Lisboa, 27 fevereiro 1837 — Lisboa, 3 outubro 1891
Palavras-chave: linha do Douro, Regeneração, plano de rede, engenharia.
DOI: https://doi.org/10.58277/VXTZ3174
Lourenço António de Carvalho foi um engenheiro, que implementou a política de melhoramentos materiais do Fontismo no terreno, no ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria (MOPCI) no parlamento e no governo. Dirigiu a construção da linha do Douro, a primeira grande obra pública realizada inteiramente por técnicos nacionais.
Filho de Manuel António de Carvalho, barão de Chanceleiros e ex-ministro da coroa, e de Maria José Carvalhosa Henriques, nasceu no seio de uma rica e influente família com propriedades no Douro, Ribatejo e Estremadura. Os seus quatro irmãos (Sebastião José, António Maria, João Anastácio e Pedro Augusto) desempenharam funções como ministros e deputados. Quando casou, em 1877, com Carolina do Casal Ribeiro, filha dos condes de Casal Ribeiro, solidificou a sua posição económica e política.
Frequentou Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra, tendo terminado os cursos em 1855 e 1857, respetivamente. Candidatou-se em seguida ao concurso para estudar Engenharia no estrangeiro, por conta do Estado. Não sendo selecionado, prosseguiu estudos na Escola do Exército. Quando terminou o curso de Engenharia, em 1860, foi contratado pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, para a construção das linhas do Norte e Leste.
Depois da Companhia Real, a sua carreira desenrolou-se no terreno e nos círculos político-parlamentares de decisão e poder, nas fileiras do Partido Regenerador, beneficiando da influência política da sua família. Contribuiu para a planificação da política de fomento, em particular para a expansão da rede ferroviária.
Em 1864, ingressou no MOPCI e, em 1865, no parlamento, onde, dois anos depois, redigiu o projeto de lei que autorizou a construção das linhas do Minho e Douro pelo Estado (iniciada em 1872). A sua primeira grande responsabilidade técnica foi, porém, a operação dos caminho de ferro de Sul e Sueste (1868–1872), nacionalizados em 1867. Esta tarefa não o impediu de voltar a São Bento em 1868 e 1870. Seguiu-se a planificação e construção da linha do Douro. Tendo iniciado as obras na Régua em 1875, foi sem surpresa que, neste ano, foi eleito por este círculo para o parlamento, tendo sobraçado ainda a pasta das Obras Públicas. Quando o executivo caiu, em 1877, regressou à direção das linhas do Sul e Sueste, aproveitando a ocasião para intervir também na discussão sobre o plano de rede ferroviária em curso na Associação de Engenheiros Civis Portugueses. Em 1878, com o regresso de Fontes ao poder, retomou os cargos de deputado e ministro. Deu continuidade aos debates mantidos na Associação de Engenheiros e apresentou ao parlamento uma proposta de lei para fixar a malha ferroviária nacional. Se aprovado, o diploma limitaria a ação dos governos na concessão de novas linhas, razão pela qual nunca foi posto à discussão. Lourenço de Carvalho acompanhou a demissão do governo em 1879. A sua experiência guindou-o, em 1881, à Junta Consultiva de Obras Públicas e Minas, órgão consultivo do MOPCI, onde se manteve até 1888. Acumulou estas funções com as de par do reino (eleito em 1885 e 1890) e de vice-governador do Crédito Predial. Morreu em 1891, de doença prologada.
Lourenço de Carvalho foi um importante elemento da afirmação dos engenheiros nacionais na sociedade portuguesa do último quartel do século XIX. A sua ação na linha do Douro provou que técnicos lusos, formados em Portugal, podiam perfeitamente assumir-se como agentes do progresso prometido pelo Fontismo. Como ministro, tentou também expressar a capacidade dos engenheiros para planificar aquela agenda desenvolvimentista, sendo disto exemplo a sua proposta de lei para fixar a rede férrea nacional. Ao a não conseguir aprovar, acabou, contudo, por igualmente demonstrar que as competências técnicas dos engenheiros estavam impertinentemente limitadas pelos interesses políticos.
Arquivos
Lisboa, Acervo Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Processos Individuais, Cx. 34, Lourenço António de Carvalho, PT/AHMOP/PI/034/045.
Bibliografia sobre o biografado
Macedo, Marta Coelho de. Projectar e construir a nação. Engenheiros e território em Portugal (1873–1893). Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2012.
Pereira, Hugo Silveira. “A política ferroviária nacional (1845-1899).” Tese de doutoramento. Porto: Universidade do Porto, 2012.
Revista de Obras Públicas e Minas 23 (1892): 7–8.Soares, Maria Isabel. “Lourenço António de Carvalho (1837-1891).” In Dicionário Biográfico Parlamentar, ed. Maria Filomena Mónica, vol. 1: 658–660. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2005–2006.