Figueiredo, Manuel de

Torres Novas ca. 1568 — ca. 1622                                       

Palavras-chave: Cosmografia, náutica, Cosmógrafo-Mor, hidrografia, roteiros. 

DOI: https://doi.org/10.58277/TDMJ4895

Manuel de Figueiredo foi um cosmógrafo português natural de Torres Novas (Santarém) que viveu aproximadamente entre o último quartel do século XVI e o primeiro quartel do século XVII. Além das suas publicações sobre aspetos relacionados com a cosmografia, a navegação, a astronomia e a astrologia, Figueiredo é maiormente conhecido por ter ocupado a prestigiada posição de Cosmógrafo-Mor do reino de forma interina entre 1608 e 1622 (data da sua morte), isto é, uma vez que o Cosmógrafo-Mor oficial, João Baptista Lavanha, se encontrava na corte espanhola ao serviço de Filipe III primeiro e Filipe IV depois (Filipe II e Filipe III de Portugal respetivamente). Após a morte de Figueiredo, Valentim de Sá sucederia-o no cargo, também de forma interina, dada a prolongada ausência de Lavanha.

Figueiredo, como no caso dos seus antecessores no cargo e também dos seus sucessores, deve ter reunido uma série de qualidades específicas. Basta relembrar que a posição de Cosmógrafo-Mor era uma das mais exigentes e de maior responsabilidade que existiram em Portugal ligada ao mundo da náutica durante a época da expansão ultramarina. De fato, este cargo, como muitos outros, foi um efeito das profundas mudanças administrativas e organizativas que sofreram os reinos ibéricos neste período como consequência das viagens oceânicas de longa distância. O Cosmógrafo-Mor, cargo instituído pela Coroa portuguesa em 1547 e ocupado pela primeira vez pelo matemático Pedro Nunes, era alguém que levava a cabo um conjunto muito variado e complexo de funções, para as quais requeriam-se tanto habilidades práticas como conhecimentos teóricos aprofundados. Nesse sentido, pode-se afirmar que o Cosmógrafo-Mor ocupava uma posição que unia dois mundos aparentemente separados, o mundo artesanal e o mundo culto e erudito, o mundo dos homens práticos e o mundo dos homens teóricos. Dadas estas exigências, nem todas as pessoas reuniam as capacidades para tal posição, sendo às vezes muito difícil encontrar a pessoa certa. Em geral, tratava-se de indivíduos com uma sólida formação universitária que eram obrigados, no cumprimento das suas funções, a trabalhar e interatuar com indivíduos e coletivos de diferentes escalas sociais —como no caso dos navegantes, cartógrafos, construtores de instrumentos náuticos, carpinteiros e, mesmo, provedores dos Armazéns – em diversos espaços. Assim ficou estabelecido no Regimento do Cosmógrafo-Mor de 1592 (revisão dum documento de 1559 hoje perdido) e em outra legislação régia coeva. 

O Cosmógrafo-Mor desenvolvia ao mesmo tempo várias tarefas da maior importância: ensinava e examinava pilotos, cartógrafos e construtores de instrumentos nos Armazéns da Guiné e Índia de Lisboa e outras instituições afins; inspecionava a qualidade das cartas e outros instrumentos náuticos; era consultado como especialista técnico; escrevia tratados e manuais de cosmografia e navegação; e até realizava funções de conselheiro científico na corte. Este foi o trabalho de Manuel de Figueiredo durante quinze anos, uma vez que se tornou essencial quer formar de maneira sistemática e regulada o novo pessoal marítimo quer gerir e controlar o enorme fluxo de informação que chegava a Lisboa e que tinha uma enorme relevância política e económica para a monarquia. É óbvio que a versatilidade e capacidades dum Cosmógrafo-Mor foram sempre acompanhadas de certo reconhecimento social. 

Antes de ser nomeado Cosmógrafo-Mor, Figueiredo publicou em 1603 uma Cronografia ou Reportório dos Tempos, que é de fato uma miscelânea de temas pertencentes a várias ciências. Aqui, Figueiredo escreve sobre diversos aspetos da cosmografia, navegação, astronomia e astrologia ao mesmo tempo que oferece explicações sobre o uso de dois instrumentos náuticos—a balestilha e o quadrante—e incorpora um tratado sobre relógios. A seguir a este livro, Figueiredo publicou em 1608, já como Cosmógrafo-Mor, a que é provavelmente a sua obra mais conhecida, a Hidrografia, Exame de Pilotos…, reeditada pelo menos três vezes durante a primeira metade do século XVII em 1614, 1625 e 1632. Esta obra é composta por duas partes claramente diferenciadas. A primeira é um tratado náutico ao estilo dum regimento de navegação ou uma arte de navegar, isto é, aquele conhecimento que um piloto devia aprender. A segunda está destinada à descrição dos roteiros das principais rotas oceânicas dos portugueses e os espanhóis, como as do Brasil, da Guiné, da Índia e do Rio da Prata, entre outras. Em paralelo à segunda parte da Hidrografia, dedicada à arte dos roteiros, no ano seguinte, em 1609, Figueiredo publicou também o Roteiro e navegação das Índias Ocidentais. Junto com a Hidrografia, esta é uma compilação e uma síntese dos roteiros portugueses mais importantes compostos até o final do século XVI. 

