Lisboa, ca. 1588/1593 — Livorno, ca. 1662/1668
Palavras-chave: Astronomia, Astrologia, Messianismo, Cometas.
DOI: https://doi.org/10.58277/DJLL6341
Manuel Bocarro Francês alias Jacob Rosales teve um papel crucial na introdução de ideias cosmológicas de inspiração estóica em Portugal, tendo sido o primeiro autor a criticar, em obra impressa, a cosmologia aristotélica-ptolomaica neste país. Bocarro Francês foi, ainda, um destacado messiânico cujo livro Anacephaleoses da Monarquia Lusitana ficou célebre nos círculos sebastianistas. Nascido no seio de uma família cristã-nova proveniente do interior do país, Bocarro Francês realizou estudos filosóficos e médicos na Península Ibérica, partindo posteriormente para Itália e, mais tarde, para o Norte da Europa, onde assumiu publicamente o credo judaico, sob o nome de Jacob Rosales.
Filho do médico Fernão Bocarro, natural de Estremoz e autor de um Memorial de muita importância para o S. D. Filippe II, rey de Portugal … o como se ha de hacer contra sus inimigos, e de Guiomar Nunes que nascera na vila de Abrantes, Manuel Bocarro Francês nasceu em Lisboa, provavelmente em 1588 ou, talvez um pouco mais tarde, em 1593. A sua família de origem cristã-nova dedicava-se maioritariamente a atividades mercantis, ainda que alguns dos seus antepassados se tivessem destacado no serviço da Coroa. Segundo testemunho do próprio Bocarro nas primeiras páginas do seu Anacephaleoses da Monarquia Lusitana “teve meu avô João Bocarro, filho de António Bocarro, Capitão que foi de Safim, a meu pai só filho seu legítimo e teve muitos outros bastardos, que nesta cidade [de Lisboa] se fizeram muito ricos e tiranos, os quais aniquilando a honra dos Bocarros tomaram mercatins exercícios”. Tanto o seu avô paterno, João Bocarro, casado com Maria Fernandes, como o seu avô materno, de seu nome Manuel Francês e marido de Brites Lopes, eram mercadores. A atestar por alguns familiares seus, cujas atividades se conhecem em consequência das denúncias por práticas judaizantes e consequentes investigações realizadas por parte do tribunal da Inquisição de Lisboa, é provável que também eles estivessem ligados ao comércio entre Portugal e Espanha ou, mesmo, entre a Península Ibérica e a longínqua Índia ou Pernambuco, para onde irá viver, mais tarde, um primo de Manuel Bocarro, de seu nome Miguel Francês (alias David Francês), filho de Pero Francês.
Tal como seu pai, Manuel Bocarro seguirá a carreira das letras e da medicina. Após ter estudado no Colégio jesuíta de Santo Antão, em Lisboa, onde certamente fez a sua formação filosófica e onde ainda se encontrava em 1610, juntamente com o seu irmão António, Manuel Bocarro parte para Espanha com o objetivo de aí estudar medicina. Inscreve-se, primeiro, na Universidade de Alcalá de Henares, por onde se torna bacharel e, depois, na Universidade de Sigüenza, onde obtêm o grau de licenciado “com muito aplauso e aprovação”, como consta de um documento, passado em Janeiro de 1620, que autoriza Bocarro a exercer a prática médica em Portugal. Apesar de não haver qualquer referência neste documento, a tradição tem acrescentado a estas instituições espanholas, as universidades de Coimbra e de Montpellier, respectivamente, como academias onde Bocarro se teria licenciado e doutorado em medicina. A vida académica parece ter interessado, num primeiro momento, Manuel Bocarro, que declara perante a comissão que lhe avaliou o conhecimento médico, que, já bacharel, foi lente de cadeiras de substituição da faculdade de medicina e artes da Universidade de Alcalá de Henares.
