Lima, Américo Pires de

Areias, 23 fevereiro 1886 — Porto, 22 fevereiro 1963

Palavras-chave: história da botânica, jardim botânico do Porto Gonçalo Sampaio, plantas medicinais.

DOI: https://doi.org/10.58277/VHCV8368

Américo Pires de Lima sucedeu a Gonçalo Sampaio na direção da secção de Botânica da Faculdade de Ciências do Porto, tendo-se dedicado sobretudo à promoção da obra de Gonçalo Sampaio, à criação de um jardim botânico e à instalação da secção de Botânica na Quinta do Campo Alegre, à redação de livros escolares e ao ensino e divulgação da botânica e das ciências naturais.

Terminou em 1911 o curso de Medicina na Escola Médico Cirúrgica do Porto com a defesa de uma tese sobre o valor higiénico do leite. Concorreu depois a médico do Exército, carreira em que atingiu a graduação de tenente-coronel. Foi assistente de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Porto e, em 1913, 2.º assistente de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências do Porto.

Em julho de 1916 foi mobilizado para Moçambique, onde permaneceu até novembro do ano seguinte, assumindo o cargo de chefe da Secção de Higiene e Bacteriologia.

Em 1919 foi nomeado 1.º assistente da Faculdade de Ciências e, em 1921, professor ordinário de botânica desta Faculdade. No mesmo ano entrou para a Escola Superior de Farmácia, ocupando o lugar de professor ordinário em 1925 e o de diretor entre 1929 e 1932. Com a aposentação de Gonçalo Sampaio em abril de 1935, Pires de Lima assumiu a direção da secção de Botânica e do Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio, acumulando com as funções de diretor da Faculdade de Ciências (1935-1945). Já aposentado, foi nomeado diretor clínico do Hospital de Santo António do Porto.

Foi sócio de várias associações científicas e médicas portuguesas e brasileiras, diretor do Centro de Estudos de Ciências Naturais do Instituto para a Alta Cultura e membro de diversas comissões oficiais (Conselho Nacional dos Museus, comissão permanente de Ciências do Instituto de Alta Cultura, Centro de Estudos Demográficos e da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais). Foi condecorado com a comenda da Ordem Militar de Avis.

Da sua atuação a nível universitário e académico salienta-se a promoção da obra de Gonçalo Sampaio (1865-1937) e a adaptação dos jardins e parque da Quinta do Campo Alegre a Jardim Botânico da Faculdade de Ciências e a transferência do Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio do edifício da Faculdade na Praça Gomes Teixeira (“dos Leões”) para o edifício principal da Quinta.

Em termos de promoção da vida e obra de Gonçalo Sampaio, A. Pires de Lima promoveu a colocação de uma lápide na casa do Porto onde G. Sampaio tinha vivido os últimos anos e morrido, a colocação de um monumento no jardim botânico, com um busto da autoria de Abel Salazar e a edição das obras-chave de G. Sampaio que não tinham sido publicadas em vida do autor — a Flora Portuguesa (1946), a Iconografia Selecta da Flora Portuguesa (1949) e o Cancioneiro Minhoto (2.a edição, 1944).

Comprada a Quinta do Campo Alegre pelo Estado à família Andresen em abril de 1949, A. Pires de Lima não tardou em reclamar junto das instâncias oficiais as verbas que entendia necessárias para transformar a Quinta do Campo Alegre num jardim botânico que se aproximasse dos seus congéneres europeus e, logo depois, para que se transferisse o Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio, tanto a componente de ensino como a de investigação, do edifício da Praça dos Leões, para o edifício principal da Quinta do Campo Alegre. Marcos importantes neste processo foram a publicação do Decreto-Lei 38158 de 1951, que aumentava o quadro do Instituto de Botânica, equiparando-o aos institutos congéneres das Universidades de Coimbra e Lisboa e a possibilidade de contratação de técnicos nacionais ou estrangeiros, que se efetivaria em 1952 com a entrada de Karl Koepp como inspetor do jardim. Todavia, a criação do jardim botânico do Porto e a transferência do Instituto de Botânica para a Quinta do Campo Alegre acabariam por se prolongar por vários anos e, quando A. Pires de Lima se aposenta em 1956, estava longe de terminado e já se avizinhava a construção da Ponta da Arrábida que resultaria numa amputação drástica da quinta para se construírem os seus acessos rodoviários. É neste longo, tortuoso e complexo processo que a forte personalidade, persistência e determinação, e os múltiplos contactos e influências de A. Pires de Lima se revelam, tanto mais que há muito que, em inúmeras intervenções orais e escritas, algumas das quais assumindo grande veemência, fazia sentir a necessidade da criação de um jardim botânico no Porto. Num artigo publicado no jornal O Comércio do Porto de 30 de julho de 1937, depois de referir a criação do primeiro jardim botânico pelo barão de Castelo de Paiva ainda no século XIX e a sua extinção para que a Guarda Nacional ocupasse os terrenos já nos inícios do século XX ao tempo de Gonçalo Sampaio, A. Pires de Lima revelava uma perspetiva moderna e correta do que é um jardim botânico, não um simples jardim de lazer e passeio, mas principalmente um espaço de estudo, aplicação, ensino e divulgação da ciência botânica. Defendia a cultura de plantas medicinais (indígenas e exóticas) para estudo das suas aplicações comerciais, tal como a de plantas utilizadas pelas indústrias. Para financiar estes estudos propunha a ligação da Universidade à Indústria, à semelhança do que acontecia em Inglaterra. Sabendo que o ensino da botânica também necessita do apoio de um herbário, fez adaptar algumas salas do edifício principal da Quinta para instalar e aumentar o herbário português criado por Gonçalo Sampaio. Também criou um Index Seminum, inicialmente dirigido por Jorge Alberto Martins d’Alte, então assistente extraordinário e auxiliar de naturalista. A primeira edição ocorreu em 1954, tendo sido enviados mais de 300 exemplares para instituições de todo o mundo e distribuídos mais de 1300 pacotes de sementes a 123 instituições que as pediram.