Além destas obras, outro tipo de documentos têm sido atribuídos a Figueiredo, especialmente na sua etapa como Cosmógrafo-Mor. Como é o caso dumas instruções náuticas confecionadas para os pilotos da carreira da Índia (Ordem que os Pilotos devem guardar na viagem da Carreira da índia) no início do século XVII que, segundo o historiador Avelino Teixeira da Mota, foram redigidas no contexto organizativo dos Armazéns da Guiné e Índia pelo Cosmógrafo-Mor entre 1608 e 1624 aproximadamente. O documento é composto por catorze instruções que descrevem o processo de recolha e registo de informação desenvolvido pelos navegantes diariamente na sua viagem à Índia. Segundo estas instruções, os pilotos tinham que fazer todos os dias um registo pessoal com os dados recolhidos ao longo da viagem e anotar as novidades nas cartas náuticas. No seu regresso a Lisboa, os pilotos deviam entregar toda esta informação ao provedor dos Armazéns e este por sua vez punha-a à disposição do Cosmógrafo-Mor, que analisava os dados, registava-os nos regimentos náuticos, mandava aos cartógrafos que melhorassem as cartas padrões e transmitia aos futuros pilotos as novidades e as correções durante a sua lição diária de matemáticas.   

Antonio Sánchez
Universidad Autónoma de Madrid

Obras

Figueiredo, Manuel de. Chronographia: reportorio dos tempos, no qual se contem vi. Partes, s. dos tempos: esfera, cosmographia, & arte da navegação, astrologia rustica, & dos tempos, & pronosticação dos eclipses, cometas, & sementeiras. O calendario romano, cõ os eclipses ate 630. E no fim o uso, & fabrica da balhestilha, & quadrante gyometrico, com hum tratado dos relógios / composto por Manoel de Figueiredo natural de Torres Novas. Lisboa: por Iorge Rodriguez: a custa de Pero Ramires, 1603.

Figueiredo, Manuel de. Hidrografia, Exame de pilotos, no qual se contem as regras que todo piloto deue guardar em suas navegações, assi no sol, variação dagulha, como no cartear, com algu[m]as regras da navegação de Leste, Oeste, com mais aureo numero, epactas, marès & altura da estrella pollar. Com os Roteiros de Portugal pera o Brasil, Rio da Prata, Guinè, Sam Thomé, Angolla & Indias de Portugal & Castella. Lisboa: Impresso por Vicente Alvarez, 1614 [1608]. 

Figueiredo, Manuel de. Roteiro e navegação das Indias Occidentais ilhas, antilhas do mar oceano ocidental, com suas derrotas, sondas, fundos, & conhecenças / novamente ordenado segundo os pilotos antigos, modernos, por Manoel de Figueiredo, que serve de cosmographo mor, por mandado de sua majestade nestes reynos, e senhorios de Portugal: dirigido a Dom Carlos de Borga, Conde de Ficalho, do Concelho do Estado da sua majestade. Lisboa: por Pedro Crasbeeck, 1609.

Bibliografia sobre o biografado

Albuquerque, Luís de. “Portuguese books on nautical science from Pedro Nunes to 1650”. Revista da Universidade de Coimbra XXXIII (1985): 259–278.

Matos, Rita Cortez de. “O Cosmógrafo-Mor: o ensino náutico em Portugal nos séculos XVI e XVII.” Oceanos 38 (1999): 55–64.

Mota, Avelino Teixeira da. “Os regimentos do Cosmógrafo-mor de 1559 e 1592 e as origens do ensino náutico em Portugal.” Memórias da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Ciências) Tomo XIII (1969): 1–69.

Vasconcelos, José Augusto do Amaral Frazão de. Subsídios para a história da carreira da Índia no tempo dos Filipes. Lisboa: O Mundo do Livro, 1960.

Viterbo, Sousa. Trabalhos nauticos dos Portuguezes nos sécalos XVI e XVII. Lisboa: Imprensa Nacional, 1890.

Pimentel, Manuel

Lisboa, 10 março 1650 — Lisboa, 19 abril 1719

Palavras-chave: Cosmógrafo-mor, astronomia náutica, ensino, Arte de Navegar.

DOI: https://doi.org/10.58277/ANDI7222

Manuel Pimentel, um erudito ao serviço do rei e da Corte na transição do século XVII para o século XVIII.

Manuel Pimentel (ou Manuel de Pimentel e Vilalobos, de seu nome completo) foi o segundo filho de Luís Serrão Pimentel e de D. Isabel Godines; foi baptizado na freguesia de Santa Justa, em Lisboa, a 20 de março de 1650. Casou em 1689 com sua prima, D. Clara Maria de Miranda, filha de Filipe Serrão Pimentel e de D. Brites Aires Teresa, de quem teve uma filha, D. Brites Teresa Pimentel, e um filho, que lhe sucedeu enquanto cosmógrafo-mor, Luís Francisco Pimentel.

Estudou no Colégio de Santo Antão, onde terá frequentado a Aula da Esfera, sendo que a náutica estava incluída no programa das lições desde o tempo do P. Francisco da Costa, de quem se conhece uma Arte de Navegar, tida como apostilha das suas aulas no Colégio, tal como acontecera com o P. Cristóvão Bruno, que também iniciava as suas lições pela Arte de Navegar. Esta tradição terá sido continuada por Valentim Estancel, sendo possível que, embora muito novo, Manuel Pimentel tenha sido seu discípulo (professorado entre 1660–64, havendo, porém, algumas dúvidas quanto a Estancel ter leccionado também em Lisboa ou se o fez apenas na Universidade de Évora). Também discípulo de seu pai, tal como seu irmão Francisco, Manuel Pimentel desenvolveu a sua obra no domínio da navegação, das matemáticas e da cosmografia.

