Campos, João Ferreira

Lisboa, 15 dezembro 1799 – ?,  9 Fevereiro 1869

Palavras-chave: Escola Politécnica, matemática, Instrução pública.

DOI: https://doi.org/10.58277/XZMW7469

João Ferreira Campos, bacharel em matemática pela Universidade de Coimbra, a sua vida profissional foi marcada pela docência em matemática e ciências navais. Revelando grande preocupação com a qualidade da instrução pública, participou na elaboração de propostas alternativas à Universidade de Coimbra.

De 1830 a 1837 assumiu o cargo de lente substituto da Academia Real de Marinha, sendo apenas possível precisar que, no ano letivo de 1836-1837, coadjuvou António Aloísio Jervis de Atouguia, lente proprietário do 1.º ano do Curso Mathematico. Nesse ano ensinavam-se aritmética, geometria, trigonometria plana e o seu uso prático e os princípios elementares da álgebra até às equações do segundo grau, inclusivamente. 

Em novembro de 1835 foi nomeado lente do recém-criado Instituto das Ciências Físicas e Matemáticas, uma escola central criada em Lisboa com o objectivo de providenciar instrução em ciências físicas e matemáticas, que se considerava ser deficiente por todo o país. Esse instituto compreendia cinco escolas especiais (Engenharia civil, Engenharia militar, Marinha, Pilotagem e Comércio) e o seu ensino distribuía-se por 24 cadeiras. Campos foi indicado para o lugar de lente substituto das 1.ª e 2.ª cadeiras (Aritmética universal e Geometria), da 3.ª (Mecânica dos sólidos e dos fluídos), da 4.ª (Astronomia esférica), da 5.ª (Mecânica Celeste) e da 16.ª (Navegação). Rodrigo da Fonseca Magalhães ocupava a pasta do Ministério do Reino. Polémicas levantadas pela Universidade de Coimbra, que pretendia conservar o monopólio do ensino superior no país, levaram à extinção desse estabelecimento em apenas um mês, sendo então ministro do Reino Mousinho de Albuquerque. Curiosamente, o mesmo homem que, na década de 1820, defendera a implantação do regime politécnico em Portugal – enviou de Paris para ser apreciado nas Cortes liberais portuguesas um projecto de instrução pública da sua autoria, Ideas sobre o estabelecimento da instrucção pública dedicadas á Nação portugueza e offerecidas a seus representantes (1823).

Tornou-se lente da Escola Politécnica aquando da sua fundação, em 1837, sendo nomeado lente substituto das cadeiras de matemática, as 1.ª (Aritmética, Álgebra elementar, Geometria sintética elementar, plana sólida e descritiva, introdução à Geometria algébrica e Trigonometria rectilínea e esférica), 2.ª (Álgebra transcendente, Geometria Analítica plana e a três dimensões; Cálculo Diferencial e Integral, e princípios dos cálculos das diferenças, variações e probabilidades), 3.ª (Mecânica e suas principais aplicações às máquinas, com especialidade às de vapor) e 4.ª (Astronomia e Geodesia). Em 1842 tornou-se lente proprietário da 1.ª cadeira, sucedendo a José Cordeiro Feio e em 1855 foi jubilado.

Enquanto lente da Escola Politécnica, e para uso dos seus alunos, compôs um compêndio de álgebra elementar, (Campos, 1848), seguindo-se duas edições, (Campos, 1855) e (Campos, 1864). A última é uma edição aumentada de dois capítulos.

Dos seus escritos destaca-se uma monografia sobre a instrução pública em Portugal, (Campos, 1859), onde comenta as tentativas de renovação pedagógica desde a revolução de 1820 até à implantação do regime liberal em 1834. Crítico do estado do ensino em Portugal, defende que a reputação de que gozava o país, em matéria de instrução, devia-se não tanto a um eficaz funcionamento das instituições de ensino, mas antes aos esforços isolados de alguns homens importantes. Denuncia a calamidade pública que representou a anulação da criação do Instituto das Ciências Físicas e Matemáticas e, fazendo parte da Sociedade dos Amigos das Letras, encetou um conjunto de iniciativas que culminaram na criação de uma escola de ensino superior alternativa à Universidade de Coimbra, a Escola Politécnica, em Lisboa.

Tornou-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa em novembro de 1850. A proposta para tal cargo foi apresentada pelo director da lasse de Ciências Exactas, Miguel Franzini, invocando como mérito do candidato apenas o cargo que ocupava, lente da 1.ª cadeira da Escola Politécnica, e a obra que havia composto. 

Casou com Emília de Roure Auffdiener e tiveram uma filha, Sophia de Roure Auffdiener de Oliveira Pimentel, 2.ª Viscondessa de Vila Maior, por casamento com Júlio Máximo de Oliveira Pimentel.

Ana Patrícia Martins

Obras 

Campos, João Ferreira. Apontamentos relativos à instrucção pública. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1859.

Campos, João Ferreira.  Lições de álgebra elementarPrincipios. Equações do 1º e 2º grau. Para instrucção dos alumnos da primeira cadeira da Escóla Polytechnica. Lisboa: Imprensa Nacional, 1848.

Campos, João Ferreira. Lições de álgebra elementar para instrucção dos alumnos da primeira cadeira da Escóla Polytechnica. Lisboa: Imprensa Nacional, 1855.

Campos, João Ferreira. Lições de álgebra elementar aprovadas pelo Conselho Geral de Instrucção Publica. Lisboa: Imprensa Nacional, 1864.