Vandelli, Domingos (ou Domenico)

Pádua, Itália, 8 julho 1735 — Lisboa, 27 junho 1816

Palavras-chave: Academia das Ciências de Lisboa, Universidade de Coimbra, história natural, jardins botânicos.

DOI: https://doi.org/10.58277/KMLK7838

Domenico Vandelli, italiano de nascimento e educação, fixou-se em Portugal em 1764. Foi com o prenome adaptado de Domingos que as suas contribuições científicas mais conhecidas conheceram letra impressa, sendo unanimemente reclamado como figura relevante do pensamento científico português de finais do século XVIII e inícios do século XIX. O seu percurso científico foi trilhado entre a história natural e a economia política, demonstrando a fertilização mútua de áreas do saber que, na época, ainda não estavam totalmente autonomizadas. Contribuiu de forma decisiva para a criação da Academia Real das Ciências de Lisboa e foram de sua autoria as contribuições mais numerosas e de maior alcance científico publicadas nas coleções de Memórias Económicas daquela instituição.

Foi em Pádua, cidade natal, que Domenico Vandelli concluiu a sua formação universitária nos domínios da medicina e da história natural. Através dos seus primeiros livros, escritos em latim, através das notícias que mais tarde deu das coleções de objetos botânicos, mineralógicos e paleontológicos destinados ao seu museu privado e, sobretudo, através da correspondência que manteve com Carl Lineu, confirmou-se a sua vocação de naturalista atento ao desenvolvimento científico em curso na Europa ilustrada de meados do século XVIII. A boa fama que certamente obteve junto de alguns cientistas e literatos portugueses que na época viviam em Itália, terá estado na origem do convite que lhe foi feito pelo Marquês de Pombal para que se estabelecesse em Portugal. Assim aconteceu, no ano de 1764, integrando uma comitiva de outros professores italianos contratados para lecionar matérias científicas (matemática, química, física e história natural) no Real Colégio dos Nobres. Esta experiência pedagógica fracassou, dada a baixa apetência da aristocracia portuguesa em proporcionar formação científica adequada aos seus descendentes. Regressou temporariamente a Itália para de novo ser chamado por Pombal, em 1765, para projetar e construir o Jardim Botânico da Ajuda, que vira a ser inaugurado em 1768. A partir de 1772, Vandelli e os restantes professores italianos que haviam colaborado na tentativa de inovação pedagógica pre-universitária do Colégio dos Nobres, acabariam por se fixar na cidade de Coimbra, preparando e dando execução à reforma iluminista dos Estatutos da Universidade.

Domingos Vandelli lecionou na Universidade de Coimbra as disciplinas de química e de história natural, fundou o Laboratório de Química e o Gabinete de História Natural da Universidade (em grande parte constituído pelas peças da sua coleção privada trazida de Pádua) e colaborou na criação do Jardim Botânico daquela cidade. Soube aproveitar as condições especiais que lhe foram oferecidas pela Câmara de Coimbra e dedicou-se à produção industrial de cerâmica. Em 1779 e anos precedentes participou ativamente na criação da Academia Real das Ciências de Lisboa, podendo considerar-se como um dos principais mentores da ação da Academia no domínio económico.

Os escritos de Vandelli destacaram-se de forma nítida por entre a abundante literatura de teor económico produzida sob a égide da Academia Real das Ciências de Lisboa. Da sua pena saíram textos programáticos e orientadores do que viria a constituir-se como um dos mais importantes núcleos documentais para o estudo da economia e do pensamento económico português na fase final do antigo regime. As memórias que Vandelli publicou com o selo da Academia revelam uma atenção de pendor descritivo sobre os recursos produtivos do reino e suas colónias, especialmente o Brasil. O seu propósito era claro e as suas intenções transparentes: proceder a um inventário rigoroso e sistemático de recursos e matérias-primas minerais, vegetais e animais, tendo em vista a sua exploração ou utilização económica. Para isso socorreu-se dos seus conhecimentos nos diferentes ramos da história natural e procurou, através de processos sistemáticos de observação e experimentação, demonstrar a utilidade económica de tais conhecimentos.

A criação e administração de jardins botânicos, museus e laboratórios de história natural, a promoção e realização de viagens filosóficas e a organização de inquéritos sobre atividades agrícolas, foram alguns dos instrumentos que privilegiou na construção do conhecimento sobre os recursos disponíveis. Porém, os testemunhos escritos que deixou são comprovativos de uma intenção programada de exercício científico que ultrapassou a simples obtenção de níveis acrescidos de conhecimento, que se afirmou como instrumento de configuração de uma estratégia e de um modelo de desenvolvimento económico, no qual cumpriam papel central os recursos naturais do império, especialmente do Brasil.

Sempre movido por intentos pragmáticos, Vandelli proporcionou informação metodicamente organizada sobre “algumas produções naturais deste reino, das quais se poderia tirar utilidade”, ou “sobre algumas produções naturais das conquistas, as quais ou são pouco conhecidas ou não se aproveitam”, ou “sobre a maior utilidade que se pode tirar de várias produções do Brasil”, ou ainda “sobre as produções naturais do reino, e das conquistas, primeiras matérias de diferentes fábricas, ou manufaturas”. Os títulos das memórias de Vandelli aqui transcritos são suficientemente elucidativos do objetivo que se propunha cumprir e para o qual contava com o beneplácito institucional da Academia Real das Ciências de Lisboa. Através desta instituição era possível construir formas disciplinadas de recolha de informação e manter ativa uma rede de correspondentes e coletores de espécies destinadas a laboratórios e museus.

Para além de explicar o uso imediato que poderia ser feito das matérias-primas minerais, vegetais e animais, Vandelli transmitiu também alguma preocupação com a possível alteração da estrutura produtiva do país, nomeadamente no que se refere à modificação da sua dependência em relação à importação de bens essenciais e sua substituição por bens produzidos internamente. Deste modo, Vandelli ultrapassou a simples descrição naturalista de recursos e centrou a sua análise nos obstáculos físicos ou morais (isto é, naturais ou sociais) do desenvolvimento do setor agrícola, ou ainda nas condições que tornariam possível uma utilização eficiente e sem desperdício dos recursos naturais, humanos e técnicos, tanto na produção como na circulação de produtos e matérias-primas. Esta componente de diagnóstico foi coerentemente acompanhada de propostas de reforma e melhoramento que configuravam uma opção estratégica de desenvolvimento económico do país tendo por base a agricultura.