Demonstrou paralelamente ao ensino uma excelente erudição, fruto de uma educação cuidada, revelando bem cedo a sua capacidade poética e o domínio do latim, ao compor, aos 14 anos a Vida de S. Francisco Xavier. Avançou nos estudos na Universidade e Coimbra, onde se graduou em 1674 em Direito e em Cânones, sendo vontade do pai que ele seguisse a jurisprudência junto da Corte ou a carreira eclesiástica, reservando para o primogénito, Francisco Pimentel, os cargos por si exercidos (cosmógrafo-mor e engenheiro-mor). Cedo, porém, revelou capacidades no domínio da Cosmografia, e, dada a inesperada morte de seu pai e o facto de o irmão não querer o exercício do lugar, foi provido do ofício a 30 de janeiro de 1680, cargo que desempenhou até 27 de fevereiro de 1707, sendo que a propriedade do ofício lhe foi concedida em 1687.

Escreveu Arte Prática de Navegar e Roteyro das Viagens, com duas edições em sua vida, em 1699 e em 1712 (além de ser o responsável pela edição, em 1681, da Arte Pratica de Navegar, trabalho de seu pai, mas em que Manuel acrescentou e atualizou dados e tabelas). Na edição de 1699 são citados Riccioli, Fournier, Pedro Nunes, D. Wright e R. Hues, além de Stevinus, Snelius e Metius. Em 1712 a lista alonga-se com os nomes de Manuel de Mesquita Perestrelo, D. João de Castro, João de Barros e Pedro Nunes; Pedro Apiano e André Cespedes; André de San Martin e os Roteiros de B. Nodal e G. Nodal; Robert Hues; Jean Richier; J. Vossio e o abade Vallemont; J. Richard e R. Norwood e G. Blaeu; E. Halley; G. Tachard, A. Metius, W. Dampier, Cassini, Gassendo, além de Regiomontano, Euclides e Ptolomeu. A edição de 1712 contém, no fim, uma Elegia de 25 dísticos dedicada à Agulha de Marear. Muito do seu trabalho se baseou na herança paterna, bem como em Fournier, especialmente no domínio da Hidrografia, em Clavius, nas questões do calendário e em Riccioli, sobre astronomia e coordenadas das estrelas para a determinação de latitudes; qualquer um destes autores era jesuíta.

Na Arte de navegar e o Roteyro das viagens, surgem, no roteiro das ilhas dos Açores, Cabo Verde, Guiné, Angola, Brasil, Índias Ocidentais e Orientais, Costa de Espanha e Mar Mediterrâneo, descrições que se referem a rotas entre o Rio de Janeiro e Santos e entre Buenos Aires e a costa do Brasil, com referências ao rio S. Francisco do Sul, Guarativa, Paranaguá, Cananea, Iguape e Itanhaem. Esta presença documental certamente tem a ver com o excelente trabalho que Manuel Pimentel realizou enquanto encarregado de estabelecer os limites da colónia do Sacramento sobre o Rio da Prata. Para Luís de Albuquerque, a edição de 1712 da Arte de Navegar, mais completa que a primeira edição do trabalho, permite entender a evolução, em termos de astronomia náutica e marinharia, em relação aos Guias Náuticos de Munique e Évora. A obra demonstra a evolução da marinharia portuguesa em termos não só de técnicas e instrumentos de origem estrangeira como também em termos de suporte teórico. No livro, Manuel Pimentel expõe o recurso à trigonometria e ao cálculo logarítmico para a resolução de problemas de marinharia, devendo tais matérias ser do domínio dos pilotos; para Luís Albuquerque, o livro de Manuel Pimentel é o trabalho mais desenvolvido até então dos publicados em Portugal sobre a prática da navegação, dado que o trabalho de Pedro Nunes apresenta características distintas. A Arte de Navegarconheceu ainda edições em 1746 e 1762, e uma no século XIX, provavelmente em 1819.

O manuscrito Compêndio da Doutrina Esférica, apesar de considerado pelos especialistas como inferior à Arte de Navegar, tornou-se uma obra muito conhecida (como provam também as cópias que subsistiram), incluindo matérias tradicionais de leccionação em Santo Antão, podendo ter sido um dos cursos que leccionou, como era sua obrigação enquanto cosmógrafo-mor, para pilotos, cartógrafos e homens do mar.

Em 1681, e já como cosmógrafo-mor (por nomeação régia em 1679, ainda interinamente, e em 1687 a título definitivo), Manuel Pimentel foi enviado a Elvas, com o P. João Duarte da Costa, matemático, e com os desembargadores Sebastião Cardozo de Sampayo, e Manoel Lopes de Oliveira para conferir, com os geógrafos enviados por Carlos II de Espanha, a fronteira do Brasil a propósito do direito de demarcação entre Portugal e Castela da nova colónia de Sacramento, criada na margem norte do Rio da Prata. O diferendo com os geógrafos espanhóis demorou três meses, com deslocações recíprocas entre Elvas e Badajoz, sendo que Manuel Pimentel produziu documentação cartográfica que estabelecia e clarificava o direito da Coroa portuguesa no território. Esta questão, que eclodiu em 1680, só terminou com a assinatura do Tratado de Madrid em 1750, preparado por Alexandre de Gusmão, e baseado na doutrina, que criou, de Utti possidetis ou uti possidetis iuris.

