Gotha, 20 setembro 1886 — Wildbad (Schwarzwald), 20 maio 1971
Palavras-chave: Geografia, Portugal, Alemanha.
DOI: https://doi.org/10.58277/RJAO8025
Nascido numa família de professores, Lautensach estudou com os geógrafos Alexander Supan e Albrecht Penck. Em 1910 obteve formação em Geografia, Matemática, Física e Química, e tornou-se professor do ensino secundário. Procurou a habilitação para docência universitária através do estudo de um país pouco conhecido, seguindo a linha da geografia praticada na Alemanha. Escolheu Portugal por facilidades familiares e publicou a tese professoral sobre morfologia da costa portuguesa em 1928. Tornou-se professor nas Universidades de Giessen e de Greifswald e na Escola Superior Técnica de Estugarda, onde se aposentou em 1952.
Um dos primeiros trabalhos que publicou foi Estudo dos Glaciares da Serra da Estrela (1932, traduzindo estudo de 1929). Baseando-se em trabalho de campo, observação direta e carta 1:100 000, demonstrou que a glaciação não se estendeu pelas regiões periféricas. Determinou a extensão da glaciação na cordilheira durante o Wurm e analisou a ação morfológica dos gelos.
Em 1932 e 1937 Lautensach publicou Portugal auf Grund eigener Reisen und der Literatur (Portugal, baseado nas próprias viagens e bibliografia). Tratou-se da primeira geografia moderna do nosso país, com uma parte geral (1º volume) e outra regional (2º volume), resultando de quatro viagens à península ibérica entre 1927 e 1930. Cedo atraiu Orlando Ribeiro que a procurou traduzir e adaptar ainda nos 1940.
Em quase todos os aspetos foi obra pioneira, uma geografia que analisava os fenómenos no seu enquadramento e interdependência espacial. Começa por colocar “Portugal no Contexto Ibérico” assinalando a estabilidade das fronteiras e as similaridades com o oeste de Espanha e a Galiza. Aborda depois o mar e o litoral, da configuração da plataforma continental à biogeografia dos peixes. Dedica um capítulo à geomorfologia cujo conhecimento considera avançado. “As caraterísticas climáticas” dão conta dos tipos de tempo ao longo do ano com as situações meteorológicas dominantes. Em “Os rios e os processos de erosão” transmite as caraterísticas do perfil longitudinal relacionando-o com a Culminação Ibérica Principal. Destaca o papel das cheias invernais e as diferenças entre as regiões de xisto e granito relativamente ao modelado superficial. Passa depois à Geografia humana. “As bases históricas e psicossociais da Geografia humana de Portugal” dá conta da importância da tradição na vida social e em “A cobertura vegetal” conclui que as espécies e formações mediterrânicas substituem as europeias à medida que aumenta a seca estival, sendo bastante marcadas pela ocupação humana que as degradou. Segue-se “As florestas, as árvores cultivadas e os campos”, as Atividades económicas, a “Geografia da população” em que interpreta a densidade populacional e não esquece o peso dos movimentos migratórios e, finalmente, o “Povoamento, Toponímia e Circulação”. No segundo volume, expõe a sua divisão regional do país: Portugal setentrional, dividido em Fachada do Alto Portugal, Interior do Alto Portugal e Centro Litoral; e Portugal meridional, com baixo Portugal e Algarve. O limite entre as duas grandes partes do país é, grosseiramente, a cordilheira central estando a península de Setúbal inserida no Portugal setentrional. Infelizmente a barreira linguística e a publicação tardia da tradução (décadas de 1980/90) retiraram parte do impacto que esta obra merecia.
De modo a comparar as duas penínsulas subtropicais nos extremos da Eurásia, Lautensach fez o estudo da Coreia em Korea. Ein Landeskunde auf Grund eigener Reisen und der Literatur (1945). Explorou a então colónia japonesa dando conta das suas caraterísticas históricas e geográficas, a natureza e cultura tradicional, as suas regiões e do seu papel como colónia japonesa. Neste livro usou o mesmo subtítulo que no trabalho sobre Portugal, por opção metodológica.
Em 1964 publicou Iberische Halbinsel traduzida para castelhano três anos depois. Tratou-se de um livro equilibrado tanto em termos de componente física e humana como geral e regional, acompanhado por um Atlas temático.
Lautensach fez assim trabalho pioneiro em Portugal. A originalidade deste não escapou aos geógrafos peninsulares que o procuraram aproveitar. Infelizmente, a barreira linguística só foi ultrapassada tardiamente.
Obras
Lautensach, Hermann. Estudo dos Glaciares da Serra da Estrela, Coimbra: 1932.
Lautensach, Hermann. Portugal auf Grund eigener Reisen und der Literatur, Gotha: Justus Perthes, 1932-1937, 2 volumes. [Traduzido parcialmente em: Ribeiro, Orlando; Hermann Lautensach e Suzanne Daveau. Geografia de Portugal, Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1987-1991, 4 volumes.]
Lautensach, Hermann. Korea. Ein Landeskunde auf Grund eigener Reisen und der Literatur, Leipzig: K. F. Koehler Verlag, 1945.
Lautensach, Hermann. Iberische Halbinsel, München: Keysersche Verlagsbuchhandlung, 1964.
Bibliografia sobre o biografado
Ribeiro, Orlando. “Hermann Lautensach e a Geografia da Península Ibérica”, Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia, I (1), (1966), 125-128.
Ribeiro, Orlando. “Hermann Lautensach (1886-1971)”, Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia, VI (12), (1971), 161-163.
Ribeiro, Orlando. “A Geografia da Península Ibérica de Hermann Lautensach”, Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia, VI (12), (1971), 255-277. https://www.deutsche-biographie.de/gnd118570218.html#ndbcontent (consultado em março de 2017).