Tal estratégia foi delineada por Vandelli numa das suas mais célebres memórias, com o sugestivo título de Memória sobre a preferência que em Portugal se deve dar à agricultura sobre as fábricas. Vandelli desenvolveu neste texto uma crítica ao sistema de protecionismo manufatureiro seguido em França por Colbert, crítica esta que também deverá ser lida como uma avaliação negativa da congénere política económica pombalina. Também apresentou os seus argumentos a favor de uma maior liberdade de comércio interno e externo como meio de garantir a redução do preço dos bens agrícolas, acompanhando propostas semelhantes então em voga na literatura económica europeia. Mas o que melhor caracteriza o seu texto é a aposta inequívoca numa orientação agrarista da política económica, à qual se subjugaria o processo de desenvolvimento fabril.

O agrarismo vandelliano apresentava algumas semelhanças com o discurso económico produzido pelos fisiocratas franceses. Nalguns momentos, Vandelli chegou mesmo a advogar uma conceção da produtividade exclusiva da agricultura e também se aproximou do conceito fisiocrático de bom preço. Mas ficaram por aí as suas incursões no terreno teórico cultivado pelos discípulos de François Quesnay, autor do célebre Tableau Économique que Vandelli certamente teve oportunidade de ler. A sua recetividade em relação às ideias fisiocráticas limitou-se à aceitação de uma visão da atividade económica que tinha como eixo e motor o setor agrícola.

A importância deste texto de Vandelli não decorre apenas da clareza expositiva com que o autor apresentou as suas orientações em matéria de doutrina e política económicas. Vale também pela forma como consubstanciou o objeto de inquérito e o programa de reformas subjacentes ao conjunto de textos publicados na série de Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa.

A partir do ano de 1791, e após a sua jubilação da Universidade de Coimbra, Domingos Vandelli pôde acompanhar mais de perto os trabalhos da Academia. Mas a sua atenção voltou-se também para outros horizontes. Em Lisboa passou a exercer os cargos de Diretor do Jardim Botânico da Ajuda (regressando assim à instituição que fundara em 1768), e de Deputado da Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação (para a qual fora nomeado em 1788). A sua proximidade da corte vai proporcionar a oportunidade de afirmar os seus méritos como observador e analista de assuntos de âmbito político, diplomático e financeiro. Esta nova etapa da sua vida revela, por conseguinte, uma mudança no objeto fundamental dos seus estudos: ao ciclo de escritos de carácter descritivo e de análise dos problemas estruturais com que se deparava a economia portuguesa, sucede-se um novo ciclo de escritos em que Vandelli surge a discutir temas de acesso reservado a um público mais vasto, com destinatários restritos, opinando sobre a condução da diplomacia externa portuguesa e esboçando propostas de reorganização financeira.

Num conjunto vastíssimo de memórias e pareceres que redigiu nos anos de 1796 e 1797—os quais se mantiveram inéditos até 1994—Vandelli deu conta da sua preocupação perante o envolvimento português nos confrontos de guerra e de resistência às pretensões hegemónicas francesas. A participação de tropas portuguesas nas campanhas do Roussillon e Catalunha e os riscos de um alastramento dos conflitos e palcos de guerra, justificavam a antecipação de reformas que viabilizassem o financiamento dos gastos militares adicionais. Tal era o pretexto para as sugestões de Vandelli sobre contenção de despesas supérfluas, sobre a racionalização da administração financeira, a elaboração de orçamentos e a melhoria dos sistemas de arrecadação fiscal, e ainda sobre o lançamento de novos impostos e a ampliação das fontes de rendimento da coroa através da alienação de uma parte dos seus próprios bens.

As reformas propostas por Domingos Vandelli denotavam alguma sintonia com o programa de saneamento fiscal e financeiro delineado e executado por D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Uma diferença, porém, viria a revelar-se dramática para Vandelli: na conjuntura das Guerras Napoleónicas—em que Portugal manteve sempre firme a sua aliança com a Inglaterra—Vandelli manifestou-se claramente contra tal opção estratégica e em diversas ocasiões confessou a sua simpatia por uma atitude de cedência em relação às pretensões hegemónicas francesas.

Durante o período de ocupação francesa em Lisboa, a colaboração de Vandelli com as tropas de Junot terá chegado ao ponto de proporcionar o desmantelamento e transferência para França de importantes coleções museológicas de história natural, sobretudo de espécies colhidas no Brasil. Por essas e outras razões, e não obstante a sua idade já muito avançada, viria a conhecer a expatriação e o exílio na Ilha da Madeira, em 1810, após a entrada vitoriosa do Duque de Wellington em Lisboa. Por pressão de alguns pares académicos de outros países viria a ser libertado e, após breve passagem por Londres, regressaria a Portugal em 1815, vindo a morrer no seu país de adoção no ano seguinte, mais de cinquenta anos volvidos desde a sua primeira chegada a Lisboa.

A desgraça a que o velho Vandelli foi votado no final da sua vida não fez esquecer a obra pioneira que desenvolveu em prol do conhecimento das características dos recursos naturais de Portugal e do seu império, tendo em vista a sua utilização económica.

José Luís Cardoso
Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa

Arquivos

Lisboa, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Arquivo Histórico do Museu Bocage

Obras

Aritmética Política, Economia e Finanças (1770-1804). Lisboa: Banco de Portugal, 1994. [Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, ed. José Vicente Serrão].

Memórias de História Natural. Porto: Porto Editora, 2003. [Coleção Ciência e Iluminismo, ed. José Luís Cardoso].

Bibliografia sobre o biografado

Brigola, João Carlos. Colecções, Gabinetes e Museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2003.