Em 1684, substituiu o irmão, Francisco Pimentel (que se encontrava em missão militar para servir o exército contra os turcos na Alemanha, na Polónia e na Hungria) enquanto Lente na Aula de Matemática, tal como em 1690, quando Francisco se deslocou a Mazagão para melhorar a fortaleza,  situação que se manteve nas duas décadas seguintes, dadas as constantes deslocações no terreno de Francisco Pimentel. D. João V, em reconhecimento dos serviços prestados por Manuel Pimentel e dos que prestava em nome do irmão, toma-o por fidalgo-cavaleiro de sua Casa em 26 de outubro de 1709.

Em fevereiro de 1714, e considerando-se que era útil ao serviço real ter pilotos com boa formação, pois nisso assentava “ a navegação das conquistas com cujos fructos se sostenta o comercio, e augmentão os cabedais dos vassallos (…)”, foi solicitado a Manuel Pimentel, que ensinasse na Aula Pública a arte de navegação tanto para os homens do mar, para os curiosos e para os aplicados, para poderem participar da sua grande erudição, ainda que a sua carta de ofício não lhe impusesse esta obrigação; foi-lhe acrescentado ordenado, por mercê pessoal do rei, além do que já usufruía como cosmógrafo-mor. Quatro anos depois, em 1718, foi escolhido para Mestre do Príncipe D. José, com lições nos domínios da Geografia e da Náutica.

Aos profundos conhecidos de geografia juntava o domínio de diversos idiomas, nomeadamente latim, castelhano, francês e italiano, a que juntava um profundo conhecimento da literatura clássica. Socialmente, a sua casa era frequentada por alguns dos Grandes do reino, mantendo excelentes relações com os marqueses de Valença e Alegrete e com os condes de Ericeira. E, apesar do desempenho dos cargos, continuou a escrever poesia, nomeadamente Elegias, frequentando tanto a Academia dos Singulares como a Academia Generosos, onde leu especialmente sobre questões de Astronomia, como ainda a Academia de História Portuguesa, com reuniões desde 1717, instalada em casa de D. Francisco Xavier de Meneses, conde de Ericeira, onde leu lições de Filologia e Filosofia Moral; esta última esteve na origem, em 1720, da Academia Real da História Portuguesa. Morreu em abril de 1719, de uma colírica (vómito de cólera), aos 69 anos, e foi sepultado no jazigo da família no claustro do convento do Carmo, em Lisboa. 

Antónia Fialho Conde
Universidade de Évora

Arquivos

Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Mercês de D. João V, Lº 3, ff.. 403-404 (microfilme 1104); Lº 15, f. 419.

Mercês de D. Pedro II, Lº 3, f. 261 v.; f. 409.

Registo Geral de Mercês – Ordens Militares, Lº 8, f. 389v.

Obras:

Manuscritas:

Opuscula Poetica. M.S. (Consta do Poema da Vida de S. Francisco Xavier) 

Colleção de Cartas e Elegias Latinas. M.S.

Licoens Academicas recitadas na Academia dos Generosos, e na Academia Portugueza. M.S.

Viagem desde Lisboa até às ilhas de Timor e Solor (BMBraga, Cód. 600)

Compendio de Doutrina Esférica (BMBraga, Cód. 600; BGUC, Ms. 185: BNP, FG 1867, FG 1552, FG 4322)

Liçoens Academicas sobre a Doutrina de Aristoteles em que se trata do Ceo e Couzas Celestes (BMBraga, Ms. 600; BAj, Ms. 52.V.58))

Impressas:

Arte prática de navegar e regimento de pilotos repartido em duas partes a primeira propositiva em que se propõem alguns princípios para melhor inteligência das regras de navegaçãoa segunda operativa em que se ensinam as mesmas regras para a prática: juntamente os roteiros das navegações das conquistas de Portugal, e Castela. Lisboa: Antonio Craesbeeck de Melo, 1681.

Arte pratica de navegar, e Roteiro das viagens, e costas maritimas do Brasil, Guiné, Angola, Indias, e Ilhas Orientaes, e Occidentaes agora novamente emendado, e acrecentado o Roteiro da Costa da Hespanha, e Mar Mediterraneo. Lisboa: Bernardo da Costa de Carvalho, 1699.

Arte de navegar, em que se ensinão as regras praticas, e o modo de Cartear pela Carta plana, e reduzida, o modo de Graduar a Balestilha por via dos numeros, e muitos problemas uteis à navegação, e Roteiro das viagens, e costas maritimas da Guiné, Brasil e Indias Orientaes, e Occidentaes agora novamente emendadas e acrecentadas muitas derrotas novas.  Lisboa: Officina Deslandiana, 1712.

Arte de navegar em que se ensinam as regras práticas, e os modos de cartear, e graduar a balestilha por via de número e muitos problemas úteis a navegação e Roteiro das viagens e costas marítimas de Guiné, Angola, Brazil, Indias, Ilhas Orientais e OcidentaisNovamente emendado e acrescentado muitas derrotas. Lisboa: Tipografia de Antonio Rodrigues Galhardo, 1819.

