Gomes, Mário de Azevedo

Angra do Heroísmo, 22 dezembro 1885 – Lisboa, 12 dezembro 1965

Palavras-chave: agrónomo, professor universitário, político.

DOI: https://doi.org/10.58277/DCWB9977

Mário de Azevedo Gomes foi um agrónomo, professor universitário e político. 

Foi filho do comandante Manuel de Azevedo Gomes e de sua esposa Alice Hensler. Do seu pai recebeu o exemplo de adesão à causa republicana embora este, apesar do seu claro republicanismo, se encontrasse bem relacionado com alguns setores da aristocracia e até com a Corte, pois chegou a ser oficial às ordens do rei D. Carlos. Pelo lado materno era neto da condessa de Edla, segunda mulher de D. Fernando II, viúvo da rainha D. Maria II. Um irmão do seu pai foi ministro da Marinha no Governo Provisório da República (1910–1911).

Fez o curso dos Liceus em colégios particulares e no antigo Liceu do Carmo, terminando-o em junho de 1902. Seguidamente, matriculou-se no Instituto de Agronomia e Veterinária, onde se formou em Agronomia em outubro de 1907, com a nota final de 17 valores, apresentando uma tese sobre a questão do açúcar.

Casou, em Sintra, com Cristina Leopoldina Sousa de Menezes Marcellin Chambica (1891–1982), com quem teve 7 filhos.

Entrou para o serviço do Estado e para o ensino público como preparador do Instituto Superior de Agronomia e Veterinária em 18 de janeiro de 1908. Daqui, passou, por aprovação em concurso de provas públicas, a professor da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra, mantendo-se em funções de 12 de novembro de 1909 até 12 de abril de 1914. Concorreu depois a um dos lugares de professor substituto do Instituto Superior de Agronomia, sendo dispensado pelo Conselho Escolar da prestação de provas. Foi nomeado para este novo cargo por decreto de 7 de março de 1914.

No ano letivo de 1914–1915 ingressou no ensino do Instituto, regendo primeiro o curso de Biologia Geral. Em fevereiro de 1915, foi nomeado professor catedrático de Silvicultura, cargo que ocupou, com interrupções, até a sua jubilação (de 1914 a 1946 e de 1951 a 1955).

Foi fundador e primeiro diretor da Estação Agrária Nacional (ingressou como chefe de secção em dezembro de 1917) e dirigiu os programas de extensão rural, então designados por instrução agrícola, entre 1919 e 1925. Exerceu por duas vezes as funções de chefe de repartição de instrução agrícola no Ministério da Instrução Pública. Fez parte, em representação, do Conselho Escolar e, por eleição, do Conselho de Ensino Agrícola. Foi encarregado pela Comissão Executiva da Conferência da Paz da elaboração de uma Memória acerca da situação económica da agricultura portuguesa. Foi nomeado, em 20 de outubro de 1919, diretor-geral da instrução agrícola no Ministério da Agricultura, passando, por efeitos da reforma dos serviços, a diretor-geral do ensino e fomento (cargo do qual foi exonerado, a seu pedido, em 5 de novembro de 1925). 

Foi vogal do Conselho Técnico Florestal (Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas). Entre dezembro de 1923 e fevereiro de 1924, foi ministro da Primeira República Portuguesa, integrando o executivo presidido por Álvaro de Castro. Foi responsável pelo Ministério da Agricultura. Pela primeira vez, os membros do grupo Seara Nova aceitaram participar no governo e logo com a responsabilidade de três pastas: a da Instrução Pública; a da Agricultura, oferecida num primeiro momento a Ezequiel de Campos; e a da Guerra, assumida por Ribeiro de Carvalho. Ezequiel de Campos, engenheiro com experiência de fomento nas colónias, não aceitou o convite. A pasta foi assumida por Azevedo Gomes, que trabalhou de forma muito próxima ao outro ministro seareiro, António Sérgio

Em dezembro de 1925, foi nomeado chefe da secção de estudos da Estação Agrária Nacional. Passados dois anos, em janeiro de 1928, foi nomeado diretor delegado da mesma Estação, lugar em que se manteve até extinção da instituição. Foi vogal do Conselho Superior de Agricultura, como delegado da Sociedade de Ciências Agronómicas. Fez parte da Comissão encarregada de elaborar o projeto da arborização da serra de Monsanto e regiões limítrofes. Fez parte da Comissão Portuguesa da Organização Científica do Trabalho Agrícola. Representou o país na Assembleia-Geral do Instituto Internacional de Agricultura em Roma (junho de 1926) e na Conferência Económica Luso-Espanhola, em Lisboa (1928). Representou o Instituto no Congresso Internacional de Silvicultura em Roma (junho de 1926).

Após o golpe de estado de 28 de maio de 1926, aderiu à oposição democrática, sendo uma das figuras mais ilustres da oposição antissalazarista. Foi colaborador da Seara Nova até 1940 e membro da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática (MUD), à qual presidiu. Em 1946, foi-lhe instaurado um processo disciplinar por ter redigido um manifesto crítico sobre o posicionamento de Portugal face à Organização das Nações Unidas, de que resultou a sua demissão do lugar de professor da Universidade Técnica de Lisboa, sendo readmitido em 1951.

Em 1948, já depois da extinção do MUD, presidiu à comissão central da candidatura à presidência da República do general Norton de Matos. Foi o primeiro subscritor do Programa para a Democratização da República (1961), um manifesto da oposição democrática assinado por outras figuras de grande prestígio nacional, entre as quais Jaime Cortesão. A participação no movimento oposicionista valeu-lhe a prisão em 1946, 1948 e 1958, por períodos que foram de um dia a um mês.

Foi consultor técnico da Companhia das Lezírias do Tejo e Sado. Prestou alguma assistência técnica a propriedades florestais particulares. Fez estudos para os Serviços Florestais na década de 1950 (monografia do Parque da Pena).

Colaborou na revista Lusitânia (1924-1927), no Portugal Agrícola, na Federação Agrícola, (órgão da Federação dos Sindicatos Agrícolas do Centro, de que foi diretor técnico), na Agros (desde a sua fundação em 1916–1917), na Gazeta das Aldeias (com crónicas mensais), na página agrícola d’O Século (que dirigiu), entre outros. Publicou vários artigos visando problemas de interesse nacionalno jornal República, sob o título comum de temas fundamentais. Foi colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

Ignacio García-Pereda

Obras

Gomes, Mário de Azevedo. A Utilidade das Árvores. Lisboa: Livraria Profissional, 1916.

Gomes, Mário de Azevedo. O comércio dos resinosos em Portugal. Lisboa: Seara Nova, 1934.

Gomes, Mário de Azevedo. Silvicultura. Lisboa: Sá da Costa, 1947.

Gomes, Mário de Azevedo. Monografia do Parque da Pena: Estudo Dendrológico-Florestal. . Lisboa: s. n., 1960.

Obras sobre o biografado

Baptista, Fernando de Oliveira. “Mário de Azevedo Gomes (1885-1965).” In Dicionario de História do Estado Novo, ed. Fernando Rosas, José Maria Brandão de Brito e Fernanda Rollo, vol I, 387-388. Lisboa: Círculo de Leitores, 1996. .

García-Pereda, Ignacio. Mário de Azevedo Gomes (1885-1965). Mestre da Silvicultura Portuguesa. Sintra: Parques de Sintra, 2011.