Lisboa, 16 janeiro 1895 — ca. 1963
Palavras-chave: baquelite, indústria de plásticos, indústria elétrica, condicionamento industrial.
DOI: https://doi.org/10.58277/ZJBI8189
João Cândido Barbosa Corsino era filho de João Cândido Corsino e de Maria dos Anjos Barbosa Corsino. Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico (IST) e, em 9 de Dezembro de 1927, tomou posse como 2º assistente das cadeiras de Construção de Máquinas Elétricas, passando a 1º assistente do quadro do IST quatro anos depois. Durante 20 anos, exerceu estas funções, tenho pedido a exoneração do cargo, em Novembro de 1948.
Além de docente do IST foi também empresário e uma figura central na história da indústria portuguesa. Introduziu em Portugal a indústria de componentes elétricos em matéria plástica, num período de incipiente industrialização, regulada pelo regime do condicionamento industrial, promulgado pelo Estado Novo. Instituído formalmente em 1931, este regime visava evitar a criação de novas indústrias, impedir a produção em excesso e limitar a concorrência entre as unidades industriais, no quadro da crise de consumo que então se verificava.
Corsino fundou em 1935, no Dafundo, a Sociedade Industrial de Produtos Elétricos (SIPE) que iniciou a sua atividade na produção de baquelite, o primeiro plástico totalmente sintético. A baquelite é resina moldável, insolúvel e infusível com boas propriedades elétricas e mecânicas, com potencialidades comerciais, que, de imediato, encontrou inúmeras aplicações, nomeadamente, nas indústrias elétrica, de telecomunicações e automóvel. O programa de fabrico da SIPE consistia na síntese de baquelite e sua transformação em componentes elétricos de baixa tensão e de outros artigos de uso corrente.
Segundo Corsino, a indústria de plásticos em Portugal poderia ter surgido mais cedo, em simultâneo com os países mais industrializados, não fosse o regime do condicionamento industrial: “Se a autorização para a introdução da indústria de plásticos, solicitada às instâncias oficiais tivesse sido concedida na devida altura e não cerca de nove anos depois de ser requerida”.
Os benefícios económicos obtidos da instalação da SIPE refletiram-se significativamente no sector elétrico, dadas as vantagens da baquelite sobre a porcelana, até então o material utilizado neste sector. No conjunto das atividades industriais portuguesas, a SIPE adquiriu uma posição de destaque, passando de pequena oficina instalada” no rés-do-chão de um edifício que não era de sua propriedade nem adequado a uma indústria” a um grande empreendimento, ocupando o lugar cimeiro na produção de componentes elétricos,” a primeira unidade do género então montada, não apenas em Portugal, mas na própria península ibérica.” Em 1955, a administração da SIPE adquiriu terrenos em Carcavelos para onde se transferiu com a fábrica, os escritórios e os armazéns, nascendo a atual Legrand.
Homem empreendedor, Corsino fundou também, em 1945, na Venda Nova, a fábrica J. B. Corsino, com o objetivo de se dedicar à exploração industrial e comercial de material elétrico e de matérias plásticas. A J. B. Corsino assumiu “um lugar de primeiro plano entre as empresas congéneres e afirma-se como uma das mais valiosas unidades fabris no quadro da economia nacional”. Destas fábricas saíam produtos intermédios que eram canalizados para transformação por outras indústrias (por exemplo construção civil).
O legado que deixou está associado à indústria nacional dos plásticos e à modernização do sector industrial.
Arquivo
Núcleo de Arquivo (NarQ) do Instituto Superior Técnico
Bibliografia sobre o biografado
Callapez, Maria Elvira. “A Origem da Indústria Transformadora de Plásticos em Portugal”. M. Sc diss., Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa, 1998.
Callapez, Maria Elvira. Os Plásticos em Portugal – A Origem da Indústria Transformadora. Lisboa: Editorial Estampa, 2000.