Cardoso, José Luís. “Os escritos económicos e financeiros de Domingos Vandelli.” Ler História 13 (1988): 3–-51.

Cardoso, José Luís. O Pensamento Económico em Portugal nos Finais do Século XVIII (1780-1808). Lisboa: Editorial Estampa, 1989.

Silva, José Bonifácio de Andrade e

Santos, Capitania de São Paulo, Brasil, 13 junho 1763 — Ilha de Paquetá, Brasil, 6 abril 1838

Palavras-chave: mineralogia, geognosia, Intendência Geral de Minas, Academia de Minas de Freiberg, Academia das Ciências de Lisboa, malária.

DOI: https://doi.org/10.58277/NARE4042

José Bonifácio de Andrada e Silva foi um mineralogista e estadista. O seu pai, Bonifácio José Ribeiro de Andrada foi coronel e detentor de uma fortuna considerável, e a mãe, Maria Bárbara da Silva, prima do marido, descendia dos condes de Bobadela. Os Bobadela-Freire de Andrade constituíam um dos ramos de uma abastada e respeitada família nobre do norte de Portugal.

Primeiramente instruído pelo pai, José Bonifácio foi para São Paulo em 1777, tendo ali estudado gramática, retórica, filosofia e francês sob a orientação do franciscano Manuel da Ressurreição, sagrado bispo de São Paulo por Frei Manuel do Cenáculo de Vilas Boas, em 1774. Em 1783, foi enviado para Portugal a fim de completar a sua educação, matriculando-se na Universidade de Coimbra, que fora reformada em 1772 pelo marquês de Pombal, onde estudou matemática, filosofia natural, que na época abrangia a astronomia e a história natural, e direito, tendo concluído os estudos na Faculdade de Filosofia, em 1787, e na Faculdade de Leis, em 1788. 

Na sua juventude coimbrã, José Bonifácio cultivou igualmente a poesia e as ideias expressas nos seus poemas foram muitas vezes explicitamente inspiradas em Leibniz, Descartes e Newton. Leu diversos autores clássicos e contemporâneos, tais como Montesquieu, Locke, Pope, Virgílio, Horácio, Camões e Rousseau, sendo Voltaire o filósofo que mais o influenciou.

Com o apoio de um familiar, o duque de Lafões, parente da família real e um dos fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa (1779), Bonifácio tornou-se membro desta instituição em 1789, apresentando neste ano o seu primeiro trabalho, intitulado “Memória sobre a pesca das baleias e extração do seu azeite; com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias”.

Em 1790, José Bonifácio casou com a irlandesa Narcisa Emília O’Leary. Entretanto, o duque de Lafões foi exercendo influência junto de D. Maria I para que esta enviasse Bonifácio para o estrangeiro numa missão científica, que se prolongou por um decénio. O principal objetivo foi obter e trazer para Portugal informações teóricas e práticas sobre química, mineralogia, exploração de minas e metalurgia, áreas então em franco desenvolvimento na Europa em resultado da revolução industrial. 

Bonifácio deixou Portugal na companhia de dois naturalistas: Joaquim Pedro Fragoso de Sequeira e Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt Aguiar e Sá, ambos igualmente nascidos no Brasil. Entre 1790 e 1791, estudou mineralogia com René Juste Haüy, botânica com Antoine Laurent de Jussieu, química e mineralogia com Jean-Antoine Chaptal e Antoine François de Fourcroy e frequentou as aulas de Jean-Pierre-François Guillot-Duhamel na Escola de Minas de Paris. Ainda em 1790, apresentou um trabalho, em coautoria com o irmão, Martim Francisco de Andrada e Silva, à Sociedade de História Natural, intitulado “Mémoire sur les Diamants du Brésil”, que lhe valeu o ingresso nesta instituição no ano seguinte. Algum tempo antes, foi eleito para a Sociedade Filomática, um passo que normalmente precedia a filiação na Academia das Ciências de Paris. Na realidade, foi, mais tarde, membro-correspondente do Instituto de França, instituição criada por Napoleão Bonaparte, que agrupou as cinco principais academias francesas, incluindo a Academia das Ciências. Durante a sua estadia em França, foi testemunha da “hidra fatal” da Revolução Francesa, liderada por “homens solapados que se apregoam amigos do povo”. Bonifácio repudiou-a por diversos motivos, entre os quais seus efeitos sangrentos.

José Bonifácio foi depois para os estados germânicos, onde frequentou, entre 1792 e 1794, os cursos de geognosia e minas de Abraham Gottlob Werner na famosa Academia de Minas de Freiberg. Ali foi colega e amigo dos prussianos Alexander von Humboldt e Christian Leopold von Buch, do dinamarquês Jens Esmark e do espanhol Andrés Manuel del Rio, todos naturalistas de renome. Na Academia de Freiberg, estudou ainda matemática pura e aplicada com Johann Friedrich Lempe, direito e legislação mineira com Josef Köhler, química mineral com Johann Klotzsch, química prática com Johann Carl Freisleben e metalurgia com Wilhelm August Eberhard Lampadius.

Visitou diversas minas na Áustria e viajou por Itália, onde privou com Alessandro Volta, e pela Grã-Bretanha, onde conheceu Joseph Priestley. Em Itália, dedicou-se aos estudos geológicos, o que o levou a escrever em 1794 uma dissertação intitulada “Viagem Geognóstica aos Montes Eugâneos”, na qual, enquanto neptunista na linha de Werner, se opôs às teorias vulcanistas sobre essa mesma região italiana, defendidas por Johann Jacob Ferber, Alberto Fortis e Lazzaro Spallanzani. Entre 1796 e 1799, viajou pela Suécia, Noruega e Dinamarca, onde teve a oportunidade de frequentar cursos de mineralogia em Uppsala com Torbern Bergman e, as lições de Peter Christian Abilgaard em Copenhaga. Visitou ainda minas na Escandinávia, em Arendal, Sahla, Krageroe e Langbanshyttan. Destas visitas resultou a descoberta de doze novos minerais (quatro novas espécies e oito variedades de espécies conhecidas). As quatro novas espécies de minerais foram por ele designadas, respetivamente, petalite, espodumena, criolite, escapolite. As oito variedades que pensou serem novas espécies foram designadas wernerite (uma variedade de escapolite), acanticónio (uma variedade de epídoto), salita (um nome que hoje se aplica às piroxenas comuns), cocolite (uma variedade de piroxena), ictioftalmite (uma mistura de apofilite com indicolite e alocroíte), indicolite (correspondente à turmalina azul), afrisite (uma variedade de turmalina negra) e alocroíte (correspondente à granada). Todos estes minerais foram descritos num artigo intitulado “Kurze Angabe der Eigenschaften und Kennzeichen einiger neuen Fossilien aus Schweden und Norwegen nebst einigen chemischen Bemerkungen über dieselben”, publicado na revista alemã Allgemeines Journal der Chemie.