Pouco depois do seu irmão António Bocarro partir para a Índia, onde virá a distinguir-se como cronista do Estado da Índia e como autor de Década 13 da História da Índia, escrita com o objetivo de continuar as famosas Décadas de Diogo do Couto, Manuel Bocarro já se encontra de regresso a Lisboa. Nesta cidade, observará os importantes cometas que cruzaram os céus em Novembro de 1618 e que estarão na origem da sua primeira obra astronómica, o Tratado dos Cometas que appareceram em Novembro passado de 1618, publicado em 1619 com uma dedicatória a D. Fernão Martins Mascarenhas, inquisidor-geral de Portugal. Este tratado é de nuclear importância pois apresenta a primeira crítica impressa às ideias cosmológicas da tradição aristotélica em Portugal. Nesta obra, Manuel Bocarro defende uma cosmologia de inspiração estóica, muito próxima da preconizada por Jerónimo Muñoz (c. 1520–c. 1591), professor de língua hebraica e matemática nas universidades de Valência e Salamanca. Manuel Bocarro ter-se-á familiarizado com tais ideias cosmológicas quando estudou na Universidade de Alcalá de Henares, onde havia ensinado no início do século XVII Diego Pérez de Mesa (1563–1632), um discípulo de Muñoz. No Tratado dos Cometas, Manuel Bocarro apresenta, ainda, uma defesa do valor epistemológico da matemáticas e dos seus procedimentos no estudo da natureza. Ainda que hoje não conheçamos os registos detalhados das observações que Bocarro fez dos cometas de 1618, segundo testemunho do próprio, o astrónomo português enviou as suas observações do cometa a Johannes Kepler (1571–1630) e Christen S. Longomontanus (1562–1647), de quem terá obtido aprovação quanto aos cálculos obtidos.
Nesta fase da sua vida, a astronomia e a cosmologia estiveram, aliás, na primeira linha das suas preocupações intelectuais. Por esta altura, alimentava a ideia de publicar um pequeno livro intitulado Comentário sobre a Verdadeira Composição do Mundo contra Aristóteles, obra certamente em vias de finalização em inícios de 1619, quando Manuel Bocarro, dirigindo-se a D. Fernão Martins Mascarenhas, na dedicatória que lhe faz no Tratado dos Cometas, refere que tal livro “muito cedo sairá à luz, porque só me falta o favor e amparo de Vossa Ilustríssima”. Fosse pelo carácter pouco ortodoxo do livro, fosse pela simples falta de oportunidade, este projeto ficará adiado por alguns anos. Em 1622, na sequência de um debate científico que teve sobre esta temática, na Corte de Madrid, com Baltazar de Zuñiga, embaixador presidente do Conselho de Itália, e com o “fidalgo napolitano, grande químico e matemático”, Bocarro Francês terá imprimido um breve compêndio em verso latino, apresentando-o ao nobre espanhol. Não se conhecem exemplares de tal publicação. Apenas a edição em Florença, três décadas mais tarde, do poema científico Vera Mundi Compositio, uma reedição da referida obra, nos permite conhecer a sua posição sobre o aceso debate cosmológico de inícios do século XVII. Nesta obra, Bocarro desenvolve as ideias previamente expostas no Tratado dos Cometas, expondo de forma mais articulada e desenvolvida a sua cosmologia.
Em 1624 a vida de Bocarro Francês sofre uma inflexão de todo significativa. No decorrer desse ano publica a primeira parte de Anacephaleoses da Monarquia Lusitana, livro que lhe trará maior celebridade entre os messiânicos portugueses de Seicentos e Setencentos, sendo constantemente citado a propósito da eminência do estabelecimento do Quinto Império por intermédio da monarquia portuguesa. De acordo com o plano de Bocarro, este livro dividir-se-ia em quatro anacefaleoses. No primeiro anacefaleose que dedica a Filipe III e intitula Estado Astrológico, defende que Portugal há-de ser a última e mais poderosa monarquia do mundo; no segundo, chamado Estado Régio e dedicado a Dom Diogo da Silva e Mendonça, propõe-se narrar a história do reino português; no terceiro, intitulado Estado Titular e dedicado ao inquisidor-geral Fernão Martins Mascarenhas, teria como objeto os títulos seculares e religiosos que compõem a monarquia portuguesa; por fim, no quarto anacefaleose, a que significativamente dá o título de Estado Heróico Particular e dedica ao duque de Bragança Dom Teodósio, Bocarro propõe-se cantar os varões ilustres que se destacaram por seus heróicos feitos.
Uma obra com semelhante estrutura e tais propósitos não podia deixar de suscitar fortes desconfianças por parte das autoridades espanholas, que de imediato impediram a sua publicação e prenderam tão ousado autor. Acontece que exatamente nesse ano de 1624 um outro factor irá concorrer para o agravar da situação de Bocarro na Península Ibérica. O seu irmão António comparece voluntariamente perante o tribunal do Santo Ofício de Goa e denuncia parte da sua família por práticas judaízantes. Na sequência desta denúncia a família Bocarro Francês sairá gradualmente de Portugal, exilando-se em algumas cidades italianas, em Amsterdão e, sobretudo, em Hamburgo, mas também nas possessões do império Otomano e na América do Sul.