Do total dos seus trabalhos publicados, alguns são dedicados a questões de ordem doutrinal ou política. As suas intervenções públicas neste contexto são pouco numerosas, mas nelas exprime o seu posicionamento relativamente a algumas das ideias-mestras do sistema político, tanto em relação à pátria continental, como relativamente à arquitetura colonial. Perfeitamente integrado no regime político que vigorava em Portugal, até por relações familiares com altos dirigentes, dele recebeu apoios diversos, nomeadamente para a publicação das suas obras.

Defendeu as linhas do ideário básico do regime, como a defesa intransigente da unidade nacional constituída por Portugal e pelas suas colónias, o culto do herói nacional e dos desígnios da “raça”. Numa comunicação ao Congresso da União Nacional, realizado em Coimbra em 1951 e depois publicada (em Espírito e matéria, 1952), A. Pires de Lima revelou originalidade dentro das balizas ideológicas do regime. Defendeu a instrução primária obrigatória, a “assistência médica efectiva aos alunos das escolas e a assistência psíquica”. Preconizou a instrução das massas mas também a criação de uma elite nas mãos da qual “estará com certeza os destinos de Portugal”. De seguida, elogiava os progressos materiais do Estado Novo, “mas tudo isto é progresso material, extremamente louvável e útil, mas puramente material”. Apontava os problemas que importava resolver: 1. A “higiene do leite”. 2. O ensino prático a todos os níveis. 3. A constituição e o envio de naturalistas e missões de estudo aos territórios ultramarinos. 4. A proteção à Ciência.

A existência de raças dentro da espécie biológica humana e, sobretudo e principalmente, a existência de correlações entre raça e características morais e intelectuais, a transmissibilidade genética direta de características morais e intelectuais como a inteligência, foram temas de ampla discussão nas primeiras décadas do século XX. Com esta problemática diretamente se relacionava a eugenia, a seleção ativa (ou passiva) de determinadas características em grupos humanos. Admitindo que era principalmente (ou exclusivamente) a herança genética o que determinava hábitos, comportamentos e ideias que passavam entre gerações, a eugenia propunha-se eliminar os “defeitos” e as “degenerescências” de grupos sociais e desta forma a melhoria da “raça”, pela exclusão (esterilização em alguns casos, eliminação física pura em situações bem conhecidas) dos portadores destes “defeitos”. Muitos intelectuais e académicos reputados, incluindo portugueses, defenderam este ideário, que esteve muito em voga nas primeiras décadas do século XX, até a II Grande Guerra ter mostrado até que ponto infame se pode usar politicamente (e abusivamente) este modo de pensar (mas não se extinguiu então). No caso português, a situação era particularmente propícia a desenvolvimentos desta natureza em virtude de duas circunstâncias relevantes inter-relacionadas: a grande diversidade de grupos sociais que constituíam o império (com territórios em vários continentes) e o passado histórico da nação, em particular o movimento de Expansão Quinhentista, visto como um “desígnio da raça portuguesa”.