Este estudo teve uma considerável repercussão na Europa, tal como revelam as diversas traduções da versão original alemã. Nele, Bonifácio deu especial ênfase à determinação do peso específico dos minerais, que calculou com grande precisão. O peso específico era, à época, um parâmetro fundamental para a identificação de minerais, uma vez que o fenómeno do isomorfismo era ainda desconhecido, a escala de Mohs não existia e os sistemas cristalinos ainda não tinham sido estabelecidos. Os mineralogistas tinham de confiar integralmente na determinação rigorosa de propriedades como a clivagem, a cor, a dureza aproximada, as formas de cristalização e as propriedades químicas. Dois dos minerais identificados por José Bonifácio adquiriram particular importância na história da classificação periódica dos elementos químicos: a petalite e a espodumena, originalmente identificados na Suécia. Ambos os minerais são silicatos, mas foi Martin Klaproth que, alguns anos mais tarde, determinou a natureza da espodumena como um silicato de alumínio. No entanto, a massa total do mineral excedia sempre a soma das massas respetivas de alumínio e silício. Só em 1818, um estudante de Jöns Jacob Berzelius, Johann August Arfwedson, concluiu, através de uma minuciosa análise da petalite, que este mineral incluía uma base contendo um metal ao qual deu o nome de lítio. O mesmo ocorreu com a espodumena, na qual Humphry Davy e William Thomas Brande identificaram, independentemente, a presença de lítio.

Na Escandinávia, José Bonifácio recusou o convite do príncipe da Dinamarca para inspetor das minas norueguesas. Após a estadia no norte da Europa, visitou a Bélgica, a Holanda, de novo os estados germânicos, a Hungria, a Boémia, a Turquia e a Inglaterra. Com 37 anos, tornara-se membro das mais relevantes instituições científicas europeias, como a Sociedade Mineralógica de Iena, a Academia de Berlim, a Academia de Estocolmo, a Sociedade Geológica de Londres e a Sociedade Werneriana de Edimburgo.

Em 1801, regressou a Portugal e as suas atividades foram oficialmente reconhecidas pela Coroa que o nomeou para diversos cargos, que nem sempre eram pagos e, frequentemente, eram mal pagos, sendo encarados como distinções e sinais de reconhecimento oficial. José Bonifácio rapidamente se sentiu submergido pelo excesso de tarefas administrativas, que, muitas vezes, implicavam a cobertura de todo o país, destacando-se as de membro do Tribunal de Minas, intendente-geral das Minas e Metais do Reino, administrador das minas de carvão de Buarcos e das minas e fundição de ferro de Figueiró dos Vinhos e inspetor das matas e florestas. Foi também nomeado para a cátedra de Metalurgia da Universidade de Coimbra, com um contrato por seis anos, mas esta experiência revelou-se frustrante. A mentalidade dominante e a falta de instalações e equipamentos não lhe permitiram prosseguir os seus planos de modernização do ensino da mineralogia, que considerava livresco e arcaico. Numa tentativa de ultrapassar estas dificuldades, recorreu à sua coleção particular de minerais, que sabia ser de grande qualidade e com potencial para se tornar uma das melhores da Europa. Foi também nomeado diretor do Real Laboratório da Casa da Moeda, em 1801, ficando encarregado de aí organizar aulas práticas de química e docimasia, e, em 1802, diretor das obras de reflorestamento da orla marítima portuguesa. Enquanto diretor do laboratório da Casa da Moeda, Bonifácio orientou diversos projetos de investigação. Em 1814, publicou, em conjunto com João Croft, Sebastião de Mendo Trigoso e Bernardino António Gomes, um artigo sobre o quinino que resultou de pesquisas realizadas em 1811, efetuadas no contexto da busca, promovida pelo governo português, de um substituto brasileiro da quinquina peruana. Esta substância era amplamente utilizada como antipirético, sobretudo na luta contra a malária. Pela vastidão dos conhecimentos de química adquiridos no estrangeiro, orientou as investigações subsequentes realizadas no laboratório da Casa da Moeda por Alexandre António Vandelli, e pelo médico Bernardino António Gomes, tendo este último isolado, por cristalização da denominada Chinchonina, a substância ativa de carácter básico (alcaloide) presente na casca da quina.

Em 1807, foi dispensado da docência na Universidade para melhor se dedicar à Intendência-Geral de Minas, sendo ainda nomeado superintendente do Encanamento do Rio Mondego e das Obras Públicas de Coimbra. Com as Invasões Francesas, participou ativamente na resistência às tropas napoleónicas, entre 1808 e 1810, tendo sido nomeado major em 1809, e depois tenente-coronel do Corpo Militar Académico. 

Após o conflito, retomou as suas funções anteriores. Ascendeu a vice-secretário da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1812, ano em que foi criada a Instituição Vacínica, liderada por Bernardino António Gomes. No ano seguinte, defendeu a adoção do Sistema Métrico Decimal e advogou a introdução da vacina antivariólica, em memória publicada em 1814.