Manuel Bocarro Francês, mesmo após assumir publicamente a sua condição de judeu, não fará qualquer referência a esta denúncia do seu irmão; contudo tal certamente precipitou a fuga da Portugal, que terá ocorrido em 1625, na segunda metade deste ano. O seu primeiro destino foi Roma, onde estabeleceu contactos com o círculo de Galileu, que tanto o marcaram como testemunhará ao longo da sua vida. Ainda nesta cidade publicou, sob os auspícios de Galileu Luz Pequena Lunar e Estelífera bem como Foetus Astrologici Libri tres. O apoio de Galileu a Bocarro Francês tem causado alguma perplexidade entre os historiadores, nomeadamente de Joaquim de Carvalho, que chegou mesmo a afirmar, no seu estudo Galileu e a Cultura Portuguesa sua contemporânea, “sendo exato, o patrocínio de Galileu, se cientificamente é paradoxal, visto auxiliar a impressão de um livro de semblante astrológico, patrioticamente é para nós gratíssimo, porque significa proteção e, porventura, solidariedade”. Se é certo que Galileu e Bocarro partilhavam uma oposição à cosmologia e epistemologia aristotélica, um olhar de relance sobre as conceções científicas de ambos os astrónomos não deixa de revelar a diferença de noções sobre o sistema de mundo, estrutura da matéria celeste e teoria cometária destes astrónomos. No domínio da astronomia, era mais aquilo que os afastava do que o que os fazia concordar. Contudo, tanto Galileu como Bocarro, à semelhança da maioria dos astrónomos de inícios do século XVII, partilhavam um interesse pela astrologia. O contexto político que se vivia tanto em Itália como na península ibérica e as circunstâncias em que Galileu recebeu o manuscrito bocarriano podem ajudar, também, a explicar o apoio do Pisano à obra do astrónomo português. Galileu recebeu o texto Bocarro em Florença por uma interposta pessoa, provavelmente um português próximo do cardeal Francesco Barberini interessado em explorar as divergências surgidas entre a Santa Sé e a Coroa de Espanha, ocorridas neste período. A situação política não era, de facto, favorável aos Medici por volta de 1625. Não só a presença espanhola na península itálica ameaçava tornar-se hegemónica, com o apoio ao papado e a alguns principados importantes, como os esforços diplomáticos conduzidos por Ferdinando I e Cosimo II junto da corte de Madrid no sentido de obterem concessões comerciais nas possessões ibéricas no Novo Mundo, nomeadamente na Amazónia, viram-se gorados. Acresce que Galileu viu a sua proposta de determinação da longitude a partir dos eclipses dos recém-descobertos satélites de Júpiter – proposta que se insere na referida tentativa de penetração dos Medici na economia americana -, preterida em favor de um matemático espanhol. É neste contexto político que a passagem de Manuel Bocarro por Roma ganha um novo significado e que a sua Luz Pequena Lunar e Estelífera da Monarquia Lusitana se torna um livro a apoiar estrategicamente por quem não tinha nada a ganhar com a afirmação hegemónica de Espanha. Seja como for, este pequeno livro de Bocarro foi de efetivamente antecedido de um prefácio de Galileu, em que este considerava ser importante a sua publicação para que “o mundo admire, ame e louve o talento do seu autor, primeiro entre os astrólogos”.
Após uma breve, mas marcante, passagem por Roma, Bocarro Francês dirige-se para o norte da Europa. Provavelmente chega a Amesterdão ainda em 1626, onde assume abertamente o seu judaísmo sob o nome de Jacob Rosales. Pouco mais tarde, por volta de 1632, desloca-se para Hamburgo, onde se reuniu à sua família que aí habitava. Hamburgo era á época uma das capitais comerciais do Mar do Norte.
Nesta cidade hanseática residirá por cerca de duas décadas, estabelecendo fortes relações com intelectuais judeus, protestantes e católicos. Para além da relação de amizade e admiração mútua que o uniu a Menasseh ben Israel, polifacetado judeu de origem portuguesa muito famoso na época por suas obras de apologética judaica e pelos contatos que cultivou com acadêmicos de outros credos religiosos, Bocarro teve entre seus amigos e correspondentes, Zacuto Lusitano, Moshe ben Gideon Abudiente, o médico e professor Jan van Beverwick, os teólogos Paul Felgenhauer e Johann Mochinger, D. Francisco de Melo, embaixador de Espanha junto da corte imperial, entre outros.