A. Pires de Lima naturalmente que se envolveu na discussão destas temáticas. No seu trabalho publicado em 1938 Balanço correlacionava a Expansão com a existência de uma “raça” portuguesa que todavia revelava sinais de “decadência física”. Como regressar ao passado glorioso? Pela eugenia, “que nos ensina a obter uma raça originàriamente robusta e sem taras”. De que forma? Parece existir no pensamento de A. Pires de Lima uma evolução do que entende por eugenia. Num dos seus primeiros trabalhos – A decadência física do homem, publicado em 1912 e reeditado na coletânea Pregar no deserto…, publicada em 1931, depois de evocar a seleção natural operativa na Natureza e descrever as práticas que então se usavam para a seleção de animais domésticos – escolher para reprodutores os melhores exemplares; eliminando inexoràvelmente os indivíduos imperfeitos, considerava todavia que o homem “está fora das condições que regem os animais domésticos e os animais selvagens” e que portanto “não tem, como os animais, a seleção natural a corrigir os seus defeitos e a eliminar os degenerados”. Insurgiu-se contra a filantropia “altamente nociva e para a raça uma activa causa de decadência”. Qual a solução? “Basta que apliquemos os dados adquiridos pela sciência: divulgar e publicar os preceitos da higiene pública e particular, e impedir por todos os modos que os alienados, os criminosos, os degenerados de tôda a espécie, continuem procriando, transmitindo e multiplicando na descendência as suas taras e aleijões”. Refira-se que esta prática de impedir a procriação ou mesmo a esterilização dos indivíduos se manteve em vários países europeus até muito depois de terminada a II Grande Guerra. Num trabalho de 1938 parece revelar-se uma mutação no pensamento de A. Pires de Lima: passa a criticar os “exageros brutais praticados em certos países em nome da Eugenia”. Todavia, “dentro da mais irrepreensível ética, e mediante um vasto plano educativo, [a eugenia] pode prestar incalculáveis serviços à causa sagrada da defesa da raça. Mais e melhores portugueses eram necessários não só para povoar e cultivar o próprio Continente, mas também o nosso enorme Império Ultramarino”. Não defendia a exclusão nem a esterilização dos “defeituosos”, mas antes o seu tratamento. Neste trabalho chamava a atenção em particular para os benefícios do tratamento das crianças com raios ultravioletas de forma a obviar a uma série de patologias, sendo até “um meio eficaz de robustecer as crianças e de as tornar muito mais resistentes a tódas as infecções”.

Foi autor e coautor de vários livros para diversos graus de ensino. Juntamente com seu irmão Augusto César Pires de Lima publicou Leituras para o ensino primário, para a 3.a e 4.a classe. Escreveu ainda compêndios de botânica para os anos em que era ministrada e, juntamente com Augusto C. G. Soeiro, compêndios de biologia para o 3.º ciclo. Estas obras tiveram muitas edições que se prolongaram por um dilatado período de tempo.

Promoveu em 1939-1940 a edição de 12 Quadros de Botânica realizados por Manoel Cabral de Rezende Pinto, então assistente da secção de Botânica da Faculdade de Ciências do Porto, publicados pela Livraria Simão Lopes do Porto. Cada quadro, em grande formato, representava as etapas do ciclo de vida e a organização interna, de um organismo representativo dos principais grupos de vegetais, com indicação das estruturas principais e respetiva legenda.

Publicou vários trabalhos curtos sobre temas muito diversificados dentro da sua área de formação.

Durante a sua permanência de mais de um ano como médico militar em Moçambique, levou a cabo estudos de história natural, antropologia e etnografia das regiões onde se encontrava, em particular no território de Cabo Delgado, nas proximidades de Mocimboa da Praia e Palma. Recolheu plantas vasculares, constituindo um herbário com cerca de quatro centenas de espécimes, representando cerca de trezentas espécies, algumas novas para a ciência. Também recolheu um grande número de líquenes que foram estudados por E. Vainio, tendo este investigador finlandês publicado várias espécies novas para a ciência. Recolheu ainda insetos que foram objeto de estudo por parte do entomologista espanhol Ignacio Bolívar y Urrutia (1850-1944). Publicou também um conjunto de trabalhos, tanto do foro médico, como antropológico e botânico que em 1943 foram reunidos num único volume pela Agência Geral de Colónias.

A. Pires de Lima viveu ainda num período em que os medicamentos muito deviam ao mundo natural, em particular às plantas. Todavia, a entrada da química na produção de fármacos era visível e aparentava tornar-se inexorável. Em vários dos seus escritos defendeu o estudo objetivo e com métodos modernos das propriedades medicinais das plantas e apontou as vantagens dos medicamentos à base de plantas e as desvantagens dos confecionados com substâncias químicas purificadas, enfim lutava contra o que entendia ser um “divórcio entre a Medicina e a Botânica”, expressão com que intitula um trabalho publicado em 1941. Neste contexto, o trabalho de maior envergadura foi dedicado às plantas medicinais do Gerês e publicado em 1950 nos Anais da Faculdade de Farmácia do Porto. Neste trabalho, cruzou a informação existente nos trabalhos de florística e sistemática com a contida nos livros de matéria médica, desde os clássicos da Antiguidade até a obras de referência publicadas entre finais do século XIX e meados do século XX e as farmacopeias. Em cada espécie, citou os usos farmacêuticos e médicos, desde os apresentados por Dioscórides até aos mais recentes. Naturalmente que as informações revelaram-se contraditórias relativamente a várias plantas, mas em muitas outras as propriedades postuladas nos textos antigos tinham sido confirmadas pela farmácia e medicina do seu tempo.