Em 1810, José Bonifácio iniciou as suas tentativas de obter autorização para regressar ao Brasil, o que só conseguiu em 1819. A 24 de junho de 1810, fez um discurso de despedida na Academia Real das Ciências de Lisboa, em que expôs os seus pontos de vista sobre mineralogia e climatologia, declarando, igualmente, a sua intenção de traduzir para português a História Natural de Plínio. José Bonifácio dominava diversas línguas estrangeiras, sendo capaz de compreender onze línguas diferentes e de falar e escrever em seis.

Quando José Bonifácio regressou ao Brasil em 1819, recusou o cargo de reitor do Instituto Académico, uma espécie de universidade que D. João VI pretendia estabelecer no Rio de Janeiro. Em vez disso, dedicou-se a missões científicas, das quais resultaram planos para a exploração de recursos minerais e o estabelecimento de diversas indústrias. No seguimento da Revolução Liberal de 1820, as atividades científicas de Bonifácio terminaram em 1821, devido ao seu claro envolvimento político. O regresso a Portugal, em 1821, do rei D. João VI e da família real, assim como de muitos membros da aristocracia que se lhes juntaram, aliado às políticas aplicadas em Lisboa relativamente ao Brasil, conduziram a uma situação em que o príncipe D. Pedro, que tinha permanecido no Brasil, desafiou a autoridade paterna. José Bonifácio envolveu-se então nas campanhas militares comandadas pelo futuro imperador do Brasil, D. Pedro I. Em junho de 1821, José Bonifácio foi eleito vice-presidente da Junta Governativa de São Paulo, após o fracasso do governo imposto por Lisboa. Em dezembro desse mesmo ano, foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros. Nessa capacidade, desempenhou um influente papel devido, não só à sua competência diplomática, mas também à sua filiação na Maçonaria, onde atingiu o grau de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, em 1822. Após a proclamação da independência do Brasil, neste mesmo ano, foi nomeado ministro do Império, mas divergências políticas levaram-no a passar à oposição, na qual se tornou extremamente ativo. Em 1823, foi preso e deportado para Espanha, mas depressa se mudou para Talence (Bordéus, França), onde viveu durante seis anos. No exílio, dedicou-se à poesia, escrevendo diversos livros e traduzindo autores latinos como Virgílio e Píndaro.

De novo regressado ao Brasil, foi viver na ilha de Paquetá, eximindo-se a qualquer participação política. No entanto, com a crise de 1831, que culminou com a abdicação do imperador D. Pedro I, foi nomeado tutor do novo imperador D. Pedro II, então com cinco anos de idade. Esta nomeação fundou-se na estima e admiração que o anterior imperador lhe dedicava, mas, uma vez mais, a intriga política levou à sua demissão, sob a acusação de subversão, sendo então detido e colocado sob prisão domiciliária em Paquetá. Orgulhoso e perentório, o “Patriarca da Independência”, como passou a ser conhecido no Brasil, recusou-se a ir a tribunal. Finalmente, após algumas atribulações, acabou por ser absolvido em 1835.

Politicamente, as atividades de José Bonifácio pautaram-se por um profundo sentido de objetividade e pragmatismo, que foi da maior importância no processo de independência do Brasil. Anticolonialista, opôs-se aos empréstimos externos e à dependência económica. Em linhas gerais, o seu pensamento político caracterizou-se pela defesa de uma reforma agrária que se opunha ao latifúndio, do direito dos analfabetos ao voto, da extinção do tráfico de escravos e da abolição gradual da escravatura, bem como da integração dos índios. 

Ana Carneiro

Obras

Bonifácio, José e Martim Andrada. “Voyage minéralogique dans les provinces de Saint-Paul au Brésil.” Journal des Voyages 36 (1827): 216–227. 

Bonifácio, José, João Croft, Sebastião de Mendo Trigoso e Bernardino António Gomes. “Experiências Químicas sobre a Quina do Rio de Janeiro, Comparada com Outras.” Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa 3 (1814): 96–118. 

Bonifácio, José. “Kurze Angabe der Eigennschaften und Kennzeichen einiger neuen Fossilien aus Schweden und Norwegen, nebst einigen chemischen Bemerkungen über dieselben.” Allgemeines Journal der Chemie 4 (1800): 29–39.  

Bonifácio, José. “Mémoire sur les Diamants du Brésil.” Annales de Chimie 15 (1792): 82–88.

Bonifácio, José. “Memória sobre a Pesca das Baleias e Extracção de Seu Azeite; com Algumas Reflexões a respeito das Nossas Pescarias.” Memórias da Academia Real das Ciências e Lisboa 2 (1790): 388–412.

Bonifácio, José. “Memória sobre as Pesquisas e Lavras dos Veios de Chumbo de Chacim, Souto, Ventozelo e Vila de Rei, na Província de Trás-os-Montes.” História e Memória da Academia Real das Ciências de Lisboa 5 (1818): 77–91. 

Bonifácio, José. Apontamentos para a Civilização dos Índios Bravos do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, 1823.

Bonifácio, José. Representação à Assembleia Geral e Constituinte e Legislativa do Império do Brasil Sobre a Escravatura. Paris: Firmin Didot, 1825. 

Bibliografia sobre o biografado

Bruhns, Karl. Alexander von Humboldt. Eine wissenschaftliche Biographie. Leipzig: F. A. Brockhaus, 1872.

Coelho, José Maria Latino. Elogio Historico de José Bonifácio de Andrada e Silva, lido na Sessão Pública da Academia Real das Sciencias de Lisboa em 15 de Maio de 1877. Lisboa: Typographia da Academia, 1877.

Cruz, Guilherme Braga da. “Coimbra e José Bonifácio de Andrada e Silva.” Memórias da Academia das Ciências de Lisboa – Classe de Letras 20 (1979): 216–276.

Falcão, Edgard de Cerqueira. Obras Científicas, Políticas e Sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. Santos: Câmara Municipal de Santos, 1963. 3 vols. 

Filgueiras, Carlos. “A Química de José Bonifácio.” Química Nova 9 (1986): 263–268.

Haüy, René Juste. Traité de Minéralogie. Paris: Imprimerie de Delance, 1801. 4 vols. 

