Pinheiro, António Xavier de Almeida (António Xavier d’Almeida)

Estremoz, 4 fevereiro 1845 – Lisboa, 13 janeiro 1898

Palavras-chave: caminhos-de-ferro, Companhia Nacional de Caminhos de Ferro, Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, marquês da Foz.

DOI: https://doi.org/10.58277/GRYE7252

António Xavier de Almeida Pinheiro foi um engenheiro português que contribuiu para o desenvolvimento da rede férrea nacional entre 1870 e 1890. Foi também dos primeiros engenheiros nacionais a assumir funções de direção em companhias ferroviárias privadas.

Em 1862, assentou praça na Armada, inscrevendo-se depois na Escola Politécnica de Lisboa e seguidamente no curso de Engenharia da Escola do Exército, que concluiu em 1871. Começou a trabalhar na Direção de Obras Públicas de Angra do Heroísmo em 1872.

Entre 1873 e 1883, esteve ligado ao sector ferroviário como funcionário do Ministério das Obras Públicas. Começou por trabalhar com Sousa Brandão no estudo da linha entre Abrantes e Monfortinho, sendo transferido em 1873 para os trabalhos de construção entre Porto de Rei e o Tua, na linha do Douro. A partir de 1879, estudou a linha entre Lisboa, São Martinho do Porto e Pombal. Em 1880, voltou ao vale do Tejo para fixar a diretriz da ferrovia entre as linhas do Leste e da Beira Alta. Ambos os projetos foram seguidos alguns anos depois com alterações, mas a sugestão de aplicar técnicos nacionais na sua construção pelo Estado foi desconsiderada (as linhas foram adjudicadas à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses). Em 1881, examinou a ligação das linhas da Beira Alta e do Douro em território português, solução que acabou por não ser seguida (as duas vias ligaram-se em terras espanholas). Em 1883, apresentou um estudo para uma linha pela margem esquerda do Tua, indo contra os projetos de Sousa Brandão pela margem direita. Seguidamente auxiliou o ministério nos processos burocráticos do concurso para adjudicação das linhas do Tua, Dão e Beira Baixa. Depois, foi nomeado fiscal do governo na construção da linha do Algarve (Beja-Faro).

Entretanto, fundou, em 1880, a Sociedade Consultiva e Industrial de Engenharia Civil, responsável, entre outras obras, pelo projeto de abastecimento de água a Cascais, cidade para cujo desenvolvimento urbano contribuiu.

A partir de 1884, empregou-se ao serviço do conde da Foz, o concessionário das linhas do Tua e do Dão (ramal de Viseu), e da companhia por ele formada, a Companhia Nacional de Caminhos Ferro. Os dois não eram desconhecidos, já que algumas empreitadas da linha do Algarve, fiscalizadas por Almeida Pinheiro, tinham sido entregues a Foz. A sua ligação estendeu-se mais tarde a outros empreendimentos, como por exemplo, a Companhia Monte Estoril, em 1888. Entre 1884 e 1892, foi engenheiro-diretor da Companhia Nacional e um técnico a quem Foz sistematicamente recorreu para questões ferroviárias. Geriu a construção e exploração das linhas (inauguradas, respetivamente, em 1887 e 1890), enfrentou dificuldades técnicas e financeiras e chegou a adiantar o seu próprio dinheiro e crédito para algumas obras.

Acumulou estas funções com uma curta carreira parlamentar nas fileiras do Partido Constituinte (1884–1887), intervindo contra o projeto do melhoramento do porto de Lisboa e noutros assuntos não-técnicos (contrato com o Comptoir d’Escompte ou reforma da Carta Constitucional).

Entretanto, casou, a 20 de setembro de 1886, com a sua prima Constança Marques Pinheiro com quem teve duas filhas (Antónia e Isabel).

Quando da inauguração do caminho de ferro do Dão (ramal de Viseu), foi agraciado com a comenda de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. O seu sucesso cimentou a sua relação com o já então marquês da Foz, que, em 1891, o convidou para a construção da linha da Beira Baixa (adjudicada à Companhia Real, de que Foz era presidente da direção). Almeida Pinheiro subcontratou a sua Sociedade Consultiva como consultora do projeto.

Todavia, os investimentos ferroviários do marquês revelaram-se ruinosos e Almeida Pinheiro assistiu à sua derrocada. Em 1892, saiu da Companhia Nacional quando esta já se encontrava em incumprimento. Chegou a ser nomeado diretor de Obras Públicas na Horta, mas não tomou posse. As fontes nada mais referem sobre a sua carreira a não ser para dar conta da sua morte em 1898, em Lisboa, desconhecendo-se o seu percurso entre esta data e a sua saída da Companhia Nacional.

Disciplinado, rigoroso, autonómico e aparatoso no comando, segundo o elogio fúnebre publicado em 1899, Almeida Pinheiro foi um dos primeiros engenheiros ferroviários nacionais a enveredar por uma carreira no sector ferroviário privado e a experimentar as agruras a que estes investimentos estavam mais sujeitos, tendo também ele próprio investido na constituição de empresas privadas de obras públicas.

Hugo Silveira Pereira

Arquivos

Lisboa, Acervo Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Processos Individuais, Cx. 130, António Xavier de Almeida Pinheiro, PT/AHMOP/PI/130/008.

Lisboa, Espólio família Correia Guedes.

Obras 

Pinheiro, António Xavier de Almeida. “Caminho de ferro da fronteira. Memoria descriptiva e justificativa.” Revista de Obras Publicas e Minas 15 (169–174) (1884): 44–64, 83–140 e 161–202 

Bibliografia sobre o biografado

Pereira, Hugo Silveira e José Manuel Lopes Cordeiro. “Protagonistas: Almeida Pinheiro, José Beça e Dinis Moreira da Mota.” In A linha do Tua (1851-2008), ed. Hugo Silveira Pereira, 132–150. Porto: EDP, Universidade do Minho e MIT Portugal Program, 2015.

Revista de Obras Publicas e Minas, 30 (349–350) (1899): 19–20.

Santos, Luís. Tristão Guedes de Queirós Correia Castelo Branco, 1º. Marquês da Foz: um capitalista português nos finais do século XIX. Porto: EDP, Universidade do Minho e MIT Portugal Program, 2014.

Rodrigues, Jorge Sousa. “António Xavier de Almeida Pinheiro (1845–1898).” In Dicionário Biográfico Parlamentar, ed. Maria Filomena Mónica, vol. 3, 300–301. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005–2006.