Bibliografia sobre o biografado

Albuquerque, Luís de. Arte de Navegar. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1969.

Albuquerque, Luís de. “Manuel Pimentel.” In Dicionário de História de Portugal, ed. Joel Serrão, vol. V: 80. Porto: Livraria Figueirinhas.

Correia, Carlos Alberto Calinas. A arte de navegar de Manuel Pimentel (as edições de 1699 e 1712). Universidade de Lisboa, Dissertação de Mestrado, 2010.

Leitão, Henrique. “Jesuit mathematical practice in Portugal, 1540–1759.” In The New Science and Jesuit Science: Seventeenth Century Perspectives, ed. Mordechai Feingold, pp. Dordrecht: Kluwer, 2003.

Pereira, José Manuel Malhão. “A evolução técnica náutica portuguesa até ao uso do método das distâncias lunares.” In La ciencia y el mar, ed. Maria Isabel Vicente Maroto, Mariano Esteban Piñero, 125–147. Valladolid, 2006.

Lavanha, João Baptista

Lisboa (?), ca. 1555 — Madrid, 31 março 1624

Palavras-chave: Construção naval, Cosmógrafo-mor, Engenheiro-mor, Ciência Náutica.

DOI: https://doi.org/10.58277/SLYU8626

Os dados disponíveis sobre os primeiros anos da vida de João Baptista Lavanha são escassos. Deve ter nascido em Lisboa, por volta de 1555. Oriundo de uma família da nobreza, era filho de Luís Lavanha, escudeiro da corte, e de Jerónima Dácia. Na sua família existiam origens judaicas e raízes em Génova. Também pouco se sabe sobre a sua formação. Vários autores referem que D. Sebastião o teria enviado para estudar em Roma, no entanto, a origem desta informação é pouco consistente. Igualmente são pouco sólidas as referências à possibilidade de ter sido aluno de Pedro Nunes.

A sua carreira de matemático terá começado no reinado de D. Sebastião, provavelmente como professor, na corte. É o próprio Lavanha que refere, no seu testamento, que esteve ao serviço de D. Sebastião e dos Filipes. Quando Filipe II se tornou rei de Portugal, Lavanha deveria gozar já de alguma notoriedade, pois o monarca não hesitou em nomeá-lo para lente de matemática da recém-criada Academia de Matemáticas de Madrid. A Academia foi fundada em finais de 1582 e Lavanha foi o seu primeiro professor de matemática.

A primeira estadia de Lavanha em Madrid começou no início de 1583. Em outubro desse mesmo ano passou a ministrar uma aula de matemática. Lavanha gozava de alguns privilégios em relação aos outros professores. As aulas eram dadas em vernáculo, pelo que era necessário traduzir vários textos clássicos para apoio das mesmas. Lavanha estava dispensado dessa tarefa, o que constituía uma exceção no contexto da Academia. Auferia o segundo vencimento mais elevado entre os professores da mesma, vencendo o dobro daquilo que era recebido por um professor catedrático da universidade. Só Juan de Herrera, o fundador da Academia, ganhava mais que Lavanha. Entre os seus alunos teria algumas figuras de relevo da cultura espanhola. Sabe-se que foi professor de Lope de Vega. Existem alguns autores que referem que teria sido também professor de Cervantes, mas existem muitas dúvidas neste caso, por falta de documentação que o confirme.

Quanto aos conteúdos das suas aulas, Lavanha ensinava essencialmente assuntos relacionados com náutica. As matérias dessas aulas são conhecidas através dos apontamentos manuscritos, que começam com as palavras: Tratado del Arte de Navegar, redigidos por um aluno italiano, Camillo Madea. Nota-se que a grande maioria dos assuntos expostos coincidem com ideias divulgadas por Pedro Nunes nas obras que publicou.

Ainda durante a sua estadia em Madrid foi nomeado engenheiro do reino de Portugal, o que lhe acrescentava duzentos cruzados ao seu vencimento. A escolha dele para este cargo ocorreu em 1586. Apesar de na altura não viver no reino de Portugal, a sua competência dizia respeito apenas a este.

Entretanto, em 1591 regressou a Lisboa, onde permaneceu até 1599, ou 1600, existindo elementos contraditórios sobre o ano em que realmente regressou a Madrid. Lavanha veio tomar conta do cargo de cosmógrafo-mor. Após a morte de Pedro Nunes, em 1578, o cargo foi ocupado por Tomás de Orta. Este já era bastante idoso quando assumiu a função, pelo que a sua atividade foi bastante reduzida. Lavanha começou por ser seu adjunto, em 1591, tendo assumido a titularidade do cargo em 10 de julho de 1596. A sua primeira tarefa foi preparar a reforma do Regimento do Cosmógrafo-mor. O primeiro regimento datava de 1559, quando o cargo era ocupado por Pedro Nunes. Embora se desconheça o texto daquele regimento, consegue-se deduzir muito do seu conteúdo a partir do regimento de 1592, redigido segundo orientações de Lavanha.

Uma explicação para a vinda de Lavanha para Portugal pode ser o facto de o monarca desejar que o cargo de cosmógrafo-mor fosse ocupado por alguém da sua confiança. Outra possibilidade aponta para problemas que teve na corte, pelo facto de ser cristão-novo. O próprio Lavanha informa que veio para Portugal por ordem de Filipe II, podendo tal ter sucedido porque o rei queria afastá-lo do ambiente hostil em que vivia. Quando o rei morreu, Lavanha regressou a Madrid. Durante a sua estadia em Portugal casou com D. Leonarda de Mesquita, com quem teve vários filhos. 

