Torres Novas, 17 janeiro 1874 — Ceará, 16 dezembro 1943
Palavras-chave: Brotéria, Companhia de Jesus, lepidópteros, zoologia.
DOI: https://doi.org/10.58277/XIIM7384
Cândido de Azevedo Mendes, S.J. ingressou na Companhia de Jesus no dia 17 de setembro de 1888. Estudou Humanidades no Noviciado do Barro em Torres Vedras e no Colégio de São Francisco em Setúbal (1890–1893) e Filosofia e Ciências Naturais no Colégio de São Fiel em Louriçal do Campo (1893–1896). Entre 1896 e 1902, foi professor de Matemática, Física, Química e Ciências Naturais em São Fiel, onde fundou em 1902, com Joaquim da Silva Tavares, S.J. (1866–1931) e Carlos Zimmermann S. J. (1871–1950), a revista científica Brotéria: Sciencias Naturaes. Entre 1902 e 1906, estudou Teologia na Universidade Gregoriana em Roma, tendo sido ordenado sacerdote no ano de 1905. Em 1906, regressou a Portugal para terminar a sua formação na Companhia de Jesus. Esteve um ano no Noviciado do Barro e depois regressou a São Fiel como professor de Matemática, Física, Química e Ciências Naturais.
Azevedo Mendes foi um dos autores mais profícuos da Brotéria, tendo publicado ao longo da sua carreira 48 artigos. A maioria dos seus trabalhos incidiu sobre a identificação e classificação de novas espécies de lepidópteros em Portugal, Espanha, Moçambique, Angola e Roma. Entre 1902 e 1913, o jesuíta publicou na Brotéria os seus primeiros trabalhos de classificação sobre os lepidópteros da região de São Fiel. Para a conclusão desta obra, na qual descreveu mais de 800 espécies, contou com a colaboração de León de Joannis, S.J. (1843–1919) e Joseph de Joannis, S.J. (1864–1932), da Societé Entomologique de France, de José da Cruz Tavares, S.J. (1847–1916), reitor de São Fiel, e de Luís Alves Correia, S.J. (1862–1945). Enquanto os entomólogos franceses tinham ajudado na classificação de alguns espécimes, os jesuítas portugueses tinham auxiliado na captura de alguns lepidópteros diurnos e noturnos. Em 1904, fruto da correspondência com Azevedo Mendes sobre os lepidópteros de São Fiel, Joseph de Joannis descreveu na Brotéria um novo género de lepidópteros que, em homenagem ao jesuíta português, batizou de Mendesia. À primeira espécie descrita deste género (Mendesia echiella) viria a juntar-se em 1909 uma nova espécie, identificada e classificada por Azevedo Mendes como Mendesia joannisiella, em homenagem ao entomólogo francês. Depois de completar o catálogo da região de São Fiel, Azevedo Mendes estudou os lepidópteros de outras localidades onde os jesuítas portugueses se tinham estabelecido desde meados do século XIX, como Torres Vedras, Guimarães, Campolide e Vale do Rosal. Alguns dos espécimes coletados por Azevedo Mendes na região de São Fiel e em Torres Vedras encontram-se atualmente no Muséum National d’Histoire Naturelle em Paris, na coleção dos irmãos Joannis. Estes espécimes têm sido utilizados por diversos entomologistas na descrição e identificação de novas espécies de lepidópteros, tais como: Symnoca serrata Gozmány (1985), Pleurota gallicella Huemer & Luquet (1995) e Homoeosoma soaltheirellum Roesler (1965).
Após a expulsão dos jesuítas em 1910, as suas coleções de lepidópteros foram confiscadas pelo Governo Provisório da República Portuguesa e enviadas para a Universidade de Coimbra. Exilado em Salamanca, Azevedo Mendes ainda se empenhou em recuperá-las, mas não teve sucesso. Entre 1911 e 1913, publicou dois importantes opúsculos: A Brotéria no exílio e O Collegio de São Fiel: Resposta ao Relatório do Sr. Advogado José Ramos Preto. Centrados na expulsão republicana, estes textos pretendiam rebater as principais acusações sobre o ensino dos jesuítas em Portugal e ilustrar a indignação da comunidade científica nacional e internacional em relação ao destino das coleções científicas dos jesuítas portugueses. Enquanto esteve exilado, prosseguiu os seus trabalhos de taxonomia, tendo estudado, sobretudo, os lepidópteros de Espanha, Angola e Moçambique. Após a expulsão da Companhia de Jesus de Espanha em 1932, o governo de Manuel Azaña (1880–1940) confiscou as coleções que Azevedo Mendes tinha constituído ao longo de vinte anos de exílio. Enquanto as coleções confiscadas pelo República Portuguesa permanecem na secção de zoologia do museu da Universidade de Coimbra, as coleções confiscadas pelo governo espanhol acabaram por ser restituídas ao jesuíta, e encontram-se atualmente no Instituto Nun’Alvres, nas Caldas da Saúde, em Santo Tirso.