A produção intelectual de Manuel Bocarro em Hamburgo refletirá este vivo clima de que participou. Assim, não apenas compôs um vasto número de poemas que foram publicados em obras de seus pares, como também escreveu o poema sobre a origem do conhecimento Epos Noeticum sive Carmen Intellectuale, inserido no livro de Menasseh ben Israel De Termino Vitae (Amsterdão, 1939) e um pequeno tratado sobre o conhecimento médico com o título Armatura Medica: hoc est modo addiscendae medicinae per Zacutinas historias earumque praxin que publicou nos Opera Omnia de Zacuto Lusitano (Lyon, 1644). Para além destes textos originais, Manuel Bocarro, agora também Rosales, teve ainda oportunidade de publicar em Hamburgo, em 1644, na célebre tipografia de Henrich Werner, o Regnum Astrorum Reformatum onde reuniu dois textos anteriormente impressos: o Anacefaleose Primeiro da Monarquia Lusitana ou Status Astrologicus e o Foetus Astrologici libri tres.
O prestígio que Rosales atingiu em Hamburgo não foi reduzido, valendo-lhe o título honorifico de Conde Palatino, com que o imperador Fernando III o condecorou em 1647. Contudo, tal distinção não parece ter ficado a dever-se sobretudo aos seus méritos como filósofo, astrónomo ou conhecido médico da nobreza europeia. Tal explicar-se-á antes pela sua colaboração económica e política com os ramos espanhol e alemão da Casa de Habsburgo. De facto, ao longo da sua estadia em Hamburgo, Bocarro Francês agiu como um destacado intermediário do partido espanhol e da casa imperial alemã, em detrimento dos interesses portugueses e da própria comunidade sefardita de Hamburgo. Assim, por exemplo, num dos raros momentos em que a política nórdica da corte de Madrid e da Casa Imperial alemã divergiram, Bocarro desempenhou um papel importante. Estando em Hamburgo em 1645, o português assumiu o lugar de representante nesta cidade do secretário de estado imperial, Balthasar von Walderode. A corte de Madrid e a corte imperial disputavam a jurisdição sobre este cargo. Em princípio, tal deveria estar sob autoridade exclusiva dos espanhóis, contudo o embaixador espanhol, duque de Terranova, teria aceite a influência de Walderode, reconhecendo tacitamente o poder imperial sobre esta função. Face à oposição súbita do conselho de estado espanhol, o duque de Terranova contornou a situação, fazendo com que Bocarro passasse a seguir as suas ordens a troco de dinheiro pago pela embaixada espanhola nessa cidade. Manuel Bocarro teria, deste modo, de acordo com as indicações espanholas, que regular o tráfico de navios das cidades hanseáticas com portos espanhóis e denunciar os navios e comerciantes que não seguissem as normas. Segundo Hermann Kellenbenz tal significava prejudicar, entre outras, as ligações que os portugueses sediados no norte da Europa estabeleciam com o reino lusitano.
Manuel Bocarro teve, assim, em Hamburgo, um papel importante como mandatário da política dos Habsburgos espanhóis e alemães nas cidades hanseáticas, ocupando mesmo posição de relevo nos senados de Hamburgo, Lubeck e Danzig. Esta situação aparentemente paradoxal tem gerado alguma discussão entre os historiadores que aí veem uma contradição entre os princípios messiânicos em torno da monarquia portuguesa e o favorecimento dos interesses espanhóis. Contudo, essa contradição poderá ser mais aparente do que real, uma vez que a defesa do estabelecimento de Quinto Império por parte de um rei português não exigia necessariamente a dissolução da monarquia compósita ibérica.
Em finais da década de quarenta, a situação de Bocarro altera-se bruscamente. Nesse momento, as cidades hanseáticas passaram a emitir diretamente os necessários passes aos navios de comércio com destino a Espanha, em detrimento do representante das autoridades espanholas em Hamburgo, ou seja do próprio Bocarro. Assim, a sua situação económica declinou rapidamente, ao que se veio a somar o crescente desinteresse de Espanha pelo papel de intermediação económica e política de Bocarro Francês. Tentando em vão ser ressarcido das despesas que lhe teriam valido o apoio ao partido dos Habsburgos, e que o próprio avaliava em 1651 em 15 000 ducados, o astrónomo português deixa o seu cargo em situação de extrema dificuldade, abandona Hamburgo em direção a Amsterdão, passando possivelmente por Bruxelas. Será de novo a Península Itálica para onde irá rumar.