Como cosmógrafo-mor foi responsável pelo primeiro “manual de navegação”, na forma impressa, com conteúdos adequados à prática dos pilotos. O Regimento Náutico, que conheceu duas edições, em 1595 e 1606, continha as regras práticas de navegação, que circulavam manuscritas, entre os pilotos, nos chamados “Livros de Marinharia”. Lavanha refere, nos proémios da obra, que o seu texto não se destina a matemáticos, sendo dedicado aos práticos do mar e portanto os seus conteúdos são adequados aos conhecimentos destes, simplificando diversos procedimentos, para os tornar acessíveis aos pilotos.

Durante a sua estadia em Lisboa foi responsável pelo exame de diversos pilotos e mestres de navios, assim como pela certificação de cartas e instrumentos náuticos. Esta era uma das principais incumbências do cosmógrafo-mor, responsável por garantir que os principais oficiais de mar eram competentes nas suas funções. Dirigiu trabalhos de levantamento hidrográfico da barra do Tejo, para controlar se a mesma estava a assorear. Por volta de 1600 voltou para Madrid ficando em terras espanholas praticamente o resto da sua vida, regressando apenas uma vez a Portugal. Apesar disso manteve sempre a titularidade do cargo de cosmógrafo-mor. No entanto, dada a sua ausência prolongada, em 1608 foi nomeado Manuel de Figueiredo como cosmógrafo-mor substituto. Pela morte deste em 1622, foi escolhido Valentim de Sá, para o mesmo cargo.

Por volta de 1600 redigiu o Livro Primeiro de Arquitetura Naval. O texto encontra-se na Real Academia de la Historia de Madrid. É o segundo texto escrito em português sobre construção naval, o primeiro foi o Livro da Fábrica das Naus, de Fernando Oliveira. A data exata da redação do manuscrito de Lavanha não se conhece. No entanto, em 1597 Lavanha escreveu o relato de um naufrágio: Naufrágio da nau “S. Alberto”, que veio a ser incluído na História Trágico Marítima. Mais ou menos na mesma altura redigiu ainda um parecer sobre o mesmo naufrágio. Nestes dois textos aborda diversas questões relacionadas com construção naval. Diversas evidências apontam para que o Livro Primeiro de Arquitetura Naval tenha sido escrito mais ou menos na mesma altura, uma vez que existe uma ligação entre os três textos. 

No início do século XVII, Lavanha foi enviado à Flandres, ao serviço do monarca, para recolher elementos de cariz histórico. Nesta primeira década de Seiscentos terá levado a cabo tarefas bastante diversificadas. Em 1606 iniciou os trabalhos tendentes a assegurar a navegabilidade do rio Douro, do seu afluente Pisuerga, e do Esgueva, afluente deste último e que nele desagua em Valhadolid. Se o projeto se tivesse concretizado, ficava garantida a navegação desde esta cidade castelhana até ao mar. Durante a realização deste projeto, Lavanha viveu em Valhadolid, existindo diversos documentos seus assinados neste local. 

Apesar de Lavanha viver fora do reino de Portugal, a sua ligação a este era bastante forte. No mesmo ano de 1606 passou a estar ao serviço do Duque de Aveiro, mantendo esta relação por vários anos. Também desta primeira década de 1600 são dois pareceres, adiante explicados, onde assume claramente uma postura a favor dos interesses de Portugal, em oposição aos de Castela. Tal facto não diminuiu a consideração que o monarca tinha por ele. Por volta de 1607 recebeu o hábito de Cristo, a que correspondia uma tença de 20 000 réis. Numa carta real datada de 10 de Abril de 1607 é mencionada a necessidade de uma dispensa para lhe atribuir esta mercê, uma vez que Lavanha era descendente de “nação hebraica”.

O primeiro dos pareceres acima mencionados prende-se com a validade de um processo proposto por Luís da Fonseca Coutinho para determinação da longitude no mar a partir do valor da declinação magnética. No início do século XVI tinha sido desenvolvida uma hipótese que defendia a existência de uma correlação entre longitude e declinação magnética. Conhecendo esta última podia determinar-se aquela. A mais antiga explicação desta teoria aparece no “Tratado da Agulha de Marear” de João de Lisboa. Apesar de D. João de Castro ter demonstrado, na sua viagem de 1538 para a Índia, que este método estava errado, o mesmo continuou a ter vários defensores. Foram apresentadas inúmeras propostas para encontrar a longitude pela “agulha fixa”.

Luís da Fonseca Coutinho apresentou, por volta de 1605, na corte de Madrid, uma solução para o problema da longitude, que se baseava no pressuposto acima referido. Foi nomeada uma comissão para avaliar esta proposta, sendo Lavanha um dos seus membros. O cosmógrafo-mor foi um acérrimo defensor da validade da mesma. Diversos autores consideram que tal aconteceu porque o proponente era português. Foi realizada uma viagem de Acapulco a Manila, para testar o processo, não dando, obviamente, os resultados esperados. Com o passar do tempo, Lavanha deixou de defender esta teoria.

