Lisboa, 2 setembro 1900 – ?, 26 julho 1963
Palavras-chave: Angola, Cartografia Geológica, Geologia Colonial.
DOI: https://doi.org/10.58277/ZSJC8471
Fernando de Oliveira Velez Mouta foi um engenheiro de minas português. A sua ação contribuiu para a ocupação científica das colónias e participação de Portugal nos compromissos geológicos internacionais.
Fernando Mouta nasceu em Lisboa, onde se licenciou em Engenharia de Minas pelo Instituto Superior Técnico (IST). Em 1922, com 22 anos iniciou a carreira profissional na recém-criada ‘Missão Geológica de Angola’ que tinha como objetivo a cartografia geológica da então colónia portuguesa.
Após a sua nomeação para o quadro comum do Império como engenheiro de minas dos serviços de indústria, geologia e minas de Angola, apresentou a primeira carta geológica da colónia de Angola ao Congresso Internacional de Geologia, realizado em Washington, em 1933.
Foi presidente da Câmara Municipal de Luanda entre 1935 e 1939 e foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem de Cristo.
Depois de um curto período em que desenvolveu a sua atividade profissional em empresas particulares, foi contratado como chefe de brigada para trabalhos de levantamento da carta geológica de Angola. Terminado esse contrato, exerceu as funções de professor catedrático além do quadro da cadeira de Geologia e Paleontologia Portuguesas do IST (1949-1951).
Em julho de 1951 foi contratado pela Junta de Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar (JIU) como investigador de geologia. Aí desenvolveu o estudo das formações geológicas do Karroo de Angola. Ainda ao serviço da junta, reunindo os conhecimentos geológicos existentes, reformulou a carta geológica de Angola e notícia explicativa. Desempenhou o cargo de chefe dos serviços de indústria e geologia da Província de Moçambique a partir de 1955, sendo nomeado diretor no ano seguinte.
Desde 1926 e até à sua aposentação, Mouta foi um participante assíduo nos vários congressos geológicos internacionais, em representação das colónias, do Ministério do Ultramar, ou da JIU. A partir de 1950, quando foi nomeado membro suplente e mais tarde, membro efetivo do Conselho Científico Africano, participou nas reuniões deste organismo, onde eram discutidos os interesses coloniais dos vários países.
Os compromissos internacionais assumidos nestes encontros, bem como a participação como delegado nas comissões da carta geológica internacional de África e mais tarde, a carta geológica do mundo, permitiram-lhe uma visão ampla para os problemas que a investigação geológica enfrentava no Império português e em particular, em Angola.
Defensor da geologia como uma ciência fundamental para o desenvolvimento das colónias e da sua ocupação efetiva, considerou que muitos dos problemas geológicos podiam ser resolvidos a partir de estudos que envolvessem a cartografia geológica, dando origem ao conhecimento dos recursos disponíveis, com evidentes consequências para o fomento económico, através do desenvolvimento da exploração mineira e da agricultura. Considerava que o desenvolvimento da carta geológica numa Nação era “um marco do seu grau de civilização”.
A noção do avanço da investigação realizada pelas potências europeias nas colónias africanas foi também o ponto de partida da sua agenda de modernização. Apresentando uma postura interventiva, Fernando Mouta foi crítico da pouca atenção prestada à geologia e ao desenvolvimento da investigação científica, defendendo a criação de instituições de suporte a essa atividade, como um Instituto de Investigação Científica Colonial, Museu de História Natural em Angola, bem como a reorganização dos serviços geológicos. Considerava que os trabalhos de geologia desenvolvidos eram reduzidos para as necessidades, não tendo a continuidade necessária que permitisse a formação de novos profissionais e a criação de “escola ou tradição” nessa área científica.
A formação em Engenharia de Minas não limitou o campo de investigações a que se dedicou, apresentando nos vários encontros internacionais, trabalhos que cruzam geologia, etnografia e arqueologia. A realização de campanhas de campo e o contacto com diferentes povos despertou o interesse por aspetos etnográficos, levando à edição de “Etnografia Angolana”. Por outro lado, o debate sobre as origens do homem levou-o a encontros internacionais e à divulgação de investigações detalhadas, no cruzamento da paleontologia e da antropologia. Os seus trabalhos foram desenvolvidos em colaboração com numerosos cientistas portugueses e estrangeiros.
A sua atividade profissional terminou em 1958 ao serviço da Província de Moçambique, após desenvolver um trabalho de investigação científica e de cooperação internacional relevante para o conhecimento do continente africano, durante mais de 30 anos.
Miguel Teixeira
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Arquivos
Lisboa, Arquivo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., Fundo Engenheiro Fernando Mouta.
Lisboa, Arquivo Nacional Torre do Tombo, Fundo Direção-Geral da Administração Pública, Departamento de Integração Administrativa, Série Processos de Funcionários do Ultramar, Fernando de Oliveira Mouta.
Lisboa, Arquivo Histórico do Instituto de Investigação Científica Tropical, Universidade de Lisboa, Processo individual de Fernando Mouta.
Obras
Mouta, Fernando. Bibliografia geológica de Angola. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1934.
Mouta, Fernando. Etnografia Angolana: Subsídios. Porto: Litografia Nacional, 1934.
Mouta, Fernando. Subsídio para a organização de um Instituto de Investigação Científica Colonial. Separata Revista da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses nº 707. Lisboa: Associação dos Engenheiros Civis Portugueses, 1934.
Mouta, Fernando. Criação em Angola de um Museu de História Natural: Utensilhagem Colonial: 5ª Comissão. Primeira Conferência Económica do Império Colonial Português. Lisboa: Tipografia da Empresa do Anuário Comercial, 1936.
Mouta, Fernando. Possibilidade de existência de pré-hominídeos no Sul de Angola (Leba Humpata). Separata Anais do Instituto de Medicina Tropical. Porto: Imp. Portuguesa, 1953.
Mouta, Fernando. Notícia Explicativa do Esboço Geológico de Angola. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1954.
Mouta, Fernando. Esboço tectónico de Angola: Notícia Explicativa. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, Vol. X, Tomo V. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1956.
Bibliografia sobre o biografado
“Mouta (Fernando de Oliveira Velez)” In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 18, 35-36. Lisboa – Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia Lda., s.d.