Em 1653, Manuel Bocarro encontrava-se já na Toscânia, onde rapidamente entra no circulo dos Médici, apresentando-se como doutor em medicina e nobre do Sacro Império Romano Germânico. Certamente que o seu perfil intelectual secundado pela memória do anterior apoio de Galileu lhe abriu algumas portas da corte medicea, uma corte que se destacava pela riqueza dos seus interesses artísticos e filosóficos e pela sua já secular política de mecenato. Contudo, o seu profundo conhecimento dos meios políticos, das estratégias diplomáticas e dos interesses económicos de países e estados tão diversos não pôde deixar de ser tomado em consideração pelos Médici que viam o seu poder económico e a sua área de influência política reduzir-se abruptamente com o decorrer do século XVII.
Neste contexto, Rosales encontrará na Toscânia condições para equilibrar a sua periclitante situação patrimonial, prestando os seus serviços de médico a famílias influentes como a família Strozzi. O apoio dos Médici possibilitou-lhe, ainda, obter uma carta de recomendação do príncipe Leopoldo endereçada ao governador de Livorno, cidade portuária onde existia uma consistente comunidade judaica e para onde Bocarro se transfere com a sua família em 1656. Aqui, integra-se na comunidade judaica local, tornando-se membro da congregação “Hebra de Casar Orfãs”, em 1660, e continua a alimentar as esperanças sobre a afirmação da monarquia portuguesa como o sujeito do Quinto Império que vê prestes a cumprir-se, morrendo provavelmente em 1662 (ou 1668).
Ao publicar, em Florença, em 1654, a sua última obra, um volume intitulado Fasciculus Trium Verarum Propositionum Astronomicae, Astrologicae et Philosophicae, que dedica ao príncipe Cosimo III, Manuel Bocarro Francês retoma as obras que o tinham acompanhado durante a sua vida, fazendo uma nova edição dos tratados Vera Mundi Compositio,Foetus Astrologici e Epos Noeticum sive Carmen Intellectuale, obras em verso já anteriormente dadas ao prelo. E fazendo-o, Rosales reafirma, mais uma vez, as teses por que se havia batido no campo da cosmologia, da filosofia, da profecia e do messianismo político.
Luís Miguel Carolino
Instituto Universitário de Lisboa
ISCTE-IUL, CIES
Arquivos
Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
“Anacefaleoses da Monarquia Lusitana pelo Doutor Manuel Bocarro Francês, medico, filósofo e matemático lusitano.” Manuscritos da Livraria, n.º 746.
“Anacefaleoses da Monarquia Lusitana. Estudo astrológico.” Manuscritos da Livraria, n.º 1054 (1).
“Anacephaleoses da Monarquia Lusitana.” Adília Mendes, mç. 6, n.º 54.9.
“Explicação do primeiro Anacephaleoses impress em Lisboa no ano de 1624 sobre o Príncipe Encoberto e a monarquia ali prognosticada – porq[ue] os Castelhanos impediram imprimirsse com outros no ano de 1626.” Manuscritos da Livraria, n.º 1228 (3)
Luz Pequena, Lunar e Estellifera do Doctor Manoel Bocarro Francez Rosales, Manuscritos da Livraria, ms. 774, ff. 99v–111v.
“Aforismo que o doutor Manoel Bocarro Frances mandou a hum amigo seu no anno de 1627 dizendo assim.” Manuscritos da Livraria, ms. 774 , ff. 97v–99v.
“O Bocarro [131 oitavas].” Manuscritos da Livraria, ms. 774, ff.14–-162v.
“Observação que fez em Lisboa Manuel Bocarro Francês sobre o sinal que apareceu no céu em 9 de Novembro de 1618.” Manuscritos da Livraria, n.º 1736.
Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal:
“Anacephaleoses da Monarchia Lusitana. Tres partes contendo 56, 75, 16 oitavas.” Cód. 125.
“Aphorismos.” Cód. 7211.
“Aphorismos de Manoel Bocarro sobre o juizo que fez do eclipse lunar em Setembro do anno de 1624.” ms. 97, nº 7.
“Carta que Manuel Bocarro Francês escreveu de Liorne a Francisco de Sousa Coutinho, chegado a Lisboa da Embaixada de Roma em 27 de Maio de 1659.” Cód. 125.