Lima, Oliveira. O Movimento de Independência:18211822. São Paulo: Companhia de Melhoramentos de São Paulo, 1922.

Sousa, Octávio Tarquínio de. O Pensamento Vivo de José Bonifácio. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961.

Gouveia, António Jorge Andrade de

Guarda, 18 junho 1905 — Coimbra, 13 julho 2002 

Palavras-chave: Universidade de Coimbra, Química, História das Ciências, Academia das Ciências de Lisboa.

DOI: https://doi.org/10.58277/YKAZ8015

António Jorge Andrade de Gouveia, filho de António Carvalho de Gouveia e de Angelina da Soledad Sarah Bette Andrade de Gouveia, frequentou a Escola Primária de São Vicente da Guarda e fez os seus estudos secundários no Colégio da Via Sacra e no Liceu Alves Martins, em Viseu. 

Em outubro de 1922, matriculou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Ciências Físico-Químicas, em 1926. Ainda antes de terminar o curso, em agosto de 1925, foi nomeado, primeiro assistente da Faculdade de Ciências. Reconduzido neste cargo académico até 1930, foi provido definitivamente neste ano, no cargo em questão. 

Por indicação e recomendação da Congregação da Faculdade, de outubro a dezembro de 1927, estagiou na Universidade de Paris, frequentando os cursos de Marie Curie e Jean Perrin, estudando simultaneamente vários compostos de alumínio, estanho e tungsténio no Laboratório de Química Inorgânica do Instituto de Química Aplicada, sob a orientação e direção do professor Raymond Marquis.

Em 1931, passou a trabalhar em Inglaterra, na Universidade de Liverpool, sob a orientação do professor Richard Alan Morton (1899–1977). Aí estudou vários compostos orgânicos, em particular o índigo, o naftaleno e outros compostos aromáticos e sua aplicação ao estudo de problemas biológicos, utilizando técnicas espectroscópicas de absorção no visível e ultravioleta. Obteve, em 7 de julho de 1934, o grau de doutor com a tese “Contributions to the Study of the Role of the Double Bond in the Absorption Spectra of Organic Compounds”.

Em agosto de 1935, foi-lhe concedida equivalência ao grau de doutor em Ciências Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra. Foi então contratado pela Faculdade de Ciências como equiparado a professor catedrático. Primeiro assistente desde abril de 1942, em janeiro de 1944, foi aprovado por unanimidade para professor extraordinário de Química, em concurso onde apresentou a dissertação “Contribuição para o estudo das oleorresinas portuguesas do Pinus pinaster e do Pinus pinea – Estudo espectrofotométrico dos ácidos resínicos e seus derivados”. Em junho deste mesmo ano, foi aprovado para o lugar de professor catedrático do mesmo grupo.

Foi secretário da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra de 1945 a 1949. Em 1955 foi nomeado diretor do Laboratório Químico, cargo que exerceu até setembro de 1975, acumulando funções com o cargo de diretor da Faculdade de Ciências, nos anos de 1962–1963, e com o cargo de reitor da Universidade de Coimbra, a partir de junho de 1963 e até fevereiro de 1970. 

Foi membro da Junta de Educação Nacional nos anos de 1956, 1962 e 1965. Em 1963, foi nomeado para membro da Comissão Permanente da Organização circum-escolar do Ensino Superior. No mesmo ano, foi nomeado presidente da Comissão Administrativa das Obras da Cidade Universitária. Em 1944, foi admitido como sócio do Instituto de Coimbra; e, em 1992, foi admitido como membro da New York Academie Advanced. Em 1969, integrou a Comissão Nacional para a Celebração do V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama. Neste mesmo ano, representou Portugal na Assembleia Geral dos Reitores das Universidades Europeias, em Genebra. Foi ainda Presidente da Sociedade Filantrópico-Académica da Universidade de Coimbra, cargo que deixou ao tomar posse como reitor, por falta de tempo e por entender que as funções que exercia nessa sociedade eram incompatíveis com o cargo de reitor. Em 1963, tornou-se sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, passando a efetivo em 1973.

Como reconhecimento pelos elevados serviços prestados, foram-lhe conferidos os títulos e as insígnias de Grande Oficial da Ordem de Mérito da República Italiana, em 27 de dezembro de 1968, e de Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada, da República Portuguesa, em 30 de maio de 1996.

Em sua homenagem, o Departamento de Química da Universidade de Coimbra criou, em 1995, o Prémio Professor António Jorge Andrade de Gouveia, destinado a “galardoar os alunos de licenciatura que se salientem no estudo da ciência química”.

Anotados os passos principais da sua carreira académica, deve relevar-se aqui a atividade científica a que Andrade Gouveia se dedicou toda a sua vida de professor universitário. Nos primeiros anos da década de 1930, após o seu doutoramento em Inglaterra, regressou ao Laboratório Químico da Universidade de Coimbra e empenhou-se completamente na formação de uma equipa de investigadores que, liderada por si, equipou o Laboratório com a aparelhagem necessária, nomeadamente no domínio da espectrofotometria, votada a investigações de química orgânica centradas no estudo sobre o valor nutritivo de várias espécies de peixes e moluscos das costas portuguesas, determinando, em particular, os seus conteúdos de proteínas e lípidos, bem como vitaminas A e D. Rapidamente, estes estudos se estenderam a várias espécies de peixes da costa de Angola, em estreita colaboração científica com o Agrupamento Científico de Estudos Ultramarinos, envolvendo amostras preparadas em Angola e remetidas por via aérea para a metrópole, investigando o seu teor em tiamina, riboflavina, niacina e vitamina A, bem como de proteínas e gorduras. Já nos finais da década de 1950, o grupo dedicou-se ao desenvolvimento de uma técnica analítica espectrofotométrica para determinação quantitativa de pró-vitaminas D, baseada na reação de cor destas substâncias com soluções saturadas de cloreto de antimónio e dicloreto de etileno, em presença de pequenas quantidades de iodo, e estabeleceu uma estreita e muito dinâmica colaboração com os Laboratórios Atral no estudo da plumbagina, uma naftoquinona extraída de várias plantas com numerosas propriedades farmacológicas, procedendo à síntese química do composto e à preparação de vários derivados hidrossolúveis do mesmo, determinando o seu poder químio-terapêutico. 

