Século XV-XVI
Palavras-chave: cartografia náutica, carta-portulano
DOI: https://doi.org/10.58277/QADE6751
Cartógrafo português do final do século XV, autor da mais antiga carta náutica portuguesa assinada e datada que chegou aos nossos dias (1492). Segundo o historiador da cartografia Armando Cortesão, Jorge de Aguiar era provavelmente o fidalgo e poeta português do mesmo nome, nascido em meados do século XV, que comandou uma armada de treze navios a caminho da Índia. Tendo zarpado de Lisboa em Abril de 1508, a bordo da nau capitânia S. João, esta naufragou nas águas das ilhas de Tristão da Cunha, ocorrência que foi registada no Livro das Armadas com uma imagem evocativa. Nada se sabe sobre a eventual experiência de Jorge de Aguiar como cartógrafo, e o facto de ter sido nomeado capitão-mor de uma Armada da Índia não significa que tivesse quaisquer conhecimentos no domínio da ciência náutica. Estes factos levaram o historiador Inácio Guerreiro, que sujeitou a hipótese de Cortesão a uma análise historiográfica mais profunda, a encará-la com alguma reserva.
A carta de Jorge de Aguiar é uma típica carta-portulano, quer na cobertura quer no modelo cartográfico, tendo sido ainda construída com base em rumos e distâncias. Junto à sua margem esquerda pode ler-se: “Iorge dagujar Me fez em Lixboa no anno dominus nostry Jhu Xpi de 1492”. Nela é representada a Europa, os arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde, e a costa ocidental de África até S. Jorge da Mina, no Golfo da Guiné. Tal como na carta náutica de Pedro Reinel construída no final do século XV, a parte da costa africana para sul da Serra Leoa foi desenhada no interior do continente. Este expediente é, porventura, justificado pelo facto de o cartógrafo ter copiado a maior parte da informação de um modelo desactualizado, em que este trecho de costa não figurava. Contudo, continua por explicar o facto de a linha de costa se interromper no Golfo da Guiné, numa data em que toda a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança era já conhecida dos portugueses. De acordo com o historiador Alfredo Pinheiro Marques, o facto de a decoração desta carta ser semelhante à da escola de Malhorca situa-a no período mais antigo da cartografia portuguesa, que Armando Cortesão designou por “escola do Infante”. O seu modelo cartográfico, cobertura geográfica e decoração exuberante sugerem que não foi concebida para ser utilizada em navegação.
Bibliografia sobre o bibliografado
Cortesão, Armando. History of Portuguese Cartography, Vol. 2, 212-16. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1971.
Gaspar, Joaquim Alves. “From the Portolan Chart of the Mediterranean to the Latitude Chart of the Atlantic: Cartographic Analysis and Modeling.” Tese de doutoramento, 89. Universidade Nova de Lisboa, 2010.
Guerreiro, Inácio. A carta náutica de Jorge de Aguiar de 1492. Lisboa: Academia de Marinha e Edições Inapa.Marques, Alfredo Pinheiro (1987), ‘Jorge de Aguiar, Carta de 1492’, in Cortesão, Armando e Mota, Avelino Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Vol. VI, 75-81. Edição fac-similada. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1992.