. Durante este tempo, participou como delegado nacional em várias reuniões da OCDE, nomeadamente em Nice (sobre desníveis tecnológicos), em Paris e Oslo (sobre preparação de gestores para a inovação em educação).
Entre 1980 e 1983, foi bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, tendo sido responsável pela reorganização e pelo elevar do prestígio desta Ordem e do exercício da profissão de farmacêutico. Por exemplo, procedeu à valorização da profissão de farmacêutico analista clínico, com a exigência do título de especialista para a direcção técnica dos laboratórios de análises clínicas, bem como, a exigência de um acordo para a prestação de serviços para os utentes do Serviço Nacional de Saúde.
Alberto Ralha desempenhou também um papel relevante na área política, tendo sido um dos fundadores, juntamente com Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, do Centro Democrático Social (CDS), em 1974. Na área política foi secretário de estado do Ensino Superior, no VIII Governo Constitucional, presidido por Pinto Balsemão, e Victor Crespo ministro da educação. Voltou a ocupar este cargo, no XI Governo Constitucional, com Cavaco Silva primeiro-ministro e Roberto Carneiro ministro da Educação.
Alberto José Ralha foi agraciado com a Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública e a Grã-Cruz de Mérito Civil de Espanha.
Alberto Ralha faleceu na Caparica, a 3 de Janeiro de 2010.
Obras
Alberto Ralha e Isaura Ralha. 1950. “Distribuição dos princípios activos da ammi visnaga L. (LAM.) (Furanocromonas) nas diferentes partes da planta”, XIII Congresso Luso-Espanhol para o progresso das Ciências.
Alberto Ralha. 1951. “Contribuição para o Estudo das Cromonas da Ammi Visnaga L.(Lam)”, Tese de Dissertação.
Alberto Ralha. 1951. “Sínteses acetilénicas”, Revista Portuguesa de Farmácia, 1(2):49.
Alberto Ralha. 1951. “Método colorimétrico para a dosagem da quelina quando em presença da visnagina ou do quelolglucósido”, Revista Portuguesa de Farmácia, I:96.
Alberto Ralha. 1952. “Os progressos da química farmacêutica orgânica”, Revista Portuguesa de Farmácia, 2:180.
Alberto Ralha. 1952. “Estiril derivados da norquelina e da norvisnagina”, Revista Portuguesa de Farmácia, 2:121.
Alberto Ralha. 1956. “A literatura da química orgânica”, Revista Portuguesa de Farmácia, 5.
Alberto Ralha, 1956. “XV Congresso Internacional de Química Pura e Aplicada. Lisboa-1956”, Revista Portuguesa de Farmácia, G:112.
Alberto Ralha. 1957. “Conferência”. O Farmacotécnico, 2.
Alberto Ralha. 1958. “Nova reacção específica para a identificação da quelina”, Actas XV Congresso Internacional Química Pura Aplicada, 1.
Alberto Ralha. 1959. “Esteróides”, Anais da Faculdade de Farmácia do Porto, 19.
Alberto Ralha e António Perquilhas Teixeira. 1959. “Contribuição para o esclarecimento da estrutura de visnagano”, Revista Portuguesa de Química, 1.
Alberto Ralha. 1967. A experiência Japonesa de polícia científica. Editorial Império.
Alberto Ralha. 1974. “Higher Education and professional careers in the future society”, Revista Portuguesa de Farmácia, 61.