“Discurso astrológico no anno de 1629.” Cód. 551.
“Profecias, anno de 1624.” ms. 249, nº 69.
“Profecias em verso: Muitos parecerão se não me engano.” Cód. 627, fls. 62 e 141v.
“Vaticinios feitos pela mathematica no anno de 1627.” Cód. 400.
“Vaticinios que fez o Dr. Manoel Bocarro Francez, medico, astrologico lusitano no anno de 1627 – anno de 1628.” Cód. 551.
“Cópia de uma carta do Dr. Bocarro a um amigo seu mandando-lhe com ela huns aforismos astrológicos. Cod. 914
Lisboa, Biblioteca da Ajuda:
“Adevinhações de Bocarro.” ms. 50-V-35, ff. 387–387v.
Correspondência, ms. 50-V-36, ff. 145–148v.
Évora, Biblioteca Pública de Évora:
“Aphorismos”, Códs. CIV / 1–14, ff. 161ss.; CV / 1–2, ff.. 56ss.; CV / 1–3, ff. 48v.ss.
“Carta de Manuel Bocarro Francez para um fidago de Lisboa em 1627.” Cód. CXII / 2–15, ff. 183–183v.
“Carta que Manuel Bocarro Francês escreveu de Liorne a Francisco de Sousa Coutinho, chegado a Lisboa da Embaixada de Roma em 27 de Maio de 1659.” cód. CV / 1–6, f. 195v.
“Tratado dos Cometas que appareceram em Novembro passado de 1618, Biblioteca Pública de Évora.” ms. CX/1-5.
Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra:
“Discurso que o Doutor Manoel Bocarro Medico, Filozofo e Matematico Luzitano, fez sobre a conjunção maxima, que se celebrou no anno de 1603 aos 31 de Dezembro.” ms. 103.
Luz Pequena, Lunar e Estellifera do Doctor Manoel Bocarro Francez Rosales. ms. 393.
Florença, Biblioteca Nazionale Centrale di Firenze:
Correspondência, Lettere autografe, V, 121–126
Paris, Biblithèque Nationale de France:
“Profecias do doutor Manuel Bocarro Francês, do ano de 1627, com alusões ao regresso do Rei encoberto.” Fonds Portugais, Ms. 25, ff. 408–409.
Obras
Anacephaleoses da Monarchia Luzitana. Lisboa: António Alvares, 1624.
Epos Noeticum sive Carmen Intellectuale. In De termino vitae libri 3, quibus veterum Rabbinorum, ac recentium doctorum, de hac controversia sententia explicatur, ed. Menashe ben Israel. Amstelodami: typis et sumptibus authoris, 1639.
Regnum Astrorum Reformatum. Hamburg: ex officina typographica Henrici Werneri, 1644.
Armatura Medica: hoc est modo addiscendae medicinae per Zacutinas historias earumque praxin. In Zacuto Lusitano, Opera Omnia, vol. 2. Lugdunis: Sumptibus Ioannis-Antonii Huguetan, 1644.
Fasciculus trium verarum propositionum astronomicae, astrologicae, et philosophicae. Florence: typis Francisci Honuphrii, 1654.
Tratado dos cometas que apareceram em Novembro passado de 1618, ed. Henrique Leitão. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2009.
Luz Pequena Lunar e Estelífera da Monarquia Lusitana, ed. Luís Miguel Carolino. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2006.
Bibliografia sobre o biografado
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Carolino, Luís Miguel. “Manuel Bocarro Francês, the comet of 1618, and the impact of Stoic cosmology in Portugal.” InNovas y cometas entre 1572 y 1618. Revolución cosmológica y renovación política y religiosa, ed. Miguel Ángel Granada, 195–224. Barcelona, Universitat de Barcelona, 2012.
Kellenbenz, Hermann. “Dr. Jakob Rosales.” Zeitschrift für Religions und Geistesgeschichte 8 (1956): 345–354.
Moreno-Carvalho, Francisco. “A newly discovered letter by Galileo Galilei: contacts between Galileo and Jacob Rosales (Manoel Bocarro Francês), a seventeenth-century Jewish scientist and sebastianist.” Aleph 2 (2002): 59–91.
Silva, Sandra Neves. “Criptojudaísmo e profetismo no Portugal de Seiscentos: o caso de Manoel Bocarro Francês alias Jacob Rosales (1588/93?–1662/68?).” Estudos Orientais 8 (2003): 169–183.