Escreveu biografias (F. Redi, M. Malpighi, L. Spallanzani, Madame Curie, Brotero, Alexandre Rodrigues Ferreira, F. Welwitsch, Rodrigo de Sousa Coutinho), trabalhos sobre a história dos Descobrimentos e da medicina ultramarina, a história natural insular e ultramarina (incluindo o Brasil) e a botânica medicinal ultramarina. 

Divulgou e estudou um número apreciável de documentos relativos sobretudo à botânica ultramarina. Boa parte destes documentos fazia parte do Arquivo Histórico Colonial, onde permanecem, sendo neste contexto de salientar o papel de Alfredo Mendes Gouveia, funcionário deste arquivo, que transcreveu boa parte dos documentos originais.

Dedica alguns estudos às origens da Universidade do Porto, em particular da Academia Real de Marinha e Comércio do Porto, da Academia Politécnica e da sua secção de Botânica, e finalmente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Dedicou especial atenção à história da botânica no Porto, incluindo a história do jardim botânico publicando em 1942 A Botânica no Porto. Notas biográficas e bibliográficas no qual fez uma descrição histórica dos estudos botânicos no Porto e do jardim botânico, seguida de biografias e bibliografias de todos os académicos e professores ligados a esta disciplina. Também publicou trabalhos diversos sobre as universidades portuguesas e o ensino universitário, em particular o ensino da farmácia e da medicina e o papel das universidades em contexto colonial. 

São de assinalar ainda evocações biográficas de personalidades muito diversas, como o conde de Linhares, Gonçalo Sampaio, conde de Ficalho, António Maria Cardoso, Andrès de Laguna, Alfredo de Magalhães, Pedro Vitorino. Nas biografias, evoca não só a obra do biografado, como o seu perfil ético e moral.

Logo no início da sua carreira docente, A. Pires de Lima publicou em 1912 um trabalho sobre as teorias e mecanismos da evolução propostos por Lamarck, Darwin, August Weismann, Félix Le Dantec, Hugo de Vries e Gregor Mendel (A evolução do transformismo). Em 1950 saiu um trabalho em que descreveu a polémica que tinha decorrido na União Soviética entre partidários de Lyssenko e de Mitchurine e defensores da genética mendelo-morganiana (Cisma soviético na Biologia). Numa época em que a Microbiologia se estabelecia como disciplina autónoma com objetivos e métodos de trabalho próprios, o trabalho de divulgação publicado em 1943 com o título singelo de Micróbios merece destaque no contexto nacional. Com uma visão bastante abrangente e até ecológica, é dado natural destaque às bactérias patogénicas para o homem, mas nunca descurando, e até mesmo enfatizando, a sua ecologia e habitat.

João Paulo Cabral
Professor universitário aposentado

Arquivos

O espólio documental de Américo Pires de Lima encontra-se no Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Obras

Pires de Lima, Américo. O valor hygienico do leite do Porto. Porto: Typ. a vapor da Encyclopedia Portuguêsa Illustrada, 1911.

Pires de Lima, Américo. Pregar no deserto… Porto: Tipografia Sequeira, 1931.

Pires de Lima, Américo. Confissões a um frade mouco. Porto: Portucalense Editora, 1942.

Pires de Lima, Américo. Micróbios. Porto: Portucalense Editora, 1943.

Pires de Lima, Américo. Explorações em Moçambique. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1943.

Pires de Lima, Américo. Correspondência oficial de Welwitsch. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1949.

Pires de Lima, Américo. Intus Et Extra. Porto: Imprensa Moderna, 1950.

Pires de Lima, Américo. “Plantas medicinais do Gerês.” Anais da Faculdade de Farmácia do Porto 10 (1950): 41-132.

Pires de Lima, Américo. Espírito e matéria. Porto: Separata de O Médico 39 (1952).

Pires de Lima, Américo. O Doutor Alexandre Rodrigues Ferreira. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1953.

Bibliografia sobre o biografado

Cabral, João Paulo. “Américo Pires de Lima, o criador do Jardim Botânico.” O Tripeiro, 7.série, Ano XLI, #2 (2022): 36–41.