Para além de toda esta sua atividade de investigação científica no domínio da química orgânica, Andrade de Gouveia fomentou com grande interesse o estudo da história e filosofia das ciências em Portugal, com particular ênfase nos períodos renascentista e pós-pombalino. Enquanto diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, a ele se deve a criação de um curso livre de História da Ciência ministrado, a seu convite, nos anos de 1962–1964, pelo professor Reijer Hooykaas (1906–1994), o primeiro professor de História das Ciências numa universidade holandesa (1946) e professor da mesma disciplina na Universidade Livre de Amsterdão, nos anos de 1946–1972. Já aposentado, na Academia de Ciências de Lisboa, em 1983, Andrade Gouveia estabeleceu relações muito estreitas com o professor Allen George Debus (1926–2009), eminente historiador das ciências, nomeadamente da química, da Universidade de Chicago, e com o então presidente da International Union of History and Philosophy of Science (IUHPS)William R. Shea (1937), professor de História e Filosofia da Ciência na Universidade McGill de Montreal (Canadá), em colaboração com os quais viria a organizar na Academia de Ciências de Lisboa dois marcantes colóquios sobre o desenvolvimento da ciência em Portugal (o primeiro de 15 a 19 de abril de 1985, sobre a ciência em Portugal até inícios do século XX, e o segundo de 13 a 17 de novembro de 1989, sobre a ciência em Portugal no século XX). Ainda em colaboração com os mesmos professores, organizou, em Coimbra, de 18 a 22 de abril de 1988, a VII Conferência Internacional da IUPHS, cujas atas, publicadas nesse mesmo ano pela Science History Publications (Estados Unidos da América) com o título Revolutions in Science – Their Meaning and Relevance, lhe foram dedicadas pelo editor, o próprio professor William R. Shea. 

António M. Amorim da Costa
Departamento de Química, Universidade de Coimbra

Arquivos

Coimbra, Arquivo da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra 

Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Curriculum Vitae, 1996

Lisboa, Arquivo da Academia das Ciências de Lisboa

Obras

Andrade de Gouveia, António Jorge. “Análise Química da água de abastecimento da cidade de Coimbra (Rio Mondego).” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 1 (1931): 33–38.

Andrade de Gouveia, António Jorge. “Desenvolvimento da Química e Ciências Relacionadas e seu Impacto com Actividades Científicas e Culturais em Portugal.” Revista Portuguesa de Química 29 (1987): 127–139.

Andrade de Gouveia, António Jorge. “Determinações quantitativas de pro-vitaminas D.” In Memórias da Academia das Ciências de Lisboa 8 (1962): 121–134.

Andrade de GouveiaAntónio Jorge. “Livros do século XV e XVI sobre artes químicas e simples e drogas, nas Livrarias da Universidade e de Colégios de Coimbra.” Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Ciências 22 (1978-1979): 289–309.

Andrade de Gouveia, António Jorge. “Os paradigmas da afinidade química e a Faculdade de Filosofia nos fins do séc. XVIII.” Memórias da Academia de Ciências de Lisboa 22 (1978): 17–26.

Andrade de Gouveia, António Jorge. “Químico esclarecido luso-brasileiro: Vicente Seabra (1764-1804).” Memórias da Academia de Ciências de Lisboa 21 (1976-1977): 7–35.

Andrade de GouveiaAntónio Jorge. “Vicente de Seabra e a Revolução Química em Portugal.” In História e Desenvolvimento da Ciência em Portugal, vol. 1, 335–351. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1986.

Andrade de Gouveia, António Jorge. “Vicente Seabra and the Chemical Revolution in Portugal.” Ambix 32 (3) (1985): 97–109.

Andrade GouveiaAntónio Jorge. “Posições de Garcia d’Orta e de Amato Lusitano na ciência do seu tempo.” In História e Desenvolvimento da Ciência em Portugal, vol. 1, 303-333. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1986.

António Jorge Andrade de Gouveia e Fernando Pinto Coelho. “Determinações quantitativas de vitamina C em frutos e derivados.” Las Ciências 6 (1942): 483–491.

Andrade de Gouveia, António Jorge e Alfredo da Purificação Gouveia. “Contribuição para o estudo químico dos moluscos da costa portuguesa. I. Estudo analítico da espécie Loligo vulgaris Lamark.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 20 (1951): 5–20.

Andrade de Gouveia, António Jorge e Alfredo da Purificação Gouveia. “Determinação quantitativa da vitamina B12 em produtos naturais e farmacêuticos.” La Ricerca Scientifica 23 (1953): 23–26.

 Andrade de Gouveia, António Jorge e Alfredo da Purificação Gouveia. “Contribuições para o estudo químico de peixes da costa portuguesa I-Estudo analítico das espécies “Sardina pilchardus (Walbum) (sardinha) e Trachurus (L) (carapau).” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 19 (1950): 136–150.

 Andrade de Gouveia, António Jorge e Alfredo da Purificação Gouveia. “Contribuições para o estudo químico de peixes da costa portuguesa II. Carotenoides de Sardina pilchardus Walbaum.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 21 (1952): 166–169.

 Andrade de Gouveia, António Jorge e Alfredo da Purificação Gouveia. “Contribuiciones para el estudio químico de pescado de la costa portuguesa. Estudio analítico de las espécies de Sardina pilchardus (Walbum) (sardinha) e Trachurus (L) (Jusel).” Industria Conservera 7 (1951): 120–123.

Andrade de Gouveia, António Jorge e Fernando Pinto Coelho. “Determinações quantitativas de vitamina A pelo método espectrofotométrico. I Estudo de alguns óleos de fígado de bacalhau de empresas de pesca portuguesas.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 6 (4) (1936): 191–199.