A Brotéria foi um veículo especialmente importante para a identificação, descrição e classificação de novas espécies de animais e plantas no início do século XX, não só em Portugal Continental, mas também no Brasil, na Madeira, nos Açores, em Moçambique e em Angola. Neste contexto, as missões dos jesuítas foram particularmente relevantes, dado que, além das tarefas oficiais que lhes tinham sido atribuídas, os missionários eram instruídos a recolher novos espécimes de animais e plantas que, por sua vez, deveriam ser enviados aos naturalistas para serem identificados e descritos. Um exemplo desta circulação de espécimes, envolve precisamente Cândido de Azevedo Mendes, o seu irmão João (1883–1940) e outros dois missionários jesuítas. Como resultado desta correspondência, Azevedo Mendes publicou uma lista contendo cerca de 180 espécies de lepidópteros presentes nos territórios das antigas missões lusitanas da Zambézia e de Angola.
Cândido de Azevedo Mendes pertenceu a várias sociedades científicas, entre as quais se destacavam a Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, da qual tinha sido sócio fundador, e a Società Entomologica Italiana. A partir de 1918, a sua atividade científica diminuiu significativamente, provavelmente por causa dos cargos de governo que desempenhou na Companhia de Jesus a partir dessa altura. Foi superior da residência de Tuy (1913–1917) e da casa de escritores de Pontevedra (1917–1919) e desempenhou ainda por duas vezes o cargo de provincial da Companhia de Jesus em Portugal (1919–1924; 1927–1933) e o cargo de vice-provincial dos jesuítas no Brasil Setentrional (1938–1942). Morreu no dia 16 de dezembro de 1943, em Baturité, Ceará, Brasil.
Obras
Mendes, Cândido de Azevedo. O Collegio de S.Fiel: Resposta ao Advogado Sr. José Ramos Preto. Madrid: López del Horno, 1911.
Mendes, Cândido de Azevedo. A Brotéria no exílio. Madrid: Imprenta Ibérica, 1913.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Lepidopteros de S. Fiel (Portugal).” Brotéria 1 (1902): 151–71; Brotéria 2 (1903): 41–80; Brotéria 3 (1904): 223–54; Brotéria 4 (1905): 166–77; Brotéria: Zoologia 10 (1912): 161–82; Brotéria: Zoologia 11 (1913): 15–44.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Lepidoptera africana.” Brotéria: Zoologia 10, (1912): 183–193.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Altera nova Mendesia ex Lusitania.” Brotéria: Zoologia 8 (1909): 65–67.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Lepidopteros romanos (Roma, Castelli Romani).” Brotéria: Zoologia 9 (1910): 132–133.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Lithocolletes et Nepitucale novae ex Lusitania.” Brotéria: Zoologia 9 (1910): 163–166.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Nepticula et Colephora novae ex Lusitania.” Brotéria: Zoologia 9 (1910): 102–104.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Contribuição para a fauna lepidopterica da Galliza e do Minho.” Brotéria: Zoologia 12, (1914): 61–75 e 204–208.
Mendes, Cândido de Azevedo. “Lepidopteros de Salamanca.” Brotéri: -Zoologia 13 (1915): 55–61; 16 (1918): 111–129.
Bibliografia sobre o biografado
Agenjo, Ramón. “Nota necrológica. R. P. Candido Mendes d’Azevedo, S.J. (1874–1943).” Graellsia 2 (1944): 53–59.
Corley, Martin. “The Lepidoptera collections of deceased Portuguese entomologists.” Entomologist’s Gazette 59 (2008): 145–171.
Carvalho, José Vaz de. “Cândido Azevedo Mendes.” In Diccionario Histórico de la Compañía de Jesús, vol. 3: 2618. Madrid e Roma: Universidade Pontificia Comillas, Institutum Historicum Societatis Iesu, 2001.
Franco, José Eduardo. “Cândido Mendes.” In Fé, Ciência, Cultura: Brotéria–100 anos, ed. Hermínio Rico e José Eduardo Franco, 147–148. Lisboa: Gradiva, 2003.Luisier, Afonso. “R.P. Cândido Azevedo Mendes (SJ).” Brotéria: Ciências Naturais 13 (1944): 43–48.