A outra questão onde Lavanha assume uma atitude de defesa dos interesses de Portugal, está relacionada com a localização das ilhas Molucas. O Tratado de Tordesilhas dividiu o mundo em duas esferas de influência, uma portuguesa e outra para Castela e Aragão. O tratado definia apenas um meridiano que passava 370 léguas a Oeste de Cabo Verde. No entanto, importava saber qual era o limite no “outro lado” do mundo, ou seja, onde passava o “antimeridiano” de Tordesilhas. O arquipélago das Molucas, no Pacífico, situa-se nessa zona. Sendo as ilhas ricas em especiarias, era importante definir se as mesmas pertenciam a Portugal ou a Castela/Aragão. O objetivo da viagem de Fernão de Magalhães era demonstrar que as mesmas pertenciam a Castela, mas foi inconclusiva a esse respeito. A questão foi resolvida pelo Tratado de Saragoça, de 1529, ficando Portugal com o direito às ilhas, mediante o pagamento de um determinado valor.

Em 1606 a questão reacendeu-se, apesar de ambos os reinos terem o mesmo monarca. Uma esquadra luso-castelhana expulsou os holandeses da ilha de Ternate, surgindo a dúvida sobre quem deveria ocupar as mesmas, se os portugueses ou os castelhanos? Foi então pedido um parecer a Lavanha sobre a localização das ilhas. Entretanto, nesse mesmo ano de 1606, Andrés García de Cespedes publicara a sua Hidrografia, segunda parte do seu Regimiento de navegación, onde defendia que as Molucas estavam no hemisfério de Castela. O parecer de Lavanha procurou rebater a opinião de Céspedes. Para tal indicou as distâncias percorridas até chegar ao arquipélago, baseando-se em dados fornecidos por pilotos e usando inclusivamente alguma informação do próprio Céspedes.

No início do século XVII surgem dois conceitos importantes para a náutica, que geralmente são atribuídos a Lavanha: as tabelas de amplitudes e os troncos particulares de léguas. Seguidamente serão explicados ambas as ideias e os eventuais contributos de Lavanha.

O conhecimento da declinação magnética em cada local era uma das preocupações dos pilotos, pelo menos a partir do início do século XVI. Por esse motivo foram sugeridas diferentes propostas para a sua determinação, nomeadamente pela observação da direção da estrela Polar, ou então da bissetriz do ângulo formado pelas direções do Sol no nascimento e ocaso, o que implicava duas observações consecutivas do Sol, uma em cada um daqueles momentos.

No entanto, a declinação magnética pode ser conhecida fazendo apenas uma observação do Sol, no nascimento ou no ocaso. Este astro nasce numa direção próxima de Leste e põe-se aproximadamente a Oeste. Chama-se amplitude (ortiva, no nascimento; ou occídua, no ocaso) ao ângulo entre o nascimento, ou ocaso do Sol, e a direção Leste ou Oeste. O valor da amplitude varia em função da latitude do observador e da declinação do Sol. Pedro Nunes explicou esta relação e ensinou a calcular o valor da amplitude.

Nunes não apresentou tabelas com valores da amplitude, mas no início do século XVII passaram a ser comuns estas tábuas em textos de navegação, destinados a pilotos. Não se pode confirmar que as primeiras tabelas tenham sido calculadas por Lavanha. No entanto, num regimento para uma viagem realizada em 1608, surge a indicação de que deveriam ser usadas tábuas por ele calculadas. O referido regimento contém uma série de instruções para que o licenciado Gaspar Jorge do Couto realizasse diversas experiências numa viagem para o oriente. Algumas dessas experiências destinavam-se a testar a proposta de Luís da Fonseca Coutinho, portanto era fundamental o conhecimento da declinação magnética.

No mesmo regimento, dado ao referido licenciado, surge a indicação que deveria usar os troncos particulares de léguas que Lavanha lhe dera. A partir desta referência, alguns autores atribuíram a Lavanha a invenção dos troncos. Não existe nenhuma evidência de que tenha sido ele o primeiro a propô-los. Os troncos já aparecem explicados num texto de García de Céspedes, datado de 1606. O que importa reter é que praticamente na mesma altura, Lavanha conhecia esta técnica inovadora e propôs a sua utilização.

O que eram os troncos particulares de léguas? As cartas apresentam sempre distorções, resultantes da planificação de uma superfície esférica. Nesta superfície, os meridianos convergem todos nos polos e esta convergência não era considerada nas cartas da época dos descobrimentos. Estas possuíam sempre uma escala graduada, conhecida por tronco (ou petipé) das léguas, que servia para marcar as distâncias percorridas, em qualquer direção. No entanto, devido à convergência dos meridianos, a distância entre quaisquer dois destes meridianos vai diminuindo conforme a latitude aumenta. Pedro Nunes identificou estes problemas e sugeriu a forma de os ultrapassar. Em 1569, Mercator apresentou o primeiro mapa na projeção que recebeu o seu nome e que considerava a convergência dos meridianos. Contudo, o processo de introdução desta projeção na náutica foi lento, pois a mesma implicava uma mudança significativa da prática dos pilotos. Estes preferiam usar alternativas que permitiam minimizar os erros na marcação de distâncias, sem necessitarem de alterar o modo como conduziam os navios. Os troncos particulares de léguas consistiam num conjunto de escalas, destinadas a marcar a distância navegada ao longo dos paralelos, variando o comprimento das escalas em função da latitude. 

