Vasconcelos, Fernando de Almeida Loureiro e

Santa Maria Maior (Chaves), 26 de março 1874 — Santa Catarina (Lisboa), 2 de novembro 1944

Palavras-chave: história da matemática, sociedades científicas, engenharia militar.

DOI: https://doi.org/10.58277/VBQZ7014

Fernando de Vasconcelos teve uma vida intensa e diversificada. Foi militar, político, professor universitário de matemática, historiador da matemática e publicista. Não teve, por isso, uma carreira cronologicamente ordenada, mas várias, em simultâneo. Como historiador da Matemática foi o único português a publicar trabalhos sobre a matemática na Antiguidade.

Fernando de Vasconcelos nasceu a 26 de Março de 1874 em Chaves, filho de Fernando de Almeida e Vasconcelos, capitão de Infantaria, e de Mariana Augusta de Vasconcelos de Abreu Castelo Branco. Casou com Mónica de Vilhena em 1901, filha do 1.º Visconde de Ferreira do AlentejoJosé Joaquim Gomes de Vilhena, e de sua mulher e prima Amélia Augusta de Vilhena, residentes em Ferreira do Alentejo, tendo tido dois filhos. Faleceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1944.

Frequentou o Colégio Militar com o n.º 56, em 1884-89 (2.º-6.º anos), sempre com excelentes classificações (especialmente a português, francês, latim, matemática, história, filosofia e geografia).  Recebeu em todos os anos lectivos diversos diplomas, prémios (primeiros e segundos) e medalhas de mérito em várias disciplinas, excetuando as de desenho.

A carreira militar de Fernando de Vasconcelos iniciou-se com o alistamento como voluntário no Regimento de Infantaria N.º 1 em 1889. Fez o curso do Real Colégio Militar em 1889, o curso preparatório para engenharia militar na Escola Politécnica de Lisboa em 1892, e, finalmente, o curso de Engenharia Militar da Escola do Exército em 1895. Nestas duas últimas instituições foi distinguido com vários prémios. Em 1985 foi promovido a alferes de engenharia e, decorridos dois anos, foi chamado a desempenhar a sua primeira missão política como oficial, às ordens no gabinete do ministro da guerra, General Francisco Maria da Cunha. 

Ainda como tenente de engenharia, foi requisitado para uma Comissão de Serviço no Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, desempenhando funções na Direcção-Geral de Agricultura, de 30 de Maio de 1899 até Junho de 1905. Em 1901, estava em serviço na prospecção técnica das farinhas e do pão, e, em 1915, encontrava-se ao serviço do Ministério do Fomento como engenheiro subalterno de 1.ª classe do corpo de obras públicas e minas. A 16 de Fevereiro de 1918, já estava ao serviço do Ministério do Comércio, para, depois, ser colocado, como adido, no então Ministério do Comércio e Comunicações, em 1920. Foi eleito deputado pelo círculo eleitoral de Beja, nas listas do partido regenerador, nas eleições legislativas de Abril de 1906, e reeleito pelo mesmo círculo eleitoral nas eleições de 1908. Integrou em 1908 as omissões parlamentares de obras públicas e de instrução primária e secundária. Em 1909, fez parte da comissão interparlamentar de colonização. Em 1914, desempenhou o cargo de Governador Civil do distrito de Portalegre. O seu percurso militar terminou em 1926, ao atingir a patente de coronel de engenharia. 

No que respeita à carreira científica e académica, Fernando de Vasconcelos foi repetidor das cadeiras de Matemática (1.ª Cadeira, Álgebra Superior, Geometria Analítica e Trigonometria Esférica) da Escola Politécnica (Nomeado em novembro de 1897), e passou a 1.º assistente da secção de matemática, quando da transformação daquela instituição na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1911. Foi professor interino (lente) e depois professor catedrático no Instituto Superior de Agronomia, onde regeu a cadeira de Cálculo Diferencial e Integral e das Probabilidades e o Curso de Construções Rurais — 2.ª parte do Curso de Desenho de Construções. Foi exonerado, a seu pedido, a 15 de julho de 1937. 