 Andrade de Gouveia, António Jorge, Alfredo da Purificação Gouveia, J. Anacoreta Correia e M. H. R. Fonseca. “Estudo químico de peixes da costa de Angola (Luanda). I-Teor de riboflavina e comportamento dos resíduos insaponificáveis.” In XXIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências. Coimbra, 1956.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Alfredo da Purificação Gouveia e M. H. R. Fonseca. “Ergosterol and 7-dehydrecholesterol colour reaction.” In XV Congresso da União Internacional de Química Pura e Aplicada. Lisboa: s. n., 1956. 

Andrade de Gouveia, António Jorge, Alfredo da Purificação Gouveia, J. Anacoreta Correia e M. H. R. Fonseca. “Contribuição para o estudo químico de peixes da costa de Angola. I- Estudo analítico de algumas espécies obtidas nas pecarias de Luanda.” Garcia de Orta, Revista da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar 4 (4) (1957): 531–555.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Alfredo da Purificação Gouveia e M. H. R. Fonseca. “Metalic Complexes with alicyclic unsaturated compounds.” In XVI Congresso Internacional de Química Pura e Aplicada. Paris: s. n., 1957.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Alfredo da Purificação Gouveia e M. H. R. Fonseca. “Reacção corada do ergosterol e do de-hidro-7 colesterol.” Revista Portuguesa de Química 1 (1) (1958): 15–36.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Fernando Pinto Coelho e Aires Pedroso de Lima. “Determinações quantitativas de ácido fítico. I-Estudo de farinhas portuguesas de trigo, centeio e milho.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 14 (1945): 35–49.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Fernando Pinto Coelho e Aires Pedroso de Lima. “Determinações quantitativas de ácido fítico. II-Estudo de produtos de panificação da Cidade do Porto.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 15 (1946): 55–76.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Fernando Pinto Coelho e Alfredo da Purificação Gouveia. “Complexos de cobalto bivalente com ácidos resínicos. I-Composição e estudo espectrofotométrico.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 22 (1953): 88–109.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Fernando Pinto Coelho e J. A. Correia. “Determinações quantitativas de vitamina C em bananas (Musa nana) provenientes da Ilha da Madeira.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 9 (1) (1941): 49–68.

Andrade de Gouveia, António Jorge, Fernando Pinto Coelho e Karl Schön. “Studies on the ultraviolet absorption spectra of proteins. I. Aminoacids. II. Dipeptides.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 6 (4) (1936): 391–413.

 Andrade de Gouveia, António Jorge, Fernando Pinto Coelho, Alfredo da Purificação Gouveia e L. J. Esteves Paz. “Determinações quantitativas de vitamina A pelo método espectrofotométrico. II-Estudo de óleos de fígado de atum (Thunnusthynnus, (L) de empresas de pesca do Algarve.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 11 (1945): 35–49.

Gouveia, Alfredo da Purificação e António Jorge Andrade de Gouveia. “Contribuição para o estudo químico do peixe seco de Angola. Algumas vitaminas e composição das proteínas em amino-ácidos.” Revista Portuguesa de Quimica3 (1962): 41–60.

Gouveia, Alfredo da Purificação, G. S. Figueiredo e António Jorge Andrade de Gouveia. “Plumbagina e compostos relacionados.” Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Ciências 14 (1970): 303–325.

Gouveia, Alfredo da Purificação, G. S. Figueiredo, A. M. Silva e António Jorge Andrade de Gouveia. “Estudo químico dos componentes da Plumbago zeylanica. Síntese de outros produtos afins.” Garcia de Orta, Revista da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar 16 (1968): 441–456.

Gouveia, Alfredo da Purificação, G. S. Figueiredo, A. M. Silva e António Jorge Andrade de Gouveia. “Métodos micro-analíticos da dosagem da plumbagina e naftoquinonas relacionadas, em soluções aquosas e meios fisiológicos. Diferenças de comportamento com a estrutura.” Revista Portuguesa de Química 12 (1970): 104–111.

Gouveia, Alfredo da Purificação, G. S. Figueiredo, A. M. Silva e António Jorge Andrade de Gouveia. “Estudo do Oleo Essencial de «Heteropyxis natalensis» Harv.” Revista Portuguesa de Química 14 (1972): 230–237.

Gouveia, Alfredo da Purificação, M. H. R. Fonseca e António Jorge Andrade de Gouveia. “Possíveis intermediários numa reacção de cor do ergosterol e do 7-de-hidro-colesterol.” In XXIV Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências. Madrid: s. n., 1958.

Gouveia, António Jorge Andrade de. Garcia d’Orta e de Amato Lusitano na Ciência do seu Tempo. Lisboa: Instituto Camões e Biblioteca Breve, 1985.

Morton, Richard Alan e António Jorge Andrade de Gouveia. “Chromophoric Groups. Part I. Ultra-violet Absorption Spectra of Indene and Certain of its Derivatives.” Journal of the Chemical Society 1934: 911–916.

Morton, Richard Alan e António Jorge Andrade de Gouveia. “Chromophoric Groups. Part II. Absorption Spectra of Naphthalene, Hydronaphthalenes and Related Compounds.” Journal of the Chemical Society 1934: 916–930.

Schön, Karl, António Jorge Andrade de Gouveia e Fernando Pinto Coelho. “Determinações quantitativas da Vitamina A, Ergosterol, Vitamina B2 (lactoflavina) e Vitamina C, por métodos físico-químicos. Estudo do vinho tinto da Bairrada.” Revista da Faculdade de Sciencias da Universidade de Coimbra 8 (1939): 130–147.

Bibliografia sobre o biografado

Carvalho, A. Herculano de. “Discurso de recepção do Prof. Doutor Andrade Gouveia, novo Académico Titular da Cadeira n.º 19.” Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe das Ciências 18 (1975): 51–56.

Costa, António M. Amorim da. “Chemical Science and Education in the University of Coimbra (Portugal) from the thirties to the fifties of the twentieth century.” In Alchemy, Chemistry and Pharmacy, ed. M. Bougard, 169–176. Turnhout: Brepols Publications, 2002.