Em 1610 iniciou os trabalhos de campo para a elaboração do Mapa de Aragão, tendo terminado os mesmos no ano seguinte. O mapa corresponde a um desejo antigo das elites daquele reino. O manuscrito do mapa foi entregue em 5 de setembro de 1615, sendo aprovado em abril de 1616. Lavanha iniciou logo a gravação do mapa em sua casa. Dadas as inúmeras ocupações de Lavanha, o processo demorou bastante tempo, tendo motivado protestos por parte dos deputados de Aragão. No entanto, foi uma obra exemplar, tendo conhecido onze edições até 1777. Durante a execução dos trabalhos de campo, Lavanha recolheu dados para elaboração de um Itinerario del Reino de Aragón. O original manuscrito, redigido em português, perdeu-se mas existe uma cópia também manuscrita do mesmo. Em 1895 foi publicado com o texto em castelhano.

Mais ou menos na mesma altura em que terminou a versão manuscrita do Mapa da Aragão, em 1615, assumiu a finalização da Década Quarta de João de Barros. Nesta obra incluiu cartas de Java, Guzerate e Bengala. As mesmas foram elaboradas com base em dados obtidos por via indireta, pois não se tem notícia que Lavanha alguma vez tenha saído da Europa. 

Além da Academia de Matemáticas, Lavanha também deu aulas particulares na corte, nomeadamente aos príncipes reais e a outros notáveis da nobreza. Alguns dos seus textos manuscritos foram redigidos para apoio das referidas lições.

Além dos estudos no âmbito da matemática, cosmografia, náutica, cartografia e engenharia, Lavanha também se dedicou a questões nos campos da história e da genealogia. Esta faceta destacou-se especialmente nos anos finais da sua vida. Em 1618 foi nomeado cronista-mor do reino de Portugal, e a partir daí os seus textos centram-se nestas temáticas, embora já anteriormente tivesse feito investigações nessas áreas, normalmente por solicitação daqueles que patrocinavam os seus trabalhos. Foi na qualidade de cronista-mor que, em 1619, regressou a Portugal, acompanhando Filipe III (segundo de Portugal) na viagem que este fez a este reino, tendo publicado, em 1622, uma descrição dessa viagem. 

Lavanha morreu em Madrid, no derradeiro dia de março de 1624.

António Costa Canas

Obras

Lavanha, João Baptista. Descripcion del universo. Madrid, Biblioteca Nacional de Madrid, Códice 09251.

—. Juan Bautista Lavaña, Itinerario del Reino de Aragon. Ed. por Faustino Sancho y Gil. Zaragoza: Diputaciôn Provincial de Zaragoza, 1895.

—. Regimento náutico. Lisboa: Em casa de Simão Lopes, 1595.

—. Regimento que deve guardar o L.do Gaspar Jorge do Couto na viagem que ora vay fazer a India por mandado de Sua Mag.de. Lisboa, Biblioteca da Ajuda, Códice 51-VII-11, fls. 84-86.

—. Regimento das agulhas fixas de Luis da fonseca Coutinho. Lisboa, Biblioteca da Ajuda, Códice 51-VII-11, fls. 63-63vs.

—. Regimento do que ha de fazer o Piloto que for a India na Nao Hollandesa. Lisboa, Biblioteca da Ajuda, Códice 51-VII-11, fls. 91-91vs.

—. Regimento do Instrumento pa saber por elle a altura a qualquer ora do dia, que aja sol. Lisboa, Biblioteca da Ajuda, Códice 51-VII-11, fls. 63vs-64.

—. Regimento que parece se deve guardar no descobrimento e descripção da costa do cabo negro té o de boa esperança. Lisboa, Biblioteca da Ajuda, Códice 51-VII-11, fls. 160-161.

—. [Resposta de João Baptista Lavanha ao papel que deu Gaspar Manuel sobre a agulha fixa, datada de 15 de Fevereiro de 1608]. Madrid, Real Academia de la Historia, Colecção Salazar y Castro, Mss. N63, fls. 29-32.

—. Tratado del arte de navegar. Madrid, Biblioteca do Palácio Nacional, Códice 1910, fls. 20-45.

Bibliografia sobre o biografado

Canas, António Costa. “A obra náutica de João Baptista Lavanha (c. 1550-1624)”, Dissertação de doutoramento, Universidade de Lisboa, 2012.

Domingues, Francisco Contente. “João Baptista Lavanha e o ensino da náutica na Península Ibérica”.In As novidades do mundo. Conhecimento e representação na Época Moderna. Maria da Graça Mateus Ventura e Luís Jorge Semedo de Matos [org.] Lisboa: Edições Colibri, 2003, pp. 115–143.

Domingues, Francisco Contente. Os navios do mar oceano. Teoria e empíria na arquitectura naval dos séculos XVI e XVII. Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa, 2004.

Esteves, Carina Raquel Antunes. “O Livro Primeiro de Architectura Naval de João Baptista Lavanha e a arquitectura naval ibérica no final do século XVI, princípios do XVII: o perfil do arquitecto naval”, Dissertação de mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011.Mota, Avelino Teixeira da, “O cartógrafo João Baptista Lavanha e a sua obra”. In Portugaliae Monumenta Cartographica. Vol. IV. Lisboa: Imprensa Nacional–Casa da Moeda, 1960, pp. 63–68.