Além de dois artigos e diversas conferências sobre a matemática grega na Antiguidade, a obra maior de Fernando de Vasconcelos é a sua História das Matemáticas na Antiguidade que se dirigia ao grande público. Nela se expõem as origens económicas, sociais e culturais das ciências, no mais vasto sentido, e as aspirações dos povos à compreensão do mundo, evidenciando a concepção das matemáticas do autor como a “base dos conhecimentos positivos para a inteligência humana”. O autor cobre o período clássico da matemática grega, hindu e árabe até ao fim da Segunda Escola de Alexandria (641 d.C.). Apesar das muitas descobertas e desenvolvimentos na história das matemáticas ocorridas desde que o livro foi escrito, nomeadamente, sobre as matemáticas antigas dos orientes próximo e longínquo, esta obra de Fernando de Vasconcelos continua a ser uma obra de referência histórica. 

Fernando de Vasconcelos esteve ligado a várias instituições ligadas às actividades económicas, industriais e agrícolas, e a diversas sociedades científicas. Foi fundador da Liga Económica Nacional (1915-1918), e membro da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses, da Associação Industrial (presidente da omissão revisora de contas), da Associação Central de Agricultura Portuguesa, da Sociedade de Geografia e Grupo Português de História das Ciências – secção de Lisboa, de que foi fundador e primeiro presidente, de 1932 a 1934.

Foi delegado do Instituto Superior de Agronomia junto do comissariado-geral do governo na Exposição Internacional do Rio de Janeiro (1926) e integrou a missão gratuita de serviços que se deslocou ao estrangeiro para colher elementos para a organização do trabalho agrícola (1929). Tomou parte no congresso de Bilbao, da Asociación Española para el Progreso de las Ciencias (1919), no congresso do Porto, da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências (1921), e no congresso de Salamanca da Asociación Española para el Progreso de las Ciencias (1923). 

Fernando de Vasconcelos representou o governo português e a Universidade de Lisboa no congresso internacional de matemáticas de Toronto, em 1924. Foi delegado do governo português ao 13.º Congresso Internacional de Agricultura em Roma, em 1927, e relator, por parte de Portugal, do tema sobre “Organização científica do Trabalho Agrícola”. Foi nomeado para fazer parte da comissão portuguesa na organização científica do trabalho agrícola em França, Inglaterra, Bélgica e Holanda, em 1930. Foi eleito membro efectivo da Academia Internacional de História das Ciências e do Comité International d’Histoire des Sciences em 1934 e Presidente da Comissão Internacional de Prioridades Científicas, no mesmo ano. Sócio correspondente do Circolo Matematico de Palermo e do Instituto de Coimbra. Foi presidente da comissão executiva do III Congresso Internacional de História das Ciências de 1934.

Foi agraciado com a Ordem do Mérito Militar de Espanha e a Ordem de Avis.

Augusto J. Franco de Oliveira
Professor Emérito da Universidade de Évora
Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa

Obras

1. Vasconcelos, Fernando “Sur la rotation des forces autour de leurs points d’application et l’équilibre astatique”. Annaes da Academia Polytechnica do Porto, tomo VII, n.os 1, 2, 3, 1912, pp. 5-45, 65-83, 129-159.

2. Vasconcelos, Fernando “A numeração fraccionada no Papiro de Rhind e em Herão de Alexandria”. Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, Congresso do Porto (1921). Coimbra, 1922. 

3. Vasconcelos, Fernando “A origem grega do valor  e dos números fundamentais das tábuas de senos das Siddhântas”, Asociación Española para el Progreso de las Ciencias. Congresso de Salamanca, 1924.

4. História das Matemáticas na Antiguidade, Aillaud & Bertrand, 1925. Segunda edição com Prefácio, revisão, biografia e coordenação por Augusto J. Franco de Oliveira, Ludus e Museu de Ciência, Lisboa, 2009.

5. Vasconcelos, Fernando “L’Organisation scientifique du travail agricole (Portugal)”, XIIIème Congrès International d’Agriculture, Roma, 1927.

6. Vasconcelos, Fernando “Daniel Augusto da Silva et la constitution de l’astatique. Une priorité des sciences mathématiques portugaises”.Archeion, 16,1934.

Bibliografia sobre o biografado

Mónica, Maria Filomena (coordenadora). Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910) Assembleia da República.  Lisboa, 2006 (ISBN 972-671-167-3), pp. Vol. III. 977-8.

Oliveira, Augusto J. Franco de,“Nota Biográfica”, In Vasconcelos, Fernando Loureiro (ed.). História das Matemáticas na Antiguidade, segunda edição, Lisboa, Associação Ludus, 2009:  481-484.

Teixeira, Francisco Gomes. “Elogio Histórico de Daniel Augusto da Silva”, In Panegíricos e Conferências, ed. Teixeira, Francisco Gomes, 155-193.Coimbra: Imprensa